Esquecidas pela indústria farmacêutica, mas capazes de fazer milhões de vítimas mundo afora, doenças como malária, dengue e leishmaniose podem ganhar vacinas em até dez anos. Este é o objetivo do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Vacinas, que encerra hoje um seminário de três dias no Rio.

A leishmaniose é a doença com resultados mais avançados. Desde 2008 está disponível uma vacina para cães – contaminados pelo mosquito-palha, o mesmo que, logo depois, infecta também o homem. “O cão é o reservatório dos parasitas”, atentou Ana Paula Fernandes, bióloga da Faculdade de Farmácia da UFMG. “Conduzimos uma série de estudos para comparar os antígenos, as substâncias que desencadeiam a produção de anticorpos, e um deles se destacou na produção de uma resposta imune”.
Para uso em humanos, a vacina teria de passar por adaptações. E a mudança é urgente. Até a década de 90, quase todos os casos ocorriam no Nordeste. Hoje, aquela região responde por apenas metade das ocorrências. A doença avançou para estados onde nunca havia sido registrada antes, como Minas Gerais, Goiás e Espírito Santo. “Está praticamente fora de controle. Essa expansão deve-se à migração das famílias, que levam cães infectados, e à urbanização e ao desmatamento, que fazem o mosquito-palha multiplicar-se com ainda mais facilidade”, diz Ana Paula.
A doença causa febre prolongada e provoca anemia, tosse, diarreia e perda de peso. Cerca de 20 mil pessoas são infectadas anualmente pela leishmaniose no Brasil. Um número muito inferior ao da dengue – que, na epidemia de 2008, deixou mais de 1 milhão de vítimas. O desafio é produzir uma vacina que proteja dos quatro sorotipos virais, todos já em circulação no país.
Um dos rumos estudados é a imunização combinada de vacinas de DNA e um vírus quimérico, formado por pedaços de mais de um vírus. No caso, daqueles responsáveis pela febre amarela e pela dengue. “No Brasil, já temos tradição na produção de febre amarela”, lembra Myrna Bonaldo, bióloga e pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz. “Estamos observando, nos primatas, como cada sorotipo se prolifera e se um deles é dominante”.
Na malária, a diversidade de “raças” também é um desafio para os pesquisadores. Ou seja, uma vacina contra o Plasmodium vivax, que infecta até 400 milhões de pessoas anualmente no mundo, teria de abranger todas as cepas de parasitas descritas. Quatro proteínas estão sendo desenvolvidas e foram apontadas como possíveis candidatas a esta vacina universal. A doença, letal em muitos casos, provoca febre alta, dores de cabeça e hemorragias.