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Ciências Químicas | MEMBRO TITULAR

Fernando Galembeck

(GALEMBECK, F.)

21/01/1943
Brasileira
17/12/1987

Nasceu em São Paulo, na Bela Vista, em 1943. Menino urbano, criado dentro das limitações e vantagens da cidade grande mas com direito à liberdade do mato e da praia nas férias, estudou (muito) no Colégio Santo Alberto e no Liceu Pasteur. Teve excelentes professores de Ciências. Este fato e o trabalho desde os onze anos no laboratório farmacêutico do pai determinaram o seu interesse pela Química.
Ingressou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, em 1960. Formado em 1964, obteve o doutorado em 1970. Teve o privilégio de estudar e trabalhar em um ambiente de grande seriedade, que refletia o que a Química brasileira foi, até o início dos anos 80: muito pequena, mas muito boa.
Iniciou o seu doutorado sob a orientação de Simão Mathias, mas a sua tese foi orientada por Pawel Krumholz. O tema era a dissociação de ligação metal-metal, estudada através dos equilíbrios de compostos de coordenação do pentacarbonífero, em meio aquoso. Após o doutorado, resolveu trabalhar em Físico-Química de sistemas biológicos, fazendo pós-doutorado nas Universidades do Colorado e da Califórnia, em Davis. Trabalhou então em interações protease-inibidor e em proteólise de proteínas quimicamente modificadas. O tema o interessou muito e ao voltar ao Brasil pode continuar nele, trabalhando junto ao grupo de Química de Proteínas da Escola Paulista de Medicina, em 1975.
Teve então uma grande oportunidade, que moldou a sua carreira: o Instituto de Química da USP, com apoio da Academia Brasileira de Ciências, da Royal Society e da Unilever decidiu instalar um grupo de química coloidal e de superfícies e ele foi convidado a organizar esse grupo. Depois de três meses na Inglaterra e Holanda iniciou projetos nessa área. Inicialmente, trabalhou na modificação de superfícies de polímeros, introduzindo métodos de sorção e reação in situ e utilizando o pentacarbonilferro, o que teve uma certa repercussão. No período de 1977 a 1979 descobriu a osmosedimentação, que talvez tenha sido o seu trabalho mais original e deu origem a uma linha de pesquisa sobre membranas, que se estendeu até os anos 90, com vários resultados interessantes. Destaca aí a descoberta da ultrafiltração centrífuga, da pervaporação pressurizada e da despolarização eletroforética tangencial. Hoje, estão à venda ultrafiltros centrífugos para laboratório, no mercado internacional.
Nos anos 80 e 90 manteve o trabalho em membranas e em superfícies de polímeros, iniciando projetos sobre partículas e sistemas sol-gel. Neste último caso, evitou o caminho usual, dos sistemas de alcóxidos, concentrando-se em acetatos e fosfatos. Este caminho mostrou-se compensador, porque apesar de ser muito original permitiu-lhe obter resultados que não tinham sido conseguidos pelas rotas mais exploradas. Os resultados mais promissores, neste momento, parecem ser os pigmentos brancos à base de fosfatos, que são atualmente o tema de um projeto de pesquisa e desenvolvimento de que participa uma empresa de porte, e que poderá levar a uma atividade industrial significativa.
Olhando para trás, vê que foi muito afortunado, em vários aspectos: primeiro, porque optou por uma carreira de pesquisa quando poucos jovens brasileiros se interessavam por este tipo de atividade, e viu a importância da pesquisa crescer muito durante o seu tempo de vida. Em segundo lugar, teve um bom começo e uma boa formação, em uma área cuja importância cresceu continuamente. Viu a Química crescer e diversificar-se, no Brasil e no mundo, tornando-se uma ciência central. Pode contribuir para um grande surto de crescimento da Química brasileira trabalhando na elaboração e implementação do PADCT. Finalmente, percebe que uma parte significativa dos cientistas brasileiros, na qual se inclui, cultivou no seu dia-a-dia práticas que hoje são essenciais à sobrevivência das pessoas, organizações e nações: o exercício da identificação de oportunidades, a resolução de complexidades, e a polivalência, tudo isto em um contexto globalizado.
Do lado das frustrações, a maior é a de ter pouco contribuído para uma mudança no ensino elementar deste país. Entretanto, há hoje para isto um novo clima, e iniciou trabalho nesta direção, em 1996.