DECLARAÇÃO DOS CIENTISTAS SOBRE O ESTADO DAS NEGOCIAÇÕES DA COP 30 EM 19/11/2025
Estamos em um ponto de inflexão planetário. Já enfrentamos perigos. Bilhões de pessoas já sofrem, e avançamos rápido rumo a pontos de inflexão na Amazônia, nos sistemas de recifes de coral tropicais e em muitos outros. A COP30 tem uma escolha a fazer: proteger as pessoas e a vida ou proteger a indústria de combustíveis fósseis.
Ambas as propostas de texto de roteiros para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis e para o fim do desmatamento são uma provocação. Os delegados parecem não entender o que é um roteiro. Um roteiro não é um workshop ou uma reunião ministerial. Um roteiro é um plano de trabalho real, que precisa nos mostrar o caminho, de onde estamos, para onde precisamos chegar – e como chegar lá.
Precisamos chegar o mais próximo possível de zero emissões absolutas de combustíveis fósseis até 2040, no máximo até 2045. Isso significa, globalmente, nenhum novo investimento em combustíveis fósseis, a remoção de todos os subsídios a esses combustíveis e um plano global sobre como introduzir fontes de energia renováveis e de baixo carbono de maneira justa, e eliminar rapidamente os combustíveis fósseis. O financiamento de países ricos para países em desenvolvimento é imprescindível.
Na COP30, em Belém, não basta mais afirmar que o financiamento de países desenvolvidos para países em desenvolvimento é imprescindível — ele precisa ser previsível, baseado em doações e consistente com a transição justa e equidade. A credibilidade do Acordo de Paris depende disso. Sem ampliar e reformar o financiamento climático, os países em desenvolvimento não podem planejar, não podem investir e não podem realizar as transições necessárias para a sobrevivência.
A única razão pela qual podemos pensar na eliminação gradual e ordenada dos combustíveis fósseis é porque presumimos que as florestas continuarão sendo um grande sumidouro de carbono. Infelizmente, temos evidências crescentes de que as florestas estão passando de sumidouros a fontes de carbono. Isso ocorre porque as florestas são vulneráveis àS mudançaS do clima que estão causando secas, incêndios, ondas de calor e conversões de uso da terra cada vez mais frequentes e intensas. A principal causa da mudança do clima é a queima de combustíveis fósseis; portanto, sem a eliminação gradual desses combustíveis, as florestas podem não ter capacidade de sobreviver e prosperar. Por isso é urgente ter roteiros para, simultaneamente, eliminar combustíveis fósseis e acabar com o desmatamento.
A maior parte das florestas tropicais intactas está em países em desenvolvimento. O roteiro para acabar com o desmatamento precisa incluir apoio financeiro, capacitação e monitoramento robusto. A proteção florestal não pode ser usada como créditos de carbono. Florestas em pé não podem ser uma desculpa para continuar queimando combustíveis fósseis.
A curva global das emissões de gases de efeito estufa precisa começar a cair já em 2026. Precisamos começar agora a reduzir as emissões de CO2 provenientes de combustíveis fósseis em pelo menos 5% ao ano. Isso precisa acontecer para que tenhamos alguma chance de evitar impactos climáticos incontroláveis e extremamente custosos, que afetem todas as pessoas no planeta.
O orçamento global de carbono, calculado pela ciência, constitui a espinha dorsal para orientar a agenda de mitigação e o ritmo da redução de emissões. O orçamento de carbono remanescente está essencialmente esgotado, reduzido a 130 bilhões de toneladas de CO2 — o equivalente a 3 ou 4 anos de emissões globais na taxa atual. Esse orçamento científico fornece a base para toda política climática séria. É nossa ferramenta de contabilidade para nos afastar do perigo. Remover o orçamento de carbono do texto significa remover a realidade da COP.
Carlos Nobre – Science Panel of the Amazon
Fatima Denton – United Nations University
Johan Rockström – Potsdam Institute for Climate Impact Research
Marina Hirota – Instituto Serrapilheira
Paulo Artaxo – Universidade de São Paulo
Piers Forster – University of Leeds
Thelma Krug – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciai