Lucimara Martins decidiu ser cientista quando ainda era criança. “Sempre fui muito curiosa e investigadora”, revela, considerando tais características como as principais que um cientista deve possuir. Seu gosto pela Astronomia contou com a ajuda da família: “na época do cometa Halley meu pai me deu de presente uma revistinha que falava sobre o cometa, e me lembro de passar grande parte da noite com ele procurando pelo cometa. Obviamente, não vimos nada, mas me apaixonei pelo tema e pela idéia de estudar o céu”. A escolha pela carreira foi, portanto, precoce, visto que aos 12 anos ela já sabia que seria astrônoma, mesmo sem saber direito o que isso significava.
Assim, Lucimara tornou-se bacharel, mestra e doutora em Física pela Universidade de São Paulo (USP). Cursou um pós-doutorado no Space Telescope Science Institute (Baltimore, EUA) e atualmente é professora da Universidade Cruzeiro do Sul, em São Paulo. O projeto premiado é “A Maior e Mais Completa Biblioteca Estelar de Alta Resolução para Síntese de Populações Estelares”.
A pesquisa busca aperfeiçoar os modelos utilizados para o estudo das diferentes estrelas que compõem uma galáxia, as chamadas populações estelares. “O estudo destas populações pode ser feito de duas maneiras”, explica Lucimara, “utilizando estrelas observadas ou utilizando simulações de estrelas”. No primeiro caso, o estudo está limitado por permitir apenas a observação de estrelas muito próximas na nossa galáxia. Se as estrelas de outras galáxias forem diferentes, deixa de ser possível estudá-las com precisão. No caso das simulações, ainda existe muita dificuldade em construir modelos realistas para estrelas. O objetivo do projeto é aperfeiçoar estes modelos, a partir de um método estatístico que compara modelos e observações, e criar uma nova biblioteca estelar, muito mais precisa e completa, que se torne uma ferramenta de trabalho para qualquer astrônomo.
Lucimara revela que se inscreveu no prêmio LOréal por ser o único do gênero no Brasil. A premiada lamenta o pequeno número de iniciativas que valorizam a ciência realizada no país. “É muito gratificante para um pesquisador ter seu trabalho reconhecido e incentivos como esse são fundamentais”, afirmou. Ela comemora a conquista: “o caminho acadêmico é muito árduo e acredito que só possa ser seguido por quem é apaixonado por ele. É muito bom saber que foi uma escolha certa”.
Os recursos do prêmio serão fundamentais para sua pesquisa. Como ela trabalha com modelos computacionais, a necessidade de computadores de última geração é essencial. “Quanto mais e melhores, mais resultados poderão ser obtidos. Com o prêmio ajudarei a montar no meu departamento da Universidade Cruzeiro do Sul um cluster de computadores que servirá para rodar as simulações do projeto”, sintetiza.
Ao ponderar sobre a importância da mulher cientista no Brasil, Lucimara foi positiva. “Sinceramente, acho que a cientista brasileira está em uma situação muito boa comparada com o contexto mundial. Morei quatro anos fora e percebi a dificuldade que as mulheres tinham, por mais competentes que fossem, para chegar a cargos mais altos no ramo científico”. A professora acredita que o número de mulheres na ciência vem aumentando muito, sendo esse crescimento denotado pelos inúmeros exemplos de mulheres em cargos importantes em muitas universidades do país. “Acho que aqui somos valorizadas por nossa competência. Nunca sofri preconceito por ser mulher”.
A uma menina que tem curiosidade e interesse em ciência, Lucimara deixa o recado: “Faça o que você ama. Sempre. Nunca deixe que as pessoas te desestimulem dizendo ser algo muito difícil, muito trabalhoso ou pouco rentável. Quando as pessoas acreditam e fazem o que amam, tudo é possível, até ganhar o prêmio LOréal”.