Realizada pela primeira vez às margens da Floresta Amazônica, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que chega à 30ª edição (COP30), terá mais uma novidade: um pavilhão dedicado inteiramente à ciência, determinado pela presidência da COP, no centro das negociações climáticas. O Pavilhão de Ciências Planetárias ajudará a conectar negociadores a cientistas e formuladores de políticas públicas, em uma espécie de “centro de comando científico”. Localizada na Zona Azul, setor onde ocorrem as negociações oficiais e sede dos pavilhões nacionais, a iniciativa tem parceria do Instituto Serrapilheira e de outras organizações.
Confira a programação completa do pavilhão aqui.

A criação do espaço foi determinada pela Presidência da COP30, em um aceno às demandas para aumentar a presença e influência da ciência nas discussões. Esta é a primeira vez que as ciências planetárias ganham um espaço específico em uma COP no centro da visibilidade política, sendo incorporada oficialmente à agenda da Presidência da COP30.

As ciências planetárias contemplam uma compreensão integrada de todo o sistema terrestre que conecta clima, natureza e pessoas. O campo reconhece que a saúde planetária e a saúde humana são uma só, e que não é possível garantir uma economia próspera e o bem-estar humano em um planeta desestabilizado.
Na prática, o pavilhão incluirá debates de alto nível, painéis de especialistas, coletivas de imprensa diárias e apresentação de relatórios. Delegações poderão se reunir no local com especialistas e mapear prioridades, possíveis soluções, riscos e oportunidades. Haverá ainda espaços para jornalistas acessarem e consultarem pesquisadores, que vão repercutir para a imprensa o que as negociações representam para a ciência.
A iniciativa é presidida pelo climatologista [e membro titular da Academia Brasileira de Ciências] Carlos Nobre, co-presidente do Painel Científico para a Amazônia, e Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto Climático (Alemanha), que propôs o conceito dos “nove limites planetários” – dos quais sete já foram ultrapassados. Já a programação é assinada por um comitê que inclui cientistas como Marina Hirota (Instituto Serrapilheira), Tim Lenton (Universidade de Exeter) e líderes de redes como Future Earth, The Earth League, International Science Council e Planetary Guardians, entre outros.
Marina Hirota, pesquisadora do Instituto Serrapilheira e integrante do conselho científico que assessora a Presidência da COP30, afirma: “O pavilhão reúne pessoas e conhecimentos científicos do mundo todo — e há um esforço crescente para integrar também outros sistemas de conhecimento, como saberes indígenas e de comunidades locais. Teremos um dia inteiro dedicado à Amazônia e outro à biodiversidade, o que mostra o reconhecimento de que esses temas são centrais em uma COP do clima.”
A discussão sobre o aumento de 1,5°C na temperatura global terá um lugar importante no pavilhão, conta Hirota, referência em estudos sobre impactos das mudanças climáticas na Amazônia. Afinal, esse é o limite a partir do qual o clima começa a entrar em desordem severa — ondas de calor e frio mais intensas, eventos extremos, ecossistemas inteiros em risco. “Estamos falhando em manter a temperatura global sob controle, e o pavilhão quer justamente discutir o que podemos fazer para reverter isso e como a ciência pode ter um impacto mais efetivo nas políticas públicas”, completa.
“A ciência deve guiar nosso caminho rumo a um planeta habitável”, afirma Ana Toni, diretora-executiva da conferência. “A COP30 será a COP da verdade, onde evidências, integridade e cooperação moldarão cada decisão que tomarmos para o futuro da humanidade.”
Programação aborda situação atual do planeta ao papel crucial da Amazônia
Entre os destaques da programação, estão painéis e debates que abordam o estado atual do planeta frente às mudanças climáticas; a importância de limitar o aumento da temperatura a 1,5º C; o papel crucial da Amazônia; a relação entre meio ambiente, justiça, direitos humanos e saúde; o fortalecimento da interface ciência-política, o status de eliminação dos combustíveis fósseis e expansão das energias renováveis, entre outros aspectos.
Haverá ainda a apresentação de publicações de diferentes organizações, como o Global Tipping Points Report, Global Carbon Budget 2025, 10 New Insights in Climate Science e Amazon Assessment Report 2025, da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (SDSN).
Um dos pilares da programação será o lançamento do Planetary Health Check 2025, uma avaliação científica abrangente que diagnostica o estado dos sistemas vitais do planeta e traduz as conclusões em recomendações concretas. Produzido por uma coalizão global de cientistas e endossado pelos Planetary Guardians, o relatório servirá como a base factual das negociações da COP30. Ele monitora o desempenho da Terra em relação aos nove limites planetários e propõe caminhos de recuperação baseados em intervenções mensuráveis.
“O Pavilhão de Ciências Planetárias representa um novo modelo, em que cientistas, lideranças indígenas e formuladores de políticas públicas criam soluções em conjunto para um futuro habitável”, diz Carlos Nobre, copresidente da iniciativa.
O Pavilhão de Ciências Planetárias terá área de 150 m² e será um “espaço de experimentação científica” imersivo, rico em dados e visualmente ancorado na estrutura dos limites planetários. Seu design contará com visualizações de dados em tempo real, exposições científicas interativas e narrativas de comunidades indígenas.
Os parceiros são: Instituto Arapyaú; Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP-MCTI); Future Earth, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA); Universidade Federal do Pará (UFPA); Universidade de São Paulo; Instituto Max Planck de Geoantropologia; Planetary Guardians; Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto Climático; Instituto Relva; Instituto Serrapilheira; Universidade Stanford; The Earth League; e Universidade de Exeter.
Já os financiadores são: Instituto Arapyaú; Bloomberg Philanthropies; FINEP-MCTI; Global Challengers Foundation; Mandalah; Fundação Rockefeller; Fundação Robertson; Planetary Guardians; Instituto Serrapilheira; Fundação David and Lucile Packard; Instituto Tecnológico Vale (ITV); Vivo; e We Don’t Have Time.