Leonardo Sena Gomes Teixeira nasceu em Salvador, Bahia. O pai era professor de Física, tendo falecido aos 31 anos, num acidente de carro. A mãe se formou em Filosofia e fez mestrado em Educação, trabalhando há vários anos com pesquisa, planejamento, gestão social e da educação. Eram um casal de filhos, que depois ganhou mais uma irmã adotiva.
O menino viveu grande parte da infância numa casa próxima a uma fazenda, na área urbana. Adorava jogar bola, subir em árvores, empinar pipa, andar de bicicleta e tomava muito banho de mar, visto que a casa ficava em Piatã, uma bela praia de Salvador. Sempre gostou de estudar e tinha facilidade com as disciplinas de Exatas, além de gostar muito de literatura. Na adolescência, participou de duas oficinas de teatro e foi o protagonista nas montagens realizadas. “A experiência com o teatro contribuiu muito para minha formação, exercitando os sentidos, a espontaneidade, a expressão de emoções. Me ajudou também a desenvolver um equilíbrio entre o exercício e a técnica, a liberdade e as obrigações, proporcionando conhecimento do meu caráter e do dos outros, através de um clima de sociabilidade, cooperação e amizade nos grupos”, recorda.
No ensino médio, fez o curso de Química na Escola Técnica Federal da Bahia (ETFBA). Além da boa formação, Leonardo teve oportunidade de conviver com colegas de diferentes classes sociais e orientações ideológicas, que contribuíram para sua linha de conduta na vida. Embora tenha tipo boas oportunidades de entrar no mercado de trabalho ao fim do curso técnico, o rapaz escolheu continuar estudando. Entrou para a graduação em Química na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e hoje se diz satisfeito com a opção que fez e por ter sua vida profissional pautada nesta escolha.
Oriundo de uma família de cientistas, Leonardo teve muito apoio para seguir a carreira. Entre os mestres que tomou por referência, além dos tios, cita os professores Antonio Celso Spínola Costa, Sérgio Luiz Costa Ferreira e Jailson Bittencourt de Andrade, que acompanharam sua formação desde a graduação e se tornaram grandes parceiros. Ressalta ainda a parceria com a professora Maria das Graças Andrade Korn, que conheceu na época pós-graduação, e o contato profissional e afetivo com os professores Eledir Vitor Sobrinho, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Fábio Rodrigo Piovezani Rocha, do CENA/USP. “Afora isso, agradeço a influência cotidiana de minha esposa, que também é doutora em Química, e de minha filha, que acalenta meu coração”, revela o Acadêmico.
Após o primeiro ano de curso, obteve uma bolsa de iniciação científica (IC) no grupo de pesquisa dos professores Sérgio Luiz Costa Ferreira e Antonio Celso Spínola Costa. “Minha afinidade com a Química Analítica veio a se confirmar então”, conta Teixeira. Estudou a aplicação de reagentes orgânicos em análises inorgânicas e chegou a apresentar os resultados obtidos em alguns eventos científicos, ter um primeiro trabalho publicado e ser premiado três vezes.
No fim da graduação, sua vocação para os trabalhos investigativos e para a carreira acadêmica era clara. Entrou para o mestrado da UFBA, dando continuidade a seu trabalho da IC, que resultou na dissertação de mestrado “Efeito do Ácido Ascórbico em Reações Espectrofotométricas para o Vanádio”, defendida com apenas ano de curso. Enquanto aluno de pós-graduação, Teixeira foi responsável por algumas aulas práticas para alunos de graduação, que despertaram seu interesse e afinidade pelas atividades de ensino. Cursou o doutorado-sanduíche em Química Analítica, com a proposta de uso da espectrofotometria em fase sólida para determinações analíticas. Passou um período no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA) da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba, no estado de São Paulo, sob a supervisão do professor Boaventura dos Reis. Depois, realizou estágio na Universidade de Valencia, na Espanha, sob a supervisão do professor Miguel de la Guardia. “Nessa fase, foi muito importante para mim o contato com pesquisadores de estilos e perfis de orientação diversificados”, observou Teixeira.
Hoje, Leonardo Teixeira é professor adjunto do Instituto de Química da UFBA. Suas ações de pesquisa, ensino e extensão são realizadas através do Grupo de Investigação, Desenvolvimento e Inovações Analíticas (IDEIA), criado em 2009 sob sua liderança, que lida com a química analítica voltada para amostras ambientais, combustíveis e de alimentos. “Levamos em consideração o caráter interdisciplinar da Química Analítica, compreendendo que existe um compromisso entre a pesquisa desenvolvida e a sociedade. Por isso, buscamos fornecer elementos para o desenvolvimento de uma ciência transformadora e sustentável”, relata o Acadêmico.
Entre suas linhas de pesquisa está a avaliação da qualidade de combustíveis automotivos, através da determinação da concentração de metais, que se for alta pode provocar a formação de uma goma que causa problemas aos motores. “Além disso, existem problemas ambientais associados à presença de metais em combustíveis”, esclarece, informando que seu grupo vem desenvolvendo procedimentos analíticos mais sensíveis e otimizados, de modo a reduzir o consumo de reagentes químicos e, dessa maneira, provocar menor geração de resíduos.
O título de Membro Afiliado da ABC significa para ele, principalmente, o reconhecimento ao seu trabalho, a oportunidade de expansão intelectual e a ampliação das possibilidades de cooperações e parcerias. Refletindo sobre a ciência de modo mais geral, Leonardo Teixeira diz que é estimulado pelos mistérios. “Sem os mistérios, as dúvidas e as indagações não existiria a ciência. A ciência busca dar respostas e esta busca só é possível através do desenvolvimento de pesquisas, da experiência e da reflexão. Ainda bem que eles são infinitos…” Ele diz que hoje há uma revolução trazida pela teoria da complexidade: na construção da ciência contemporânea admite-se o erro, reincorpora-se nas discussões a subjetividade e a flexibilidade, esclarecendo os perigos da inflexibilidade e rigidez. “A flexibilidade inclui o pensamento do outro, o outro ponto de vista, o outro caminho e sugere a multiplicidade”, diz Teixeira. “Considerar-se a multiplicidade é mais complexo, mas também mais interessante, tendo em vista que a vida é um emaranhado de erros e contradições.”