Assistir uma aula de qualquer lugar, e ainda receber tutoria personalizada? Sim! O ensino à distância, através de videoaulas, tem recebido uma enorme atenção recentemente, principalmente quando instituições como o Instituto Tecnológico de Massachussets (MIT, na sigla em inglês) e as universidades de Stanford, Harvard e Yale, geraram iniciativas com grande impacto na mídia, como o MIT-Opencourse, COURSERA, Khan Academy e o consórcio EdX. Essas iniciativas tem como
objetivo dar livre acesso a cursos ministrados por professores das instituições envolvidas.
No Brasil, o Consórcio Cederj de universidades públicas do estado do Rio de Janeiro, criado em 2000, foi pioneiro em levar videoaulas aos alunos do curso de Sistemas de Computação, que começaram em 2005 e contam com professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal Fluminense (UFF). “Foram elaboradas mais de 500 videoaulas para este curso, que tem cerca de 1.800 estudantes matriculados”, conta o Acadêmico Edmundo de Souza e Silva, coordenador do grupo de pesquisa do Laboratório LAND/Coppe/UFRJ, que participa da iniciativa Cederj desde a sua criação.
A partir de projetos de pesquisa inicialmente financiados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), desde o ano 2000), o grupo desenvolveu pesquisas em recuperação e distribuição eficiente de videoaulas pela internet. Com base nas pesquisas do grupo, a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) apoiou o desenvolvimento dos resultados, de forma a tornar o protótipo do grupo um serviço da RNP, disponível em larga escala. “Esse serviço permite que universidades, ou professores, de qualquer lugar do Brasil possam montar videoaulas e disponibilizá-las através da RNP para acesso livre e gratuito”, destaca o Acadêmico. O serviço, chamado de videoaula@RNP e pode ser acessado pelo link http://portal.rnp.br/web/servicos/videoaula-rnp, é o resultado da transferência de tecnologia da Cope/UFRJ para a sociedade e conta hoje com quase 700 videoaulas de diferentes instituições de ensino.
Projeto apoiado pelo Google possibilita a percepção do tutor
Para Edmundo, o acesso ubíquo, ou seja, onipresente, a aulas ministradas por professores das melhores universidades, não é mais coisa do futuro e permite atingir milhares de alunos. Entretanto, grandes desafios ainda permanecem. Um desses desafios consiste na oferta de tutoria pois, apesar de ser uma parte importantíssima
do processo educacional, é muito difícil de escalar a uma grande massa de alunos. “Em uma aula tradicional, o professor, ao observar alguns alunos, pode inferir que sua explicação não está sendo entendida e então adaptar a aula de acordo com a reação dos alunos em classe. Expressões faciais dos alunos, por exemplo, são indícios importantes que os professores normalmente usam para avaliar se o material ensinado está sendo compreendido. Infelizmente, em uma videoaula, essa realimentação não é possível”, explica o Acadêmico.
Esse é o desafio do projeto que está sendo patrocinado pela Google. Denominado “Sistema de Recomendação Inteligente baseado em Videoaulas para Educação a Distância”, o projeto tem como objetivo inferir automaticamente o “estado mental” de um aluno assistindo a uma videoaula e adaptar a apresentação do material de acordo com esse “estado”. Por exemplo, a “atenção” de um aluno seria inferida a partir de entradas capturadas pelo sistema enquanto o estudante interage com a videoaula. O sistema prevê o uso de várias entradas, como expressões faciais do aluno capturadas por uma webcam, e sinais de sensores de baixo custo, como sinais de um eletroencefalograma, sinais de um bio-sensor de condutividade da pele, e ainda a movimentação do mouse. O projeto fará uso do serviço videoaula@RNP e terá como alvo inicial os alunos do curso de Computação do Cederj.
A pesquisa está sendo realizada pelo estudante de doutorado da Coppe Gaspare Bruno que, em conjunto com o mestrando Thothadri Rajesh, está desenvolvendo ferramentas para coletar dados para os experimentos que serão a base dos estudos para prever o “estado” dos alunos. Os professores Edmundo de Souza e Silva e Rosa Leão são corresponsáveis pelo projeto, que conta também com a colaboração de um ex-aluno do grupo, Fernando Silveira, hoje pesquisador nos EUA.