Um modelo de primatas não idosos para a doença de Alzheimer foi desenvolvido, após sete anos de estudos, por pesquisadores do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo De Meis da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com cientistas do Centre for Neuroscience Studies, da Queen’s University no Canadá. Os resultados desta nova ferramenta foram divulgados na edição do dia 08 de outubro do Journal of Neuroscience.

Participaram do estudo sete macacos cynomolgus jovens, entre 9 e 16 anos de idade. Três serviram de controles, enquanto que quatro receberam nos ventrículos cerebrais injeções de oligômeros β amiloide, pequenas proteínas encontradas no cérebro dos pacientes humanos, e que se difundiram para o cérebro. Embora não idosos, os macacos mostraram sinais de patologia semelhante à doença. ”Em apenas um mês, os macacos apresentaram perda de sinapses e outras características do mal de Alzheimer, explica Fernanda De Felice, membro afiliado da ABC e pesquisadora da UFRJ.

Os pesquisadores observaram que os oligômeros β amiloide se direcionam especificamente para regiões do cérebro que são importantes para a memória e aprendizado. ”Isso explica porque a doença de Alzheimer é uma doença de memória”, ressalta Leticia Forny-Germano, pós-doutora que observou o cérebro dos macacos no microscópio. ”Fizemos questão de usar o menor número possível de animais que desse um resultado confiável, justamente por questões éticas. Apenas com um modelo de primata iremos progredir na compreensão e tratamento de doenças do sistema nervoso central”, afirma Fernanda De Felice.

Fernanda esclarece que o sistema nervoso é, sem dúvida, formidável, que permite que os humanos tenham diversas sensações, emoções e conhecimento. Por isso, o cérebro humano é muito complexo e diferente do de ratos ou camundongos. É possível que, por isso, os tratamentos experimentais desenvolvidos para doenças neurodegenerativas não sejam eficientes nos pacientes. O cynomolgus (macaca fascicularis) é um primata do velho mundo, muito utilizado nos estudos do funcionamento cerebral, exatamente por ter uma maior similaridade com o de humanos.

O desafio agora, afirma, é detectar se, além dos sinais bioquímicos e anatômicos da doença, os macacos também apresentam os sintomas neuropsicológicos da doença de Alzheimer. Para isso, o grupo treina, no Canadá, macacos em tarefas de memória bem sofisticadas. Após ter aprendido as tarefas, eles irão receber os oligômeros β amiloide e suas performances cognitivas serão monitoradas pelo dois grupos, da UFRJ e do Canadá.

Nos poucos estudos publicados anteriormente, os cientistas usavam apenas macacos idosos, com cerca de 30 anos, pois somente nessa idade que apareciam algumas características da doença. Diante desse limitante, os estudos demoravam décadas para acontecer. O grupo brasileiro demonstrou que, em cerca de um mês, todas as características centrais da doença podem ser induzidas em macacos não idosos.

A importância desse resultado é que a comunidade científica e laboratórios farmacêuticos podem utilizar o modelo para averiguar a eficácia de medicamentos para o Alzheimer. Inclusive, o grupo da UFRJ já está testando drogas nesse modelo, com resultados promissores.