A biomédica Helena Bonciani Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), foi entrevistada pelo bioquímico Daniel Martins-de-Souza – professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e ex-afiliado da ABC (2017-2021) – para o podcast “Para Além do Lattes”, uma iniciativa de divulgação científica do ex-Acadêmico que busca difundir conversas com grandes nomes da CT&I nacional.
Durante a conversa, Nader refletiu sobre a forma como o Brasil entende a ciência e a educação. Segundo a pesquisadora, a educação científica deveria começar na creche. “A criança precisa exercitar o pensamento crítico e a curiosidade, elas já fazem isso naturalmente. Criança não aceita a informação sem testar. Observo meus netos em escolas que valorizam essa formação experimental, mas essa não é a realidade da maioria das crianças”, afirmou.
Nader também criticou o fato de a ciência nunca ter sido uma política de Estado no país, mas dependente dos governos de turno. A descontinuidade nos investimentos é um dos maiores problemas que o setor enfrenta. “Construir leva anos, mas destruir leva meses. Não podemos ter projetos de anos perdidos porque faltou dinheiro para preservar amostras”, lamentou Daniel Martins-de-Souza.
“O Brasil tem excelência em muitas áreas de pesquisa, tem centros de pesquisa muito bons, mas falta articulação. Não adianta termos ilhas isoladas, sem vasos comunicantes. Outro problema é a fragilidade orçamentária. No momento em que se garante um recurso é preciso que seja de fato, não pode parar tudo no ano seguinte. A ciência básica precisa ter realmente longo prazo, pode levar décadas, um exemplo é a vacina de RNA. Os empresários brasileiros precisam ser reorientados para uma política de ganho ao longo prazo, ele precisa ter uma relação maior com a universidade, assim é no mundo inteiro”, avaliou Nader sobre caminhos para o futuro.
