O Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ foi fundado em março de 1969 e completa 40 anos. “Sua origem, na verdade, foi um ato da ditadura, um ato arbitrário. A medida fez parte da reforma universitária, imposta durante o governo linha-dura do Marechal Costa e Silva, em plena ditadura militar. O governo disse que tinha que fazer a reforma universitária e que tinha que ser assim. Não houve autenticidade, não foi uma opção dos professores. O nosso instituto, assim como os outros que foram criados, sofreu com isso no início. Nós fomos separados de outros profissionais da área médica, de instituições diferentes, de especialidades diferentes. Perdemos a integração com a área clínica, por exemplo”, contou o diretor do ICB, o Acadêmico Roberto Lent.

Unir profissionais locados em departamentos tão distintos foi difícil, como conta o atual diretor do ICB, o professor Roberto Lent. Segundo ele, os professores que davam aulas em cursos diferentes da universidade tiveram que se reorganizar sob uma nova área, mas sem uma convicção para encarar tamanho desafio. Mas o diretor do ICB ressalta que a mudança também rendeu um bom legado ao Instituto. “A implantação da pesquisa científica na universidade, por exemplo, foi fundamental. Não existia até então. Todo o ensino era de livro. O professor não produzia nada, o conhecimento era importado. A criação do ICB teve esse mérito. Os professores passaram a produzir conhecimento. Foi possível contratar pesquisadores e fundar os cursos de pós-graduação”, lembrou Lent.

De volta ao presente, é hora de concentrar esforços para corrigir os enganos do passado. Para solucionar a falta de integração com as demais áreas médicas, perdida à época da fundação do Instituto, a direção planeja a mudança do ICB para o prédio do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, que pode ocorrer já em meados de 2010. O Ministério da Ciência e Tecnologia liberou, através da Finep, a verba para a construção das novas instalações em espaços ociosos do hospital.

“Não faz sentido voltar na história, abolir o instituto. A mudança para o prédio do hospital vai resgatar essa integração básico-clínica, de modo que essa proximidade ajude a fomentar com a pesquisa clínica que eles fazem a pesquisa básica que a gente faz”, explicou. “Já recebemos R$ 700 mil para a elaboração do projeto executivo de mudança, que já foi licitado e deve ficar pronto em dois ou três meses. Se tudo der certo, e se a crise financeira permitir, vamos receber mais 12 ou 13 milhões de reais até julho, para licitar a empresa de engenharia que vai fazer a obra.”

O ICB contabiliza hoje 34 laboratórios de pesquisa, 70 professores, 43 orientadores credenciados de pós-graduação, 59 alunos de mestrado e 83 alunos de doutorado. O número de teses defendidas recentemente dá uma idéia do tamanho da produção intelectual que acontece no instituto: de janeiro de 2006 a dezembro de 2008, foram 101 teses de mestrado e 51 de doutorado.

Além de ter um curso próprio de graduação, o de Ciências Biológicas, que conta com 162 alunos atualmente, o ICB ainda ministra 200 disciplinas do ciclo básico de 15 cursos profissionais da área da saúde, como Medicina, Enfermagem e Nutrição. Cerca de 3.700 alunos são atendidos a cada semestre nessas aulas.

E o Instituto também coleciona resultados bem sucedidos na área de pesquisa, como os avanços no estudo de células-tronco. “Temos estudos de bioengenharia e terapias celulares que de certa forma são pioneiros. Estudamos a restauração de tecidos cutâneos em queimados, transplante e recuperação de pele. Também temos o pesquisador e Acadêmico Radovan Borojevic, que trabalha em parceria com o Instituto de Biofísica e o hospital Pró-Cardíaco, no estudo da aplicação de células-tronco para problemas cardíacos”, contou Roberto Lent.

“Temos a primeira linhagem de células-tronco embrionárias e por causa do nosso trabalho o Instituto foi selecionado pelo Ministério da Saúde para montar um grande laboratório de produção de células-tronco embrionárias, como se fosse uma grande fábrica, que vai fornecer para hospitais, institutos e até indústrias. A intenção é fomentar o desenvolvimento de tecnologias celulares”, revelou. Para a implantação do laboratório que produzirá células-tronco em grande escala, o Ministério da Saúde liberou um financiamento de R$ 4 milhões, que devem ser gastos nos próximos três anos.