Mesmo o avanço da medicina não impede que certas doenças renais agudas tenham até 80% de mortalidade. Além das doenças que o acometem, o rim é vítima frequente do efeito colateral de outros tratamentos – para enfermidades como tumores e linfomas, por exemplo. Parecia urgente a necessidade de encontrar uma forma de protegê-lo do ataque de tantas frentes. E foi isso que levou o pesquisador e Acadêmico Nestor Schor, da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) a recorrer às células-tronco.

Em um trabalho ainda experimental, Schor retirou células-tronco adultas da medula óssea de ratos. Crescidas em laboratório, elas foram, depois, implantadas nesses mesmos animais em diversas etapas. “Injetamos as células em ratos com lesões em estágio inicial e numa fase avançada. Em ambas, os resultados foram animadores e o rim teve uma boa recuperação”, destacou Schor, que apresentará os resultados de sua pesquisa sexta-feira, na 26º Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FesBE), no Rio. “Quanto maior o número de aplicações, melhor era a resposta”, acrescentou.

As células-tronco, cultivadas numa cultura, liberam microvesículas, que contêm substâncias anti-inflamatórias. Seu destino são órgãos como rim, fígado e pulmão, onde entram em contato com as células ainda saudáveis, fazendo-as trabalhar para restabelecer os tecidos mortos. “Há drogas excelentes, que temos de tomar mesmo sabendo de seu potencial nefrotóxico”, lembrou Schor. “São antibióticos e outros remédios imunossupressores, adotados para o tratamento de doenças autoimunes, como diabetes, lúpus, artrite reumatóide e esclerose múltipla. Uma forma de prevenir e tratar precocemente estas toxinas que vão para o rim é usar células-tronco”.

Outra situação lembrada por Schor em seu estudo é a radioterapia. A irradiação, recomendada para combater linfomas e tumores de fígado e gânglios, ocasionalmente machuca parte do rim. Estes danos também são remediados pela atuação das células-tronco. As injeções dão jeito até nas obstruções renais. Provocadas nos ratos, elas geravam uma degeneração, a fibrose, reduzida substancialmente após a aplicação das células-tronco.

De acordo com Schor, já existem pesquisas que trabalham com o efeito de células-tronco em doenças renais crónicas. Nelas, a recuperação não é integral, mas a enfermidade retrocede na maioria dos casos. Falta, porém, saber quantas vezes seria necessário realizar as aplicações de células.

Schor espera conseguir, em poucos anos, autorização para realizar os testes em humanos. Segundo ele, o objetivo não é mudar as toxinas de antibióticos e outros medicamentos. “Visamos a um tratamento biológico, que controle os efeitos colaterais até que outras drogas, menos lesivas ao rim, apareçam no mercado. Novos remédios não aparecem rapidamente. Por isso, precisamos lidar da forma mais eficiente possível com os que já temos”, concluiu.