Curioso desde criança, eram os programas infantis com figuras de professores, cientistas e inventores que chamavam a atenção de Marcelo Andrade de Lima, membro afiliado da Regional São Paulo da ABC para o período de 2018 a 2022. O biólogo é, hoje, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e conduz pesquisas sobre estrutura, função e a biossíntese de glicosaminoglicanos.
Nascido em Natal, no Rio Grande do Norte, e criado em Ponta Negra, Marcelo sempre esteve próximo a praia, onde suas diversões eram o surf, a pesca e a natação. Na infância, os programas sobre ciência na TV chamavam sua atenção “Assistia muito ao Castelo Rá-Tim-Bum ou Glub Glub. Talvez isso tenha me influenciado na escolha da carreira”, conta ele.
Sob influência dos personagens ou não, o destino de Marcelo após a escola estava traçado nas ciências gerais. Ainda incerto sobre biologia ou física, chegou a fazer um intercâmbio cultural para os Estados Unidos. “Com 15 anos, ainda estava muito novo para tomar uma grande decisão”, comenta. Na volta, foi a biologia quem ganhou a disputa. Marcelo acreditava que a área proporcionaria maior interdisciplinaridade nos estudos.
Marcelo optou por fazer a graduação em biologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ainda durante o curso, começou os estudos sobre glicosaminoglicanos (macromoléculas com bases de carboidratos), que pretendia seguir na pós-graduação. A dúvida era apenas onde estudar. Optou por não regressar a Milão, onde havia feito estágio durante a graduação e sair de Natal, seguindo, assim, para a Unifesp. “Em São Paulo, poderia ser exposto a outras técnicas, além das espectroscópicas, que seriam relevantes nesta etapa da minha formação”, diz o jovem afiliado.
A Acadêmica e bióloga Helena Nader foi quem orientou Marcelo na segunda etapa da formação. Eles pesquisavam a clonagem e expressão da enzima 3-O-Sulfotransferase envolvida na biossíntese de glicosaminoglicanos em tecidos de camarão. O projeto era desafiador, já que era bem diferente do que Marcelo estudou na iniciação científica.
Em 2008, uma crise mundial relacionada à heparina fez com que o projeto fosse cancelado e o grupo voltasse a estudar a análise estrutural de heparina. Uma boa e curiosa notícia é que o projeto inicial foi finalizado por uma das atuais estudantes de doutorado de Marcelo.
A tese defendida por ele na conclusão do mestrado demonstrou o controle de qualidade de preparações farmacêuticas de heparina utilizando métodos espectroscópicos acoplados a análises matemáticas. Além disso, o biólogo denunciou que heparinas contaminadas já circulavam no mercado brasileiro antes que a crise sobre o composto fosse gerada, em 2008.
Nader seguiu orientando Marcelo durante seu doutorado, também pela Unifesp. Durante o período, ele estagiou no laboratório do professor Arthur Edison, no Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade da Florida, Gainesville. Lá, ele se envolveu no estudo de métodos matemáticos e estatísticos para análise de misturas complexas, desenvolvido por Edison para análise de metabolômica (a identificação dos metabólitos de um organismo). A experiência serviu para que Marcelo passasse a introduzir modelos matemáticos na análise de glicosaminoglicanos.
Atualmente, Marcelo continua sob a orientação de Nader em um projeto de pós-doutorado que pretende isolar glicosaminoglicanos a partir de resíduos da carcinicultura que sejam capazes de inibir a angiogênese e ação vaso reguladora. O biólogo comenta que o que mais lhe instiga em sua pesquisa é ser capaz de compreender o diferente. “Como a síntese de carboidratos não possui um molde, ou seja, não há (ou ainda não encontramos) um código, tal linha de pesquisa é não usual”, complementa ele.
Para o novo membro afiliado, entrar para o quadro da ABC representa um reconhecimento da pesquisa que vem desenvolvendo há anos. Ele pretende trabalhar para o entendimento e divulgação da importância da ciência e ressalta: “Ciência não é – e nunca deve ser – luxo, nem tampouco feita apenas por pessoas especiais. Ela é, sim, uma profissão como muitas outras e está presente em tudo que fazemos e sentimos como seres vivos.”