Nascido na pequena cidade de Loanda, ao noroeste do estado do Paraná, Wuelton Marcelo Monteiro mudou-se ainda criança para a diminuta cidade de São José do Patrocínio, na mesma região. Da infância, guarda um arrependimento: “Vejo que brinquei menos do que deveria. O tempo que tinha, estava com um livro na mão, chegando a irritar minha mãe, que me mandava parar de ler um pouco e ir brincar, mas achava ler mais divertido”, conta ele. Mesmo assim, era para estar com os primos que deixava os livros um pouco de lado, para tomar banhos de rio ou jogar bétis, como chamam no Paraná a brincadeira com tacos herdada do críquete.
Wuelton era aplicado nos estudos, se dedicando especialmente a geografia, química e biologia, suas matérias preferidas, mas deu trabalho a alguns professores pelas conversas paralelas em sala de aula. Por fora da grade curricular do colégio, dedicava-se a estudar por si mesmo botânica, e até hoje pesquisa línguas latinas, desejando dominar ao menos as principais.
Aos 16 anos, mudou-se sozinho para a cidade de Maringá, para concentrar-se no vestibular e passou em primeiro lugar para a licenciatura em química na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sabia que a novidade encheria de orgulho os pais, que vinham de famílias humildes e trabalhavam como agricultores.
No terceiro ano da graduação, Wuelton conheceu a química orgânica e a fisiologia, e se apaixonou. Decidiu enveredar por um caminho que lhe permitisse cruzar a química com a biologia. Ingressou, assim, no curso de farmácia-bioquímica, também na UEM. “Acredito que acertei na escolha da carreira, que é muito ampla e dá a possibilidade de avançar na pesquisa em diversas áreas, seja em tecnologia ou em pesquisa sobre mecanismos de doenças e saúde pública.
Em seus estágios no Laboratório de Imunologia Clínica, trabalhando com sorologia de cães com suspeita de leishmaniose e, depois, no de Parasitologia Básica, Wuelton se deu conta da dupla função de professor de pesquisador requerida pelas universidades. No laboratório de parasitologia, ele também desenvolveu sua pesquisa de mestrado, sobre epidemiologia da leishmaniose e seus vetores, sob orientação do professor Ueslei Teodoro. O doutorado foi concluído pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), com a orientação da professora Maria das Graças Vale Barbosa. Ainda no doutorado, Wuelton começou a lecionar epidemiologia na UEA. Hoje, ele é coordenador do Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da universidade.
Atualmente, Wuelton Marcelo Monteiro realiza pesquisa ligada às doenças tropicais negligenciadas, especialmente malária, e acidentes por animais peçonhentos. Defende que o objetivo de sua pesquisa é demonstrar a importância dessas doenças para o subdesenvolvimento. “Sem essa informação, dificilmente consegue-se a devida atenção do poder público e privado para a adoção de programas de prevenção e tratamento que melhorem a vida das populações desfavorecidas”, ressalta.
Além dos estudos, Monteiro tem carinho especial pela formação de pessoas e busca sempre conciliar a orientação de mestrandos e doutorandos com seu trabalho no laboratório. “O que me encanta na ciência, de forma geral, e especificamente nas linhas que escolhi, é ver seus resultados impactando na melhoria do atendimento da população”, explica ele.
Com o título de membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências, o bioquímico pretende aproximar-se de outros pesquisadores e divulgar a importância da ciência no país. Ele vê a eleição como um incentivo para continuar produzindo mais conhecimento. “Ser escolhido para a ABC é um indicativo de que estou na rota correta, mas uma responsabilidade para melhorar a qualidade”, observa.