
O que parece ter alimentado seu interesse pela biologia foram algumas aulas práticas de laboratório na quinta série. Ela recorda que a professora, em um experimento para revelar a diferença entre a respiração cutânea e a pulmonar, levou um sapo, o abriu e mostrou sua respiração. O sapo ainda sobreviveu por dois, três dias. “Eu fui a primeira a levantar a mão e querer fazer a mesma coisa, mas meu sapo morreu logo que eu abri. Fiquei frustrada, mas não me traumatizou a ponto de me desmotivar!”
No ensino médio, Fabiana não teve dúvidas na hora de escolher o curso e entrou para biomedicina, no Centro Barão de Mauá, em Ribeirão Preto. Na faculdade, tomou a iniciativa de procurar laboratórios que atendessem a sua curiosidade. Interessou-se pelas áreas de parasitologia e imunologia, nas quais atua até hoje. Após a graduação, Fabiana Machado formou-se mestre e doutora em imunologia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) e hoje é professora adjunta no Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O que encanta a pesquisadora na ciência não é apenas o diagnóstico das doenças, mas entender suas causas naturais, partindo dos detalhes da interação dos organismos envolvidos. “Além disso, é uma forma de contribuir com o desenvolvimento de terapias que evitem a formação de uma patologia”, acrescenta.
Ela adora trabalhar com pesquisa. “Cada dia é uma descoberta, surgem novas idéias e às vezes frustrações, já que a ciência nem sempre é exata. A possibilidade de ajudar na saúde de pessoas é uma sensação inexplicável”. Apesar das dificuldades e do avanço por vezes lento, Machado não se desanima: “a gente sabe que nossa pesquisa pode demorar anos, mas é uma pedrinha que colocamos de cada vez, é um passo que damos”.
A pesquisa que Fabiana Machado vem desenvolvendo é sobre a resolução da resposta imune por lipoxinas. Ela partiu da constatação de que a indução de mediadores pró-inflamatórios é fundamental para o sucesso da resposta imune contra patógenos como o Trypanosoma cruzi e o Mycobacterium tuberculosis. “O mediador lipídico antiinflamatório derivado das lipoxinas exerce um papel biológico muito importante ao revigorar a resposta imune contra esses patógenos”, garantiu Machado. Tais estudos, segundo ela, sugerem um novo alvo molecular para o desenvolvimento de drogas contra doenças marcadas por respostas inflamatórias desreguladas.
Quanto à afiliação à Academia Brasileira de Ciências, Machado agradeceu a indicação dos Acadêmicos Ricardo Gazzinelli, Sérgio Pena e Paulo Sérgio Beirão, afirmando ter sido uma honra e uma felicidade muito grandes. “É muito bom fazer parte de um grupo de pesquisadores, professores e doutores da qualidade que encontramos na ABC”, entusiasma-se, “e por outro lado, nos faz perceber que todo nosso esforço, nosso trabalho, nossa contribuição está sendo de alguma forma reconhecida. Fiquei realmente muito emocionada.”
Nos próximos anos, a cientista pretende, antes de tudo, fazer jus à nomeação continuando seus projetos e colaborando para o desenvolvimento da ciência. “Além de ajudar a área da saúde, quero divulgar a qualidade da pesquisa brasileira”, acrescenta a bem vinda afiliada.