Na abertura do Simpósio Internacional sobre Excelência no Ensino Superior, promovido entre 22 e 24/9 pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) Clélio Campolina cumprimentou a mesa, especialmente o presidente da ABC Jacob Palis, ”que está fazendo um brilhante trabalho à frente da Academia”, e o presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) Jorge Guimarães, ”um baluarte da educação, que mudou a cara da pós-graduação brasileira”.
Campolina disse que falaria como economista, como ministro e como ex-reitor da UFMG. Como economista, começou revisitando a literatura do século XIX, quando ciência e tecnologia (C&T) não estavam articuladas de maneira direta. Com o desenvolvimento da química, da física e da biologia atrelou-se então a ciência ao desenvolvimento tecnológico. ”Hoje em dia, não é mais concebível o desenvolvimento da ciência sem uma base tecnológica forte”, afirmou. Ele destacou que ao observarmos como evoluiu a base acadêmica e universitária no mundo, vemos que o país que liderou o desenvolvimento científico também liderou o desenvolvimento econômico – atualmente os EUA e, antes, a Alemanha. ”Os países cujos padrões produtivos estão alicerçados em C&T acabam liderando a hegemonia política e até militar – o que é indesejável, quando a ciência e usada para fins não pacíficos.”
Nos rankings de excelência universitária, das 20 melhores universidades do mundo 15 ou 16 estão nos EUA. ”Mas estamos assistindo um fenômeno novo – uma profunda e rápida mudança na ordem global.” Campolina relatou que essa mudança começou com a crise soviética, seguida pela crise na Europa e pela emergência da Ásia. ”Além do Japão, que já tinha um peso de destaque, emergiram a China, a Coreia, Singapura e outros países. O que começou com o G6 agora é o G20, existem novas forças mundiais”, salientou o ministro. A expansão acelerada dessas economias emergentes, de acordo com Campolina, envolveu uma profunda mudança na estrutura universitária desses países, com bases científicas de excelência. ”Os produtos chineses que eram de baixa qualidade, não são mais. Obviamente não é fácil desbancar os o sistema americano, que é muito consistente. Mas nessa nova configuração, temos que ver aonde o Brasil vai se encaixar, como vai aproveitar as oportunidades.”
Em sua análise histórica do desenvolvimento econômico mundial, Campolina observou que estamos vivendo agora a emergência de um novo ciclo expansivo, ”o sexto cluster inovador” que, ao contrário dos anteriores, será baseado em múltiplas forças interdisciplinares e transdisciplinares, combinando diferentes campos científicos. ”O Brasil precisa estar presente nessa onda transformadora que combina múltiplas trajetórias. Para tanto, nosso país precisa tomar decisões rápidas e fortes para a criação dessas condições”, apontou o ministro. Dentre essas decisões, Campolina listou as principais: repensar as fontes de financiamento para a política de C&T no Brasil, de modo a garantir recursos estáveis; atingir percentuais de 2 a 2,5% do PIB para ciência, tecnologia e inovação, compatíveis com o que é praticado no mundo; prover a garantia de infraestrutura laboratorial robusta; flexibilização na formação de professores e/ou pesquisadores. ”Nem todos os profissionais das universidades têm que ser cientistas. Alguns têm mais talento para a docência, outros para a pesquisa. Temos que ter avaliação de desempenho dos professores. Isso é polêmico e difícil, mas temos que enfrentar esse desafio.”
Outra questão fundamental para garantir o avanço de nossas universidades, de acordo com Campolina, envolve a atração de pesquisadores internacionais. ”A crise na Europa é uma porta aberta para atrairmos professores de qualidade, precisamos ter mobilidade acadêmica para avançar”, ressaltou. O ministro acrescentou a necessidade de se trabalhar nas estruturas curriculares. ”Damos aulas demais da conta. Não é possível um aluno ter desempenho de qualidade em oito ou nove disciplinas. Aulas com quadro negro ou Power point são boas para colégios; alunos de universidade têm que aprender a estudar sozinhos”, afirmou.
Finalmente, Campolina abordou a necessidade de se mudar a governança no sistema universitário brasileiro. ”Seja na contratação de professores, seja no sistema de compras. Se não mudarmos a governança, vamos ficar engessados, ainda mais agora que predomina a tendência de universalizar os critérios de escolha de dirigentes. A democracia tem que ser praticada, as pessoas tem que ser respeitadas, mas quem tem que ter a palavra final no sistema universitário são os seus acadêmicos, seus cientistas.
Para o ministro de CT&I, o Brasil tem condições de crescer muito nas áreas de ciência, tecnologia e da educação superior. ”Não adianta ter indústria de ponta sem dominar os meios de produção e operando tecnologia importada. Nosso sistema universitário tem 100 anos, é muito novo. Temos que enfrentar as polêmicas para conseguir dar esse salto. Parabéns à ABC por buscar a excelência na educação e na ciência brasileira. São iniciativas como essa que asseguram o avanço do sistema.