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O exemplo do Butão

Leia artigo do Acadêmico Isaac Roitman publicado no Correio Brasiliense em 23/1:

Recentemente, tive o privilégio de assistir a uma entrevista feita no Brasil pelo educador Thakur Sing Powdyel, ex-ministro de Educação do Butão, que participou do V Congresso Internacional de Felicidade que ocorreu em novembro de 2022 em Curitiba. Ele é o responsável por criar o conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB) – Gross National Happinnes (GNH) – na educação desse país, que é um pequeno reino encravado nos Himalaias, onde moradores vivem em estado de completa harmonia, em um cenário de 8 mil metros de altitude, moldado por florestas e rios.

Os primeiros conceitos desse novo indicador em que o bem-estar deve se sobrepor ao crescimento material foi introduzido em 1972 e vem chamando a atenção de grandes nações. Isso porque, com o colapso ambiental e econômico que o mundo vem enfrentando, o Butão se tornou referência de nação em desenvolvimento que colocou a conservação ambiental e a sustentabilidade no centro da política, já que, após aderir ao FIB, o país dobrou a expectativa de vida, matriculou quase 100% das crianças em escolas primárias e reformulou a infraestrutura.

A visão do Butão, as metas e os resultados alcançados foram ponto de partida para que a ONU, com o apoio da comunidade internacional, recriasse o conceito de FIB para ser aplicado como forma de medir o desenvolvimento de comunidades e de colaborar para o crescimento e a erradicação da pobreza em países em desenvolvimento.

No Butão, a cultura e os costumes estão diretamente conectados à felicidade.

O país é considerado um dos melhores lugares do mundo para viver. A educação é pública e de qualidade, o acesso à saúde é gratuito, não existem pessoas analfabetas e todos os cidadãos têm acesso à água potável. Além disso, os índices de desigualdade são baixos, e é, também, um dos países menos corruptos do mundo.

A pobreza é praticamente imperceptível e diminui todos os anos, o meio ambiente está no centro de tudo e a economia está crescendo. Esse cenário pode parecer uma ficção. Felizmente é real. Os butaneses, vivendo a 8 mil metros de altura, são quase extraterrestres inteligentes.

O conceito do FIB foi incorporado ao sistema educacional em 2009 por Thakur Sing Powdyel, através da Escola Verde (Green School). A escolha da cor representa uma metáfora da vida. Verde representa tudo que dá suporte à vida em suas variedades e formas. A principal missão dessa escola não é a de produzir mão de obra para o mercado, mas a de formar verdadeiros seres humanos, em que a retidão e as condutas sejam moldadas e aperfeiçoadas no dia a dia.

Essa educação holística é baseada em vários pilares: meio ambiente, cultura, conhecimento, valores acadêmicos, estética, espiritualidade e ética.

Esse espaço escolar permite que estudantes, educadores e família amadureçam o conceito de responsabilidade social por meio da cooperação. Na dimensão afetiva, as crianças constroem atitudes, comportamentos e desenvolvem suas habilidades físicas, socioemocionais e culturais. Essas dimensões estimularam a correta hospitalidade, sociabilidade e coesão, metas dessa educação holística que une os cérebros aos corações. As gerações futuras moldadas nessa verdadeira inovação educacional certamente viverão em paz consigo mesmas e com os seus semelhantes.

Muitos conceitos nessa inovação educacional implantada no Butão foram inspirados na obra de Paulo Freire, a Pedagogia do Oprimido. Para ele, o educando assimilaria o objeto de estudo fazendo uso de uma prática dialética com a realidade, em contraposição à educação bancária, tecnicista e alienante. O educando criaria a própria educação, fazendo ele próprio o caminho, não seguindo um já previamente construído, libertando-se de chavões alienantes. O educando seguiria e criaria o rumo do seu aprendizado por meio do desenvolvimento da própria autonomia.

No Brasil, ao contrário do Butão, temos um sistema educacional ultrapassado, uma atenção à saúde deficiente, uma desigualdade social alarmante e um desrespeito ao meio ambiente.

Oxalá adotemos o FIB em vez de indicadores incompletos como o PIB (Produto Interno Bruto) e o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).

Vamos vislumbrar um futuro virtuoso para o Brasil e para o mundo, praticando o exemplo do Butão.

In memoriam Jean Robert David

The corresponding member of the Brazilian Academy of Sciences Jean Robert David passed away on June 19, aged 90, in France.

Jean was one of the last active members of the generation of French researchers who made Drosophila melanogaster a model of evolutionary genetics in the 1970s/1980s. Thus, providing a unique opportunity to expand knowledge regarding the genetics and development of this species in the study of adaptation and speciation mechanisms.

Over the course of his nearly 70-year scientific career, Jean has published over 400 articles primarily on Drosophila, dealing with subjects as diverse as systematics, biogeography, ecophysiology, morphometry, phenotypic plasticity, genetics, behaviour, reproductive isolation, and more recently, evo-devo and genomics. Jean travelled the world to study Drosophila. He completed his last field mission at age 87 on the island of Grande Comore.

Among the various titles and honors he received, David was an Honoris Causa Doctor of the Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ), member of the Lyon Academy of Sciences and Fine Letters and Emeritus Director of Research at the Center’s Population, Genetics and Evolution Laboratory National Scientific Research (CNRS, its acronym in French), in France.

Jean discovered Brazil through the Brazil-France cooperation in the scope of the UNESCO Chair in Developmental Biology. For 18 years he traveled across the country, from north to south, giving lectures to scientists and students, many of them with the support of the UNESCO Chair.  On his first visit to UFRJ, he met drosophilists interested in evolutionary problems and proposed a Brazilian Symposium on this theme. The first edition was in the UFRJ in November 1999.  Since then, the major Brazilian research groups specialized in Drosophila have been engaged in the organization of these events. The Symposium on Ecology, Genetics, and Evolution of Drosophila occurs every two years and has already established itself as the most important event for meeting and debating for the Brazilian drosophilists community, always with guests and collaborators from other countries in South America, North America and Europe. Jean David attended all symposia held until 2019.  

For two decades, he has been involved in a diversity of collaborations with Brazilian Scientists, boosting the French-Brazilian cooperation. In his speech upon receiving the title of Doutor Honoris Causa by UFRJ, Jean said: “I can tell here my great satisfaction for these collaborations and how much I appreciate both the high scientific quality of my colleagues and also their extreme kindness. Brazil is a country where I feel at home and where I have always a great pleasure to come back.”

An incomparable naturalist and entomologist, an exceptional experimenter, a rigorous and uncompromising scientist, Jean could convey his enthusiasm to students and colleagues. He was an outstanding leader and consolidated the collaboration between Brazilian and foreign groups of geneticists and zoologists.  There is a gap in science, but beyond that there is an immense longing for a dear friend. The best tribute we can pay to his memory is to continue this work. Jean leaves an expressive personal and professional legacy, which will continue to live among us.  

 

Blanche Christine Bitner-Mathé,

Associate Professor, Universidade Federal do Rio de Janeiro  (UFRJ)

 

Lilian Madi-Ravazzi

Associate Professor, São Paulo State University (Unesp)

 

Vivaldo Moura Neto

Titular Professor, Universidade Federal do Rio de Janeiro  (UFRJ)

Titular Member of the Academia Brasileira de Ciências

Programando a ciência na informática (MG-CO)

Siomar Soares começou a trabalhar ainda na juventude: vendeu picolés e salgados, descarregou caminhões com o pai e ajudou a mãe a lavar roupas para fora. Com o dinheiro que ganhou, comprou seu primeiro videogame e alguns aparelhos eletrônicos. Fascinado por tecnologia desde cedo, hoje, o novo afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC) trabalha realizando pesquisas na área de bioinformática.

Natural de Uberaba, Minas Gerais, Siomar nasceu em 12 de agosto de 1983. Durante a infância, gostava de brincar na rua, jogar futebol e andar de bicicleta. Já no ensino médio, ganhou seu primeiro computador e passou a ocupar seu tempo livre formatando sistemas operacionais, junto a outros amigos que também se interessavam por jogos e informática.

Na escola, tinha muita facilidade nas ciências exatas, mas também se interessava por biologia. O cientista conta que sua curiosidade pela área da saúde se deve a dois de seus tios: um médico e outro dentista. Ao escolher o curso de graduação, optou então por biomedicina na Universidade de Uberaba (UNIUBE).

Soares conta que seu interesse por genética vem desde a época do ensino médio. Em 2008, quando ainda estava terminando um curso de aperfeiçoamento em bioinformática na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ingressou no mestrado em genética, pela mesma instituição. O acadêmico guarda boas memórias deste tempo: “eu realmente me apaixonei pela ciência quando comecei a escrever meu primeiro artigo e a dissertação de mestrado. Foi um momento único em que eu li vários trabalhos da minha área e comecei a perceber que meus resultados e o programa que eu tinha desenvolvido se encaixavam em um contexto muito maior e profundo”.

Entre 2009 e 2013, realizou o doutorado em genética na UFMG, com um ano de doutorado sanduíche na Universität Bielefeld, na Alemanha. Ainda em 2013, Soares ingressou no pós-doutorado em bioinformática também na UFMG, e, desde 2015, faz doutorado na mesma área e instituição. Antes de fazer o curso de aperfeiçoamento em bioinformática, o cientista afirmou que não sabia muito sobre o assunto e lembra o apoio recebido de seu orientador durante o mestrado: “Me lembro que eu consertava os computadores do laboratório e, por isso, o Prof. Vasco disse: ‘Você gosta de computadores. Eu vou te colocar na Bioinformática’. ”

O acadêmico mostrou gratidão ao lembrar de seus professores e orientadores, ele conta que tanto seu orientador, Vasco Azevedo, como seu co-orientador na Alemanha, Andreas Tauch, foram muito importantes para sua formação, e agradece a oportunidade de ter trabalho no Cluster of Industrial Biotechnology (CLIB), na Alemanha.

Atualmente, Siomar Soares é professor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), secretário da regional Sudeste da Sociedade Brasileira de Genética e pesquisador da área de bioinformática. Sobre as aplicações de seu campo de pesquisa, o afiliado da ABC explica: “A bioinformática é uma área que utiliza programas de computador e conceitos da química, física, matemática e biologia para realizar análises de DNA, RNA e proteínas afim de elucidar processos biológicos realizados pelas células de um organismo. ”

Soares se mostra encantado pela velocidade com que tudo muda na ciência e com a possibilidade de contribuir para o avanço da mesma. Em sua área, especificamente, afirma gostar de analisar grandes quantidades de dados e encontrar correlações que antes não eram possíveis de serem encontradas.

Para o cientista, que já trabalhou no Laboratório Oficial Central do Ministério da Pesca e Aquicultura, o título recebido da Academia Brasileira de Ciências é mais do que um reconhecimento de seu trabalho, é também uma oportunidade de aprender com os demais membros e mais um incentivo para trabalhar pela ciência. O novo afiliado da ABC reforçou seu compromisso com a divulgação científica: “Pretendo atuar divulgando ainda mais a ciência tanto entre estudantes, quanto entre a população em geral, mostrando a importância de se investir na ciência e os benefícios advindos das pesquisas realizadas no país. ”

http://www.abc.org.br/membro/siomar-de-castro-soares/

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Inovando no combate à malária (MG_CO)

Nascida e criada no interior de Minas Gerais, Taís de Sousa sempre gostou de estudar, e aprendeu a se dedicar e ter disciplina para conquistar seus objetivos logo cedo. Atualmente, a nova afiliada da Academia Brasileira de Ciências tem direcionado seus esforços para a área de pesquisa, tratamento e diagnóstico molecular da malária.

Natural de Ipatinga, na região do Vale do Aço de Minas Gerais, Taís nasceu em 18 de novembro de 1980. Morou em sua cidade natal até o fim do ensino médio, já que logo depois foi para Belo Horizonte fazer um curso preparatório para o vestibular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Apesar de ter seguido carreira na área das ciências biológicas, Taís lembra que na escola, suas matérias favoritas eram matemática e química. Fora das salas de aula, gostava de brincar com os amigos de pique-pega, esconde-esconde e pique-bandeira.

Foi no último ano do ensino médio que Taís decidiu pela biologia, graças a uma aula de genética. “Nesse caso, foi amor à primeira vista! ”, lembra a cientista. Entre 1999 e 2004, Taís realiza a graduação em ciências biológicas, com bacharelado em bioquímica e imunologia. E mais uma vez, foi na sala de aula que Taís decidiu por qual caminho seguiria: após uma aula sobre malária na UFMG, ela opta então por trabalhar na área da saúde humana.

Ao longo da faculdade, a afiliada da ABC participou de programas de estágio voluntário em botânica e microbiologia. Mas, após a entrada no bacharelado em bioquímica e imunologia, teve a oportunidade de trabalhar com o que realmente lhe fascina, fez então sua iniciação científica na Fiocruz Minas e passou a pesquisar biologia molecular aplicada à malária.

Logo depois de terminar a graduação, Sousa inicia o mestrado na Fiocruz Minas, mas só permanece pouco mais de um ano no programa. Isto porque, orientada pela professora Cristiana de Brito, reuniu todos os requisitos necessários para passar direto do mestrado para o doutorado no período de um ano.

Entre 2004 e 2009, conclui o doutorado em ciências da saúde com ênfase em biologia celular e molecular pela Fiocruz Minas. Durante este tempo, Taís casou e seu marido foi aprovado em um concurso público federal em Tocantins, e os dois tiveram de viver dois anos separados. Ela lembra: “Apesar de não ser uma situação confortável para nenhum dos dois, ele sempre me apoiou a continuar os estudos e entendia a dedicação exigida pela carreira que eu havia escolhido”.

No período de 2009 a 2011, a cientista faz pós-doutorado no Laboratório de Malária da Fiocruz, e nos três anos seguintes atua como Pesquisadora Visitante por lá. Hoje, a acadêmica atua como pesquisadora do Laboratório de Malária e investiga o tratamento e o diagnóstico molecular da malária. “Dentro de tratamento da malária, estamos investigando alguns dos fatores humanos e também do parasito que podem levar à falha terapêutica”, explicou Sousa.

Sobre o diagnóstico molecular da malária, a cientista explicou que pretende desenvolver um protocolo mais sensível de detecção e quantificação de DNA do parasito na saliva do paciente, utilizando um droplet digital PCR. Este projeto recebeu financiamento internacional da Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, em 2017.

“A minha maior motivação em fazer ciência é a possibilidade de gerar conhecimento que contribua para o bem-estar das pessoas”, compartilhou Sousa. Sobre o título de membro afiliada da Academia Brasileira de Ciências, a cientista se mostrou muito feliz por poder representar outros tantos jovens pesquisadores que se dedicam a ciência, em um país onde a pesquisa ainda é tão desvalorizada. E completou: “Como membro afiliada da ABC, a minha expectativa é contribuir para o fortalecimento da participação dos jovens pesquisadores na ciência brasileira”.

http://www.abc.org.br/membro/tais-nobrega-de-sousa/

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Dos problemas às equações diferenciais: crescendo com a matemática (MG-CO)

Na infância, Jaqueline Godoy tinha brincadeiras preferidas como qualquer outra criança. Adorava brincar de escolinha e se divertia resolvendo problemas de matemática. Já adulta, Godoy teve que decidir entre as carreiras de professora ou pesquisadora. A área da pesquisa venceu esta disputa e, hoje, a nova afiliada da Academia Brasileira de Ciências (ABC) continua solucionando os problemas matemáticos, investigando as equações diferenciais funcionais com retardamento.

Nascida em 20 de setembro de 1985, em Boa Vista, Roraima, aos cinco anos Jaqueline e sua família deixaram a região Norte para viver no centro do país, em Brasília. Jaqueline conta que viveu uma infância muito boa e tranquila, se divertia jogando jogos de tabuleiro, como o xadrez, e montando lego. Logo cedo sua preferência pelas ciências exatas já estava evidente: na escola, suas matérias favoritas eram matemática, física e química.

A Acadêmica falou sobre sua fascinação pela ciência: “O mais encantador na ciência é que ela possibilita a compreensão dos fenômenos que ocorrem no universo e a previsão deles. A matemática tem um papel fundamental nisso tudo, pois é a linguagem usada para descrever esses fenômenos e estudá-los. ”

Ela lembra que teve bastante indecisão ao escolher a carreira que seguiria, chegando a fazer vários testes vocacionais, e, sem surpresa alguma, todos a indicaram para a área das ciências exatas. No último ano do ensino médio, reduziu suas opções aos cursos de matemática e física, e foi com a ajuda de sua tia Cleide, formada em matemática, que optou pelo mesmo curso. Entre 2003 e 2007, Jaqueline conclui então a graduação em matemática na Universidade de Brasília (UnB).

A cientista conta que ao ingressar na graduação, não tinha intenção de seguir carreira acadêmica, pelo contrário, planejava ser professora de matemática do ensino fundamental e médio, e lembra a importância dos conselhos que recebeu na UnB: “durante os anos intermediários da graduação, senti necessidade de aprofundar mais meus estudos na matemática pura e cursei algumas matérias do bacharelado. Além disso, tive uma professora na UnB, Maria Terezinha Jesus Gaspar, que me incentivou muito a seguir para o mestrado, me recomendando para fazer o curso de verão no ICMC/USP. ”

Entre 2007 e 2009, Godoy fez o mestrado em matemática pela Universidade de São Paulo (USP). Ela conta que sua orientadora, a professora Márcia Cristina Federson, teve um papel essencial na sua decisão de seguir a carreira acadêmica. A nova afiliada ressalta também o grande apoio que recebeu de sua família, e mostrou gratidão aos incentivos dados por sua mãe, seu marido e sua sogra.

Dando continuidade à sua formação, em 2009 Godoy iniciou o doutorado em matemática, e em 2012 concluiu o programa, também na USP. Durante este tempo, realizou um período sanduíche na Academia de Ciências da República Tcheca. Entre 2012 e 2013, realizou dois programas de pós-doutorado em matemática: um pela USP, e outro pela Universidad de Santiago de Chile.

Como pesquisadora, Godoy tem atuado na linha das equações diferenciais funcionais com retardamento. Estas equações são necessárias no estudo de fenômenos que não ocorrem instantaneamente, que possuem um lapso entre o tempo de causa e efeito. A cientista explica: “Podemos ver no nosso cotidiano muitos fenômenos deste tipo, como por exemplo, quando um paciente ingere um medicamento, o efeito deste não ocorre instantaneamente, mas existe um tempo entre a ingestão do medicamento e o seu efeito. Além disso, podemos ver isso no tempo de gestação, dentre outros. ”

Atualmente, a acadêmica também trabalha como professora do Departamento de Matemática da UnB e secretária regional da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), além de editar as revistas Journal of Mathematics and Statistics e Advances in Dynamical Systems and Applications.

Vencedora do prêmio Bernd-Aulbach prize for students, concedido pela International Society of Difference Equations, e selecionada como Oberwolfach Leibniz Fellows pelo Mathematisches Forschungsinstitut Oberwolfach, Jaqueline Godoy falou sobre mais essa honra de se tornar membro afiliada da ABC: “Esse título significa um reconhecimento muito importante e significativo na minha carreira e formação como pesquisadora. Representa também um grande estímulo para aumentar ainda mais a dedicação à pesquisa que venho desenvolvendo e à divulgação científica da matemática em nível nacional e internacional. ”

A cientista reafirmou o compromisso de atuar na formação de recursos humanos e obter resultados significativos e relevantes em sua área de pesquisa. “Almejo participar ativamente das atividades realizadas pela Academia Brasileira de Ciências e contribuir com elas”, completou a nova afiliada da ABC.

 

http://www.abc.org.br/membro/jaqueline-godoy-mesquita/

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Surfando em um mar de descobertas (MG_CO)

Inspirado pelos pais, Alexander Birbrair aprendeu a gostar de ciência logo cedo. Com pai e mãe ambos acadêmicos da área matemática, Alexander cresceu admirando aquele estilo de vida voltado para a ciência e naturalmente desenvolveu o hábito de se perguntar o porquê das coisas, essencial para seguir a carreira de cientista. Agora, o novo membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências investe sua curiosidade na pesquisa dos microambientes teciduais, conduzindo uma investigação sobre a função de cada componente celular nos tecidos sob diversas condições fisiológicas e patológicas.

Nascido no dia 24 de agosto de 1986, em Voronej, na antiga União Soviética, ainda menino Alexander e sua família passaram por Israel, Rio de Janeiro e Valladolid (na Espanha), mas a maior parte de sua infância e adolescência foi passada em Fortaleza, no Ceará. Ele conta que foi uma infância bem feliz, gostava de praticar atividades ao ar livre, adorava surf, capoeira e futebol. E revelou: “Quando era criança do que menos gostava era de estudar. ”

Ainda assim, na escola, suas matérias favoritas eram biologia e história. O Acadêmico explicou que as professoras foram essenciais nesta escolha: teve uma professora muito boa de botânica na Espanha, e outra de história no Brasil que o dava liberdade para escrever o quanto quisesse nas provas, o que fez com que ele tivesse um apreço muito maior por estas duas disciplinas.

Às vésperas do vestibular, Alexander optou por medicina. Até então não sabia da existência do curso de biomedicina, mas, um acidente sofrido na adolescência já o instigava a seguir a área: “Devido a alguns problemas médicos, principalmente ter caído numa fogueira quando morava na Espanha e ter ficado internado duas semanas no hospital com queimaduras de segundo grau, eu sabia que queria trabalhar na área medica descobrindo curas novas. ”

Na hora da escolha das universidades em que gostaria de estudar, um critério inusitado surgiu: amante de surf e praia, as universidades deveriam estar localizadas em cidades litorâneas. Assim, prestou vestibular em quatro cidades: Florianópolis, Fortaleza, Ilhéus e Rio de Janeiro.

Por escolha ou destino, os pais de Alexander acabaram inscrevendo-o no vestibular de biomedicina da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), em Ilhéus, ao invés do de medicina. Com medo do filho não ser aprovado em medicina, graças a uma prova obrigatória de inglês – língua da qual Alexander não sabia nem uma palavra -, seus pais acabaram por apresentá-lo a sua futura carreira. “Pesquisei na internet o que era o curso e descobri que era exatamente o que eu sonhava e queria fazer: o caminho mais curto para virar cientista na área médica e ter a capacidade de descobrir curas novas”, lembrou o cientista.

Em 2005 ingressa no curso e então em 2009, se forma em biomedicina pela UESC. Sobre este período, mostrou gratidão aos professores que o orientaram em suas pesquisas: “Durante minha graduação, os meus orientadores da Bahia, Rachel Passos Rezende e João Carlos Teixeira Dias foram essenciais nos meus primeiros contatos com a vida laboratorial, pois me deram muito liberdade dentro do laboratório. E também, no final da graduação, ter trabalhado no laboratório da professora Helena Nader na Unifesp me impulsionou bastante a ser bem proativo. ”

Entre 2010 e 2014, Birbrair realiza o doutorado em neurociência na Wake Forest University, Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Lá também recebeu grande apoio de seu orientador, o professor Osvaldo Delbono. Ele conta que apesar de estudarem principalmente a fisiologia do músculo esquelético, seu interesse por células-tronco foi prontamente aceito e apoiado no laboratório.

Buscando seguir na pesquisa de células-tronco, entre 2015 e 2016, o cientista realiza o pós-doutorado em biologia celular na Albert Einstein College of Medicine, em Nova York. Durante este tempo, trabalha no laboratório do professor Paul Frenette, renomado cientista da área de células-tronco.

Atualmente, Birbrair tem se voltado para a descoberta das funções de diferentes tipos de células em diferentes tipos de tecidos. Trabalhando no laboratório da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde também atua como professor, o Acadêmico obteve tecnologias modernas que possibilitaram colorir os diferentes tipos de célula.

Ele explica que esta técnica realizada na UFMG facilita a análise dos tecidos, ajuda na compreensão de como as células se comunicam e de como uma célula-tronco consegue se transformar em outra célula. “Essas análises contribuem para projetos com outras universidades do Brasil e de fora em pesquisas com temas como Alzheimer, doenças no sistema nervoso central, zika, malária, leishmaniose, doença renal, entre outros assuntos”, explicou o cientista.

Birbrair conta que sempre teve a vontade de trabalhar fazendo algo importante para a humanidade e viu na ciência esta oportunidade: “Na ciência, me encanta a independência, o sentimento de ter nas suas próprias mãos o poder de mudar o mundo, de descobrir algo melhor, algo que realmente faça a diferença na humanidade”.

Sobre o título recebido da Academia Brasileira de Ciências, o cientista brincou: “é um sentimento muito bom e uma honra ser eleito para a ABC, como ser convocado para a seleção brasileira”. Como membro afiliado, Birbrair pretende dar continuidade ao trabalho que tem realizado, fazer grandes descobertas e avançar no caminho da cura para as doenças que estuda.

“A oportunidade de estar na ABC é ótima para conviver com pesquisadores de excelência de todas as áreas da ciência. Acredito que grandes descobertas hoje em dia são multidisciplinares, por isso pretendo aprender muito com os colegas da ABC, e espero traduzir isso em produtividade”, completou o novo afiliado da ABC.

 

http://www.abc.org.br/membro/alexander-birbrair/

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Do hobbie à profissão (RJ)

Algumas crianças gostam de colecionar selos, outras, figurinhas de astros do futebol, mas Leandro Soter, aos 14 anos, colecionava bulas de remédio. “Ficava radiante sempre que os médicos da família receitavam algum medicamento novo cuja bula ainda não possuísse. Perdia tempo lendo-as inteira e minuciosamente e adorava aqueles nomes e termos, para mim então, incompreensíveis”. O hobbie, para muitos, estranho, era apenas o prelúdio de uma paixão pela pesquisa química que se desenrolaria em uma carreira de muito estudo e sucesso na academia.

Apegado à ciência desde criança, Leandro optou, ainda jovem, por iniciar suas pesquisas o mais cedo possível. Decidiu, depois de ter dois anos de ensino médio cursados, voltar ao primeiro para que pudesse estudar na escola técnica Federal de Química do Rio de Janeiro (ETFQ), hoje, Instituto Federal de Química (IFRJ). “Lá, a cada período que avançava, a discussão e troca de experiência diferentes professores foram responsáveis por cristalizar a carreira científica como aquela que gostaria de seguir. Nunca pensei em outra coisa que não a academia. ” A influência de um ensino básico aplicado permitiu que Leandro começasse a graduação conjugada com a iniciação científica desde o primeiro período.

No começo da graduação em farmácia, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Leandro identificou muito dos conceitos que já conhecia de sua experiência na ETFQ. Por isso, a segunda parte do curso foi a mais interessante, já que foi ali que ele começou a realmente conhecer novas áreas na química e se interessar pela química orgânica, que adotaria em suas pesquisas posteriores. Ele seguiu para um mestrado e posterior doutorado em química de produtos naturais, também na UFRJ. A pesquisa atual de Leandro se concentra na busca por produtos que usem biocatalisadores na síntese de ingredientes farmacêuticos ativos.

O pesquisador trabalha em conjunto com a indústria farmoquímica e diz buscar sempre produtos que possam ter uma aplicação, ainda que em escala de laboratório. Para Soter, “o mundo que temos hoje não seria possível sem ciência e, neste contexto, a química tem papel de destaque”. Ele afirma que o que lhe encanta na área é a possibilidade de analisar transformações de propriedades de matérias e descobrir como isso pode ser revertido em ações práticas que interferem na sociedade e no mundo.

Ao longo dos anos, o antigo hobbie de colecionar bulas de remédio ficou para trás e deu lugar ao estudo daqueles nomezinhos indecifráveis. Mas a leitura, em si, não foi abandonada. Hoje, Soter usa suas horas vagas, quando não está no laboratório para ler clássicos da literatura ou viajar. “Os destinos culturais e gastronômicas são os meus preferidos”, afirma.

Fisgado pela ciência (RJ)

Miguel Campista é um exemplo de cientista que foi fisgado pela pesquisa pelos pés. Como um de seus orientadores costumava dizer, “o bichinho o picou”. Embora não tenha planejado seguir os passos acadêmicos desde cedo, uma vez no mestrado, o engenheiro de telecomunicações se apaixonou pela academia e decidiu seguir na área.

Independente da carreira que viesse a seguir, a aptidão com os números já estava clara desde o começo. O menino era aluno nota 10 na escola, e manteve a média durante todo o período de ensino básico. Na faculdade, titubeou entre a física e a engenharia, mas optou pela segunda. “Desisti da física porque não achava que existiriam muitas oportunidades no mercado de trabalho nacional. Tinha medo de ter apenas como opção a carreira de professor e por isso mantive o plano de fazer engenharia. A vida é curiosa e acabou de qualquer forma me levando para o caminho da docência, conforme eu ia conhecendo melhor a profissão. ”

Finalizando a graduação na Universidade Federal Fluminense (UFF), começou seu difícil processo de decisão sobre qual caminho seguir. Certo de que devia aprimorar o currículo para entrar com força no mercado de trabalho, iniciou os estudos no mestrado em engenharia elétrica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi neste período que a pesquisa lhe ganhou. “Parece que já era o meu destino e não tinha como fugir”, brinca.

Concluído o mestrado e já conquistado pela docência, Miguel seguiu para o doutorado, ainda na UFRJ. A essa altura, o ambiente do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ) já servia de inspiração para Miguel. Lá, sua pesquisa era ligada à rede de computadores, estudo com uma gama ampla de possíveis aplicações, indo desde troca de mensagens telefônicas até o sensoriamento de sinais vitais de um paciente em leito de hospital ou rastreamento de sinais de tempestade em perímetros urbanos.

Para Miguel, são muitos os motivos que explicam sua paixão pela pesquisa e pela docência. O engenheiro destaca que a possibilidade de despertar interesse e curiosidade em seus alunos, a oportunidade de propor coisas novas e o processo de geração de conhecimento são o que lhe movem em seu dia-a-dia como pesquisador. “Isso tudo é uma enorme recompensa e acredito que extrapola a área de pesquisa. ” Ele define como uma grande recompensa também a nomeação como membro afiliado da ABC, para ele, uma surpresa e uma honra, já que se destacou “em meio a tantos cientistas ilustres”.

Os experimentos de Miguel extrapolam a barreira do laboratório e vão parar em casa. Lá, porém, é na cozinha que o engenheiro se aventura em tentativas e novidades. Apaixonado por músicas e séries, os hobbies perderam espaço há três anos para as batalhas entre robôs e dinossauros. Ele explica: “É como passo o tempo brincando com meu filho, o que é, hoje, meu maior prazer nas horas de lazer”.

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