Leia matéria de Hugo Passarelli sobre entrevista de Luiz Davidovich, presidente da ABC, publicada no Valor Econômico, em 4/4:

Em evidência desde a eclosão da pandemia de covid-19, a negação do saber científico é tática comum adotada por diversos governos autoritários ao longo da história. Trazida para o Brasil, a estratégia forma o “kit ideológico”, espécie de junção entre esse “terraplanismo científico” e opiniões polêmicas sobre a política e a administração geral de um país, opina o físico Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC).

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Apesar dos retrocessos já conhecidos, Davidovich pontua que o negacionismo frequentemente se associa a movimentos políticos que tentam contestar a racionalidade. “É muito mais fácil reunir pessoas em torno de objetivos irracionais. Não é de agora que regimes autoritários aderem a teorias equivocadas do ponto de vista da ciência”, diz.

Além dos aspectos ideológicos, o físico também lembra que há características sociológicas que aglutinam grupos contrários às evidências científicas. “As pessoas se reúnem em torno de ideias exóticas e se sentem num grupo de pertinência. Algumas também assumem que, pela linguagem às vezes hermética da ciência, o que não é compreendido por elas está errado”, afirma.

À frente da ABC, Davidovich tem tentado desmistificar a linguagem tida como árida da ciência e aproximá-la da população. “A Academia Brasileira de Ciências tem feito um esforço muito grande para divulgar o que a ciência faz pelo Brasil e fazer proposta de políticas públicas baseadas em evidências”, diz.

Na quinta-feira, Davidovich participa de debate sobre o valor da ciência com dois prêmios Nobel – a norueguesa May-Britt Moser, ganhadora do Nobel de Medicina em 2014, e o francês Serge Haroche, Nobel de Física em 2012. Para dialogar com os especialistas, 40 estudantes de graduação e pós-graduação de 38 universidades públicas e privadas foram selecionados. “Pensamos nesse tema porque, antes mesmo da pandemia, já havia uma tensão no Brasil em relação à ciência”, diz. O evento é uma parceria da ABC com o braço de comunicação da Fundação Nobel e o Instituto Serrapilheira.

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Para Davidovich, o resultado é que o Brasil está indo na contramão de outros países. “Os Estados Unidos estão colocando centenas de bilhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento, o mesmo faz a Europa. Ao mesmo tempo, o Ministério da Ciência e o da Educação têm sofrido cortes violentos nos últimos anos”, diz.

Segundo ele, a visão econômica em Brasília é de uma política de planilha, meramente contábil. “A política econômica é muito importante para ficar só na mão dos economistas. Ela precisa entrar nas questões sociais, de pesquisa, inovação e desenvolvimento sustentável do país”, diz.

Leia a matéria na íntegra no Valor Econômico.