Filho de um médico e uma artista plástica, José Carlos teve uma infância muito tranquila e feliz em uma cidade pacata da do Rio Grande do Sul, chamada Paim Filho. Seu pai trabalhava fora durante o dia inteiro, enquanto sua mãe acompanhou bem de perto o seu crescimento, além do das outras duas filhas. Com elas, José Carlos passou a infância cercado da tranquilidade de uma cidade pequena: brincou bastante na rua, subiu em árvores, divertindo-se com os cachorros ou em casa, jogando vídeo-game, brinquedo estava começando a surgir no Brasil naquela época.

Foi dedicado na escola e gostava muito de química e biologia. “Meu maior sonho de criança era ser astronauta. Não sei exatamente porque, mas acredito que tenha sido estimulado pelos filmes da série Guerra nas Estrelas, que faziam muito sucesso”, ele recorda. Mas a admiração pelo pai fez a vontade de ser médico rivalizar com a de ser astronauta. E venceu.

Em busca deste sonho, a primeira escolha de José Carlos ao prestar vestibular foi para o curso de medicina, mas não conseguiu as notas necessárias nos exames. Ele ingressou então no curso de farmácia e bioquímica, sua segunda opção nos exames vestibulares para a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) em 1998. “Foi uma ótima escolha, pois várias disciplinas do curso de farmácia foram importantes para o meu treinamento básico para a posterior carreira de pesquisador”, ele reflete. Seu professor Jarbas Rodrigues de Oliveira o estimulou a fazer iniciação científica já no primeiro ano da faculdade e, desde então, ele nunca mais parou de fazer pesquisa.

Estudante aplicado, durante a graduação ele foi monitor das disciplinas de Anatomia, Fisiologia, Bioquímica, Biofísica e Farmacologia. Esta dedicação fez com que ele recebesse um convite de Jarbas Rodrigues de Oliveira para estagiar no seu laboratório de pesquisa no Instituto de Biociência da PUC-RS ao qual José Carlos aceitou. Este estágio mostrou foi determinante para a minha escolha de tornar-me um pesquisador de ciência básica e abandonar uma possível carreira de Farmacêutico.

Em 2003, ele ingressou no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Farmacologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, sob a orientação do Acadêmico Fernando de Queiroz Cunha. Entre as várias linhas de pesquisa, havia uma em migração de neutrófilos no modelo experimental de sepse. Engajou-se nessa pesquisa, com o objetivo de investigar o papel do receptor Toll-like r 4 (TLR4) na falência da migração de neutrófilos para o foco infeccioso na sepse experimental. “Na época, os TLR eram um assunto que estava em alta”, explica. Os resultados das suas pesquisas foram apresentados no 36º Congresso Brasileiro de Farmacologia e Terapêutica Experimental (SBFTE), onde ele recebeu o prêmio de “Melhor Painel do Setor de Farmacologia da Inflamação e Dor”.

Em 2005, Alves Filho ingressou no doutorado na USP também sob a orientação do Fernando Cunha, dando prosseguimento aos seus estudos sobre o papel dos Toll-like receptors na sepse. O objetivo era entender o papel desses receptores no desenvolvimento da resposta inflamatória local e sistêmica durante a sepse polimicrobiana. “Foi identificado que a sinalização dos TLRs é fundamental para montar uma resposta inflamatória local eficiente contra os microorganismos patogênicos. Por outro lado, a ativação sistêmica desses receptores é responsável pelos efeitos sistêmicos deletérios observados na sepse grave”, relatou o pesquisador. Desta vez, os resultados das suas pesquisas foram publicados no periódico da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos (PNAS-USA, na sigla em inglês), além de receber três prêmios, sendo um nacional e dois internacionais: Prêmio de “Melhor Pôster de Doutorado” no XXXI Meeting of the Brazilian Society of Immunology, “1st Award” no 4th International Symposium on Intensive Care, em São Paulo, e “Award for the Best Abstract on Sepsis” no International Sepsis Forum, em Paris, na França.

Atualmente, o gaúcho José Carlos Farias Alves Filho leciona na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e possui pós-doutorado pela Universidade de Glasgow (Escócia). Através de pesquisas, ele quer entender os mecanismos fisiopatológicos envolvidos no desenvolvimento da sepse, para identificar alvos farmacológicos para o futuro tratamento desta doença. “A sepse pode ser descrita como uma resposta inflamatória sistêmica decorrente de uma falha do sistema imune em controlar uma infecção local. Neste sentido, a migração de um sub-tipo de células do sangue, os neutrófilos, para o foco da infecção compõem uma das principais armas de defesa do organismo”, esclareceu. Os estudos de José Carlos demonstram que o desenvolvimento da sepse está associado a uma falha nos mecanismos que levam ao recrutamento dos neutrófilos para o foco da infecção. Ele descobriu que a ativação de receptores envolvidos no reconhecimento de microrganismos patogênicos, denominados receptores do tipo Toll, é um dos principais mecanismos envolvidos na falha do recrutamento dos neutrófilos para o foco da infecção, o que o levou a concluir que a inibição farmacológica destes receptores possa ser um futuro alvo terapêutico para o tratamento da sepse.

Para ele, ser cientista é muito mais do que uma profissão, é uma paixão contínua pela curiosidade que pode vir a ser transformada em algum bem para a sociedade. “O Brasil precisa cada vez mais de jovens apaixonados pela ciência”, enfatiza. E fica fascinado quando vê o resultado positivo de um experimento, principalmente se ele consolida a hipótese levantada.

José Carlos defende que a Academia Brasileira de Ciências tem um papel fundamental no incentivo e progresso da pesquisa no Brasil. Por isso, sente-se muito honrado com o título de membro afiliado e deseja contribuir para a ABC. “Certamente um dos grandes benefícios que ele traz é o incentivo aos meus alunos de pós-graduação, futuros cientistas do Brasil, para que se dediquem e também possam um dia se tornar membros da Academia”, conclui.