Por conta da realização da Assembleia Geral da Rede Interamericana de Academias de Ciências (Ianas) no Rio de Janeiro, a Reunião Magna da Academia Brasileira de Ciências (ABC) contou com uma sessão especial dedicada à rede. A 10ª edição da Reunião Magna, que comemorou o centenário da ABC, aconteceu entre os dias 4 e 6 de maio, no Museu do Amanhã.

Ianas é uma rede regional de academias de ciências criada para apoiar a cooperação nas Américas, visando o fortalecimento da ciência e da tecnologia como ferramentas para o avanço da pesquisa e desenvolvimento, prosperidade e igualdade na região. A Ianas conta atualmente com 18 membros, representantes dos países das Américas do Norte, Central, Sul e Caribe.
 
Ianas lança revista internacional sobre mulheres na ciência

Na sessão da Reunião Magna, representantes dos programas promovidos pela rede apresentaram informações relativas aos respectivos temas: Águas, Educação Científica, Energia e Mulheres para a Ciência. O momento dedicado a Ianas contou, ainda, com o lançamento da revista “Jovens mulheres cientistas: um futuro brilhante para as Américas”, que traz histórias de pesquisadoras jovens que optaram por seguir a carreira científica, uma de cada país do continente americano – do Canadá ao Chile, incluindo o Caribe.
O lançamento teve a participação de Solange Binotto, pró-reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão do Centro Universitário Franciscano, que representou o Brasil nesta publicação, e de Carolina Horta, vencedora do Prêmio LOréal-Unesco-ABC Para Mulheres na Ciência 2014 e do International Rising Talents, além de membro afiliado da ABC no período 2016-2020. A coordenação da sessão foi da Acadêmica e professora de física da UFRGS Marcia Barbosa (foto ao lado), ganhadora do prêmio internacional L’Oréal-Unesco For Women in Science 2013 e militante ativa pelo incentivo às mulheres romperem as barreiras impostas ao gênero.
 
 
O Programa Women For Science da Ianas visa estimular a participação das mulheres na ciência, área cuja presença de profissionais do gênero feminino ainda é baixa. Por isso, lançou a revista, que pode ser baixada nas versões em inglês e espanhol no site da Ianas. Como mostrou a representante do programa, Frances Henry (foto à esquerda), o número de mulheres nas Academias das Américas é baixo, com uma média de 18%. A Academia que tem a maior porcentagem de membros do gênero feminino é a de Cuba, com 27%, e a que tem menos é a da Bolívia, com 8,5%. Como revela a tabela abaixo, a Academia Brasileira de Ciências tem 12,65% de presença de mulheres entre seus membros.
 
“Temos que lutar e nos inserir na pesquisa, conclamou Solange Binotto, cujo trabalho de mestrado foi o primeiro do mundo na área de nanotubos de silício. A física também foi uma das vencedoras da primeira edição do Prêmio L’Oréal-Unesco-ABC Para Mulheres na Ciência, em 2006. Ela contou como é importante o apoio da família e do meio acadêmico para que as mulheres possam se posicionar. “É preciso desmistificar a ciência, que pode, sim, nos projetar de uma forma bastante rápida, diferentemente de outras profissões.”
 
“Precisamos estimular as meninas a não desistirem das carreiras científicas, porque é realmente difícil conciliar todas as atividades, mas devemos persistir no sonho”, acrescentou Carolina Horta (foto à esquerda). Marcia Barbosa prometeu mais novidades de IANAS na área de mulheres na ciência: “Vamos sacudir a comunidade.”
 
A preocupante situação dos recursos hídricos no mundo

A diretora da Divisão de Ciências da Água de IANAS e secretária do Programa Hidrológico Internacional da Unesco, Blanca Gimenez, falou sobre os desafios mundiais na área de segurança hídrica, apresentando alguns dados significativos. Ela afirmou que 85% da população humana vive em áreas áridas e, até 2030, metade das pessoas viverá em locais de alto estresse hídrico.
 
Além disso, de 6 a 8 milhões de pessoas morrem anualmente por conta de desastres e doenças relacionados a água. Blanca informou, ainda, que 750 milhões de pessoas tem falta de acesso a água de boa qualidade, e 2,5 bilhões não têm acesso a um saneamento adequado. A situação mundial é, portanto, preocupante. A palestrante também apontou que 145 nações têm bacias hidrográficas transfronteiriças e há, pelo menos, 592 aquíferos compartilhados por alguns países. “Temos que saber como dividir essa água e manejá-la corretamente”, alertou.
 
Na América Latina, 142 milhões de pessoas vivem em áreas de escassez de água, apesar de a região deter 33% da água potável mundial. “A água é peça chave para a economia regional, toda a agroindústria e os principais produtos exportados dependem diretamente dos recursos hídricos”, disse Blanca. “Os cientistas precisam se comunicar melhor com os governantes de modo a prover a eles o conhecimento necessário e uma mensagem significativa para que possam tomar decisões.”
 
Educação e energia sustentável nas Américas

Carlos Bosch, do Programa de Educação Científica de Ianas falou sobre a situação complicada da educação na América Latina, representada por resultados não satisfatórios no PISA (o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). “A maioria dos nossos jovens não têm a capacidade de resolver problemas com algoritmos básicos. Muitas vezes, eles sequer sabem como operar corretamente esses algoritmos”, lamentou.
No México, mais de 50% dos estudantes da sexta série que participaram de uma avaliação em 2012 responderam incorretamente às questões relacionadas à resolução de divisão. “Mas não devemos trabalhar apenas para obter bons resultados nessas avaliações. Precisamos buscar um sistema de ensino de boa qualidade, o que, consequentemente, levar a melhores resultados nas avaliações nacionais e internacionais.”
O representante do Programa de Energia de Ianas, John Millhone, mostrou a nova publicação que resultou das atividades do grupo. O livro, intitulado “Guia de orientações para um futuro de energia sustentável para as Américas” (em tradução livre), traz importantes contribuições para o entendimento dos desafios energéticos do continente. “Trata-se de um trabalho de Ianasmuito importante para o futuro”. É possível baixar em PDF nas versões em inglês e espanhol.
Entre os temas aprofundados pela publicação, estão a eficiência energética nas Américas; a energia como forma de atender às populações carentes; as imensas oportunidades da energia renovável com exemplos do Chile, México, Cuba e Argentina; a relação entre questões de gênero, energia e água; e a bioenergia.