A depressão é um dos transtornos psiquiátricos que afetam significantemente a população brasileira. Por isso, investigar os diferentes marcadores genéticos e bioquímicos presentes na sua forma de manifestação é o foco da pesquisa da Dra. Manuella Pinto Kaster, que com a ajuda do Prêmio Para Mulheres na Ciência 2014 busca aprimorar a capacidade de diagnóstico desse transtorno e facilitar o futuro desenvolvimento de tratamentos mais eficazes, já que apenas 60% dos pacientes respondem aos medicamentes disponíveis atualmente.

Sua estratégia também visa prevenir, predizer e personalizar intervenções na área de saúde mental e reduzir o imenso sofrimento e sobrecarga que as doenças causam ao indivíduo. Profissionalmente, meu sonho é conseguir transformar os resultados do meu trabalho em algum tipo de intervenção que melhore a identificação e diagnóstico dos transtornos psiquiátricos ou a qualidade de vida dos pacientes”.

Segundo Manuella, a grande dificuldade enfrentada atualmente está na falta da compreensão das causas biológicas da doença e de um consenso no diagnóstico. “Os sintomas muitas vezes contrastantes, aliados às comorbidades, ou seja, outras doenças associadas, tornam a depressão uma doença de manifestação heterogênea e de difícil caracterização, contribuindo para as falhas no tratamento e baixa remissão de sintomas”, conta Manuella. Alguns de seus sintomas particulares, como a disfunção cognitiva, as alterações no sono e no ritmo biológico e a presença ou ausência da anedonia, que significa a perda de interesse ou satisfação em quase todas as atividades, podem variar bastante entre os pacientes.
Por esse motivo, o projeto foca na investigação dos diferentes marcadores, tanto genéticos quanto bioquímicos, capazes de auxiliar na caracterização desses sintomas específicos da depressão, o que para Manuella representa mais do que um objetivo, mas a conquista de um sonho que alimenta desde sua graduação em Ciências Biológicas, na Universidade Federal de Santa Catarina. Ao visitar o laboratório de Neurobiologia da Depressão da faculdade pela primeira vez, descobriu que o estudo das bases biológicas dos transtornos mentais era sua paixão. A partir de então focou seus estudos nessa área, aprimorando os conhecimentos com um doutorado sanduíche na UFSC e na Universidade de Coimbra, em Portugal, seguindo para um pós-doutorado em Coimbra e em Cambridge, no Massachusetts Institute of Technology. Atualmente, com 31 anos, é professora do Departamento de Bioquímica da UFSC, onde, com a ajuda do Prêmio, montará seu próprio grupo de pesquisa para colocar o projeto em prática.
Apesar de consumir a maior parte do seu tempo, o amor pela neurociência e pela vida acadêmica proporciona à Manuella diversas experiências incríveis através das viagens que faz pelo mundo. Só na Europa já conheceu quase dez países. Nessa lista de destinos também estão Estados Unidos, Argentina, Uruguai e Peru. Seu próximo rumo agora deve ser o Chile, um dos países que sempre teve interesse de conhecer.