Biológo de formação e novo membro afiliado da Regional São Paulo da ABC, Marcelo Mori é o resultado de uma ontogênese, como ele mesmo define. Para o pesquisador, sua escolha de carreira e todo seu processo de formação são a consequência de todas as experiências que vivenciou. “Do desenvolvimento embrionário ao envelhecimento, seres vivos são o resultado de processos ontogenéticos”, explica ele.
Natural da cidade de São Paulo, criado pela mãe, com a ajuda dos avós, Marcelo perdeu cedo o pai biológico. Mais tarde, foi ganhar irmãos com o novo companheiro da mãe, a quem considera um verdadeiro pai. A irmã é médica e o irmão, empreiteiro. O avô é uma figura marcante na vida de Marcelo, a quem considera um modelo a ser seguido. “Na escolha pela ciência, meu avô paterno foi o gatilho principal. Era professor de língua portuguesa e literatura, e daí veio meu incentivo para a leitura. Considero ele meu maior símbolo de altruísmo e um ídolo.”
Marcelo credita seu interesse pela ciência, em parte, a uma infância solitária. Ainda sem irmãos quando pequeno e morando em apartamento, precisou descobrir como se divertir sozinho, lendo e, com imaginação, criando jogos de interpretação, raciocínio e lógica. Na escola, era uma amante da história. O motivo, no entanto, faz sentido: “Sempre fui fascinado por entender o processo, o como e o porquê das coisas.”
O interesse pelas ciências biológicas ganhou, finalmente, da paixão pela história quando notícias de revoluções genéticas começaram a ser divulgadas. Ao saber de casos como o da ovelha Dolly e o projeto Genoma, Marcelo se encantou pelo cenário biológico e decidiu que queria fazer parte do grupo de profissionais que lidava com a genética.
O Projeto Genoma ainda o acompanharia durante a graduação. No primeiro ano de ciências biológicas na Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), subiu até o 15º andar e foi descendo, parando nos laboratórios de cada andar para saber o que se pesquisava neles. No 4º andar, um nome familiar pregado à porta lhe chamou atenção: “Projeto Genoma Humano”. A prática, no entanto, não era o que esperava o ingênuo recém-chegado à faculdade. Decidiu buscar um segundo projeto e passou a integrar o grupo do professor João Bosco Pesquero, no laboratório que lidava com engenharia genética e gerou o primeiro animal transgênico do Brasil. Se encantou pela pesquisa e seguiu nela até o doutorado, que cursou também na Unifesp, ainda sob orientação de Pesquero. Posteriormente, concluiria um pós-doutorado no Centro de Diabetes Joslin, na Escola de Medicina de Harvard, em Boston, nos Estados Unidos.
A linha de pesquisa defendida por Mori tem como foco o tecido adiposo. Ele brinca que o material é um grande vilão para algumas pessoas, mas que, para ele, representa muito mais do que um reservatório de gordura. Este material é capaz de perceber quando a disponibilidade de energia para o organismo é alterada, alertando os outros órgãos do corpo, que se adaptam à esta situação, seja mudando a forma de absorção de nutrientes, no caso dos músculos, ou mudando a ingestão alimentar, como o cérebro. A pesquisa de Mori analisa os sinalizadores do tecido adiposo. “Atualmente, buscamos identificar quais são os principais mediadores moleculares que participam desse processo. Identificando esses mediadores, poderíamos vislumbrar a possibilidade de usá-los como alvos para intervenções, visando assim aumentar o tempo de vida saudável de indivíduos”, explica ele.
Mori vê a ciência como uma possibilidade de transcender o indivíduo. “A ciência traz um método único de maximizar as contribuições individuais, de torná-las potencialmente relevantes, de maneira a nunca serem ignoradas. A configuração ideal de altruísmo.” O pesquisador tem grande preocupação em garantir que seu trabalho seja uma contribuição à ciência. Para ele, ela só funciona de maneira ideal quando há cooperação e uma congruência do trabalho de diferentes indivíduos.
É a máxima da contribuição do trabalho em equipe e das pequenas contribuições individuais formando o todo que Mori pretende levar em sua atuação como membro afiliado da ABC. Ele pretende ainda trabalhar para levar a ciência aos jovens e garantir que outros possam fazer parte desse universo.
E quem pensa que ele deixou a história de lado quando escolheu a biologia, se engana. Nas horas vagas, o biólogo lê muito conteúdo da área, além de tocar baixo em um grupo de cientistas rockeiros que formou com os colegas. Sobre a música, ele explica: “Os riffs repetitivos e os acordes distorcidos são um estímulo inconsciente para mim. As letras e a atitude, uma marca do inconformismo ingênuo que me cativa. ”