Texto original de Agência FAPESP*

Agência FAPESP* – Elton Alisson, de Belém | Agência FAPESP – Nos últimos três anos, o Pará, que sedia a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), foi impactado por uma série de eventos climáticos extremos, como secas e estiagem entre 2023 e 2024. Isso provocou um aumento no número de queimadas e de atendimentos em postos de saúde e hospitais do Estado de pacientes expostos à fumaça.
Mas não é possível encontrar nos sistemas públicos de informação quaisquer notificações de casos de intoxicação por inalação da fumaça das queimadas nesse período, afirma Roberta Souza, diretora do Departamento de Vigilância Ambiental e Saúde do Trabalhador da Secretaria Estadual de Saúde do Pará.
“A demanda por nebulizações no sistema público de saúde do Estado aumentou naquele período de ocorrência das queimadas, mas quando buscamos por uma única notificação que seja por conta dessa ocorrência não encontramos. Isso ilustra a dificuldade que ainda há no sistema público de saúde de países como o Brasil de relacionar doenças às condições ambientais”, avaliou.
“Precisamos avançar no entendimento de saúde única, na perspectiva de que o ser humano faz parte de um meio e que o processo de adoecimento se deve a alteração nesse sistema no qual está inserido”, disse Souza em um evento sobre saúde única, paralelo à COP30, realizado segunda-feira (17/11) pela FAPESP, a Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (Abema) e o Instituto Tecnológico Vale (ITV).
O objetivo do encontro foi construir uma agenda comum sobre o tema, integrando diversas abordagens sobre saúde ambiental, animal, ecossistêmica e humana nos cenários climáticos e considerando limites e possibilidades em biodiversidade.
O conceito vem ganhando destaque nas últimas conferências climáticas da ONU em razão da constatação de que as mudanças climáticas representam uma das maiores ameaças à saúde pública neste século, apontou Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP) e membro do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG).
“O conceito de saúde única mostra, basicamente, que a vida humana está integrada com o funcionamento físico, químico, biológico e econômico do nosso planeta como um todo, em suas várias vertentes, e que, portanto, os humanos são uma componente de um ecossistema global que está em mudança muito rápida. Por isso, temos de evitar um colapso no sistema global”, afirmou.
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