Importantes pesquisas relacionando características do cérebro e o processo de aprendizado foram apresentadas no Simpósio Internacional sobre Ciência para Educação, que aconteceu em julho, no Rio de Janeiro. O encontro foi um evento satélite do Congresso Mundial do Cérebro (IBRO 2015), que teve como um dos organizadores o Acadêmico Roberto Lent e contou com o apoio do Instituto Ayrton Senna, organização sem fins lucrativos que trabalha para ampliar as oportunidades de crianças e jovens por meio da educação. .
Aprendendo com os bebês
A pesquisadora da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, Patricia Kuhl, apresentou seus estudos sobre o cérebro dos bebês e como se dá o aprendizado de idiomas nos primeiros meses de vida. Segundo Patricia, que é membro da National Academy of Sciences, o aprendizado de uma segunda língua não é equivalente durante toda a vida, de modo que as crianças de zero a 5 anos aprendem com muito mais habilidade e, a partir dos 7 anos, há um decréscimo. Com 19 anos, essa capacidade reduz bastante.
“Nos primeiros seis meses, os bebês são cidadão do mundo, capazes de perceber qualquer som apresentado a eles e ouvir todas as distinções”, afirmou Patricia. Por isso, o jeito que os adultos costumam falar com bebês, com altos e baixos, é muito importante. Eles preferem essa linguagem mais lenta, que facilita que o cérebro capte o que está sendo dito. Assim, é essencial essa comunicação com os bebês, de modo a estimulá-los, pois o cérebro deles está tentando responder. “Quando falamos com eles, eles querem falar de volta.”
Plasticidade do cérebro
Fernanda Tovar-Moll, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretora do Instituto DOr de Ensino e Pesquisa (Idor), apresentou seus estudos sobre a plasticidade do cérebro. “Não sabemos tudo sobre a evolução do cérebro, mas o que é bem aceito é que, para ter essa variedade grande do repertorio de funções, o cérebro deve se desenvolver em uma rede eficiente, que pode ser medida; podemos mapear suas atividades”, afirmou.
Segundo Fernanda, subestimamos a habilidade do cérebro de modificar a sua estrutura, mas a plasticidade nem sempre é boa. “Há exemplos de má adaptação da plasticidade, como por exemplo, quando a pessoa tem um membro amputado, mas continua tendo a sensação de que ele está ali, sentido dor etc.”
Há, no entanto, exemplos bons, como no caso de alunos de 60 ou anos ou mais que aprendem habilidades motoras complexas. E a aquisição de habilidades está relacionada à plasticidade do cérebro. “Idosos são capazes de aprender.” Esse tipo de estudo é importante para identificar mudanças funcionais no cérebro e também por que algumas pessoas aprendem e outras não. “Assim, podemos pensar em estratégias para ajudá-las.”
A pesquisa de Fernanda busca entender de que maneira ocorrem os diferentes graus de reorganização do cérebro. Para isso, estudaram, por exemplo, pacientes com disgenesia do corpo caloso, ou seja, que nasceram sem o corpo caloso, mas que, ainda assim, são capazes de manter algum grau de comunicação entre os dois hemisférios, o que é um sinal de neuroplasticidade clínica.
Memória e esquecimento
O ex-membro afiliado da ABC Martin Cammarota, professor titular do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), apresentou seus estudos sobre a persistência da memória, que procuram responder questões como: é possível aumentá-la? É possível modificar um traço de memória já bem consolidado?
Cammarota afirmou que a resposta é sim para as duas perguntas, conforme pesquisas feitas com modelos animais que analisaram a influencia da dopamina, que controla o armazenamento da memória dos mamíferos no cérebro.
A hipótese do pesquisador, a partir de experimentos com ratos, é que a extinção de memória – por exemplo, o esquecimento de informações durante o sono – não é meramente um esquecimento, mas, na verdade, a substituição daquela memória por outra, recentemente adquirida, que compete com a primeira para determinar o comportamento humano. Cammarota espera que, futuramente, esses estudos possam ser desenvolvidos em humanos.
Valores sociais como forma de promover a educação
Já o ex-membro afiliado da ABC Jorge Moll Neto, do IDOR, apresentou a relação entre os valores sociais e o cérebro e como eles podem ajudar a promover a educação. Segundo Neto, essa já era uma discussão presente na época da secularização da educação na França, quando a moral passou a ter relevância e questionou-se como ensinar valores para as crianças sem ter que passar pela religião.
De acordo com o pesquisador, as ações humanas são conduzidas pela motivação, buscando atingir um objetivo, que está relacionado a diferentes valores. Valores morais motivam comportamentos morais, apontou. “Os valores morais são diferentes dos outros, como os econômicos e os estéticos, porque estão ligados ao bem estar dos indivíduos.”
Neto explicou que as boas ações, como doações de caridade, são movidas pelo sistema de recompensa do cérebro, o mesmo que é ativado em situações de prazer, como comer chocolate, fazer sexo ou ganhar dinheiro. Assim, esse tipo de conhecimento, informou, pode ser melhor explorado para aprimorar o processo educacional.