A Academia Brasileira de Ciências (ABC) participa de uma série de debates e lançamentos durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30). A agenda inclui iniciativas que visam fortalecer o papel da ciência nas discussões, como a entrega de recomendações elaboradas por Academias de Ciências de diferentes países a delegações participantes da conferência, lançamento de posicionamentos de diferentes cientistas brasileiros sobre impactos das mudanças climáticas e necessidade de conservação da Amazônia e a participação em debates promovidos no Pavilhão de Ciência Planetária, iniciativa inédita em uma COP.
Com o objetivo de ajudar a subsidiar discussões e negociações durante a COP30, a ABC enviou nesta semana à delegação brasileira um documento que aborda a urgência de proteger florestas tropicais e traz recomendações na área científica. A declaração é assinada por Academias de Ciências de 38 países, entre nações da Amazônia e outras que colaboram com pesquisas e financiamento de ações de conservação na região, além de quatro redes regionais na área científica. O texto também está sendo enviado pelas demais academias às delegações de seus países.
No documento, as academias apontam que a COP30 precisa marcar um “ponto de virada” e “não pode terminar com promessas vagas ou adiadas”. Avaliam ainda que a biodiversidade precisa “deixar de ser um tema periférico nas negociações climáticas” e ser recolocada no núcleo da agenda global durante a conferência. O texto traz ainda uma lista de recomendações na área de cooperação internacional e científica. A íntegra pode ser acessada aqui.
A declaração é um desdobramento do evento “Um chamado científico para a COP30”, realizado em Manaus em outubro e organizado pela ABC e Rede Interamericana de Academias de Ciências (Ianas). No Brasil, o documento foi enviado para Presidência da COP30, Presidência da República, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e Ministério do Meio Ambiente (MMA).
“A realização da COP30, no coração da Amazônia, transforma Belém do Pará em um palco simbólico e estratégico para o enfrentamento dos desafios climáticos globais. Nesse contexto, a Academia Brasileira de Ciências, em conjunto com outras academias do mundo, faz um chamado urgente à ação. As evidências científicas são inequívocas: estamos nos aproximando de limites críticos para a estabilidade do sistema climático, para a integridade das florestas e para a segurança das futuras gerações. Não é mais possível tratar o conhecimento científico como um alerta distante. É necessário traduzi-lo em políticas públicas efetivas, em cooperação internacional e em um compromisso ético com a vida no planeta. A COP30 deve representar um ponto de inflexão — o início de uma nova era de decisões embasadas na ciência, guiadas pela responsabilidade, pela solidariedade e pela coragem”, afirma a presidente da ABC, Helena Nader.
Além do envio das recomendações, representantes e membros da ABC também participam de uma série de debates durante o encontro. Alguns deles serão realizados no Pavilhão de Ciência Planetária, presidido pelo climatologista Carlos Nobre, co-presidente do Painel Científico para a Amazônia e membro titular da Academia, em conjunto com Johan Rockström, diretor do Potsdam Institute for Climate Impact Research (Alemanha).
Helena Nader e Adalberto Val, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e vice-presidente regional da ABC para a região Norte, participam, em 15 de novembro, como moderadores de dois painéis sobre iniciativas e soluções na Amazônia. Mais cedo, Val também coordena painel sobre a importância das águas da Amazônia, e no dia 17, sobre bioeconomia em países tropicais. No mesmo dia, Helena estará como palestrante no painel “Science in the developing world for a sustainable planet”, que discutirá como a ciência pode contribuir em desafios como mudanças climáticas, perda de biodiversidade e desigualdade social. Outros membros da ABC também participam da programação – é o caso, por exemplo, do climatologista Paulo Artaxo, que moderará debate sobre financiamento climático, entre outros. A programação completa do pavilhão pode ser conferida aqui.
“Sem informação científica, não vamos a lugar algum. Há uma conscientização de que é necessária uma coalizão mundial. Não se trata só de discutir financiamento, o que é extremamente importante. Mas precisamos também reforçar que todos nós precisamos fazer alguma coisa no lugar onde estamos. Precisamos agir localmente. Boa parte do impacto das mudanças climáticas na Amazônia não é gerada na Amazônia, mas pelo mundo. Temos também uma ameaça das mudanças climáticas na segurança alimentar mundial. São vários pontos a discutir”, afirma Adalberto Val, que estará presente durante toda a conferência.
Para Helena, a discussão sobre a proposta de um fundo para as florestas tropicais (Fundo Florestas Tropicais Para Sempre, ou TFFF, na sigla em inglês) também deve ser estimulada durante a COP. “São investimentos que podem mudar tudo. Isso mostra o valor que tem a floresta tropical para o equilíbrio climático e valoriza os indivíduos que estão na floresta e buscam mantê-la de pé”, afirma.
Além da participação em debates, a ABC prevê ainda o lançamento de dois novos documentos durante o período da COP. Um deles reunirá textos elaborados por cientistas brasileiros com diferentes abordagens sobre o impacto das mudanças climáticas e conservação da Amazônia. Outro reúne as contribuições de acadêmicos e demais cientistas convidados coletadas durante a Reunião Magna da Academia Brasileira de Ciências, realizada em maio deste ano com o tema: “Amazônia já, sem tempo a perder”. As datas de lançamento ainda serão divulgadas.
Sobre a ABC
Fundada em 1916, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) é uma instituição independente e sem fins lucrativos que reúne os mais destacados cientistas do país em diferentes áreas do conhecimento. Sua missão é promover a ciência, a educação e a inovação em benefício do desenvolvimento nacional e do bem-estar da sociedade. A ABC atua como órgão consultivo em temas estratégicos de ciência, tecnologia e inovação, oferecendo subsídios técnicos para a formulação de políticas públicas. Por meio de estudos, pareceres e publicações, contribui de forma ativa para o debate nacional sobre questões científicas, ambientais, sociais e econômicas de grande relevância. Com um quadro atual de cerca de 600 membros titulares e 150 membros afiliados, é uma das mais antigas e prestigiosas associações científicas do país. Ao longo de sua trajetória, obteve reconhecimento nacional e internacional, tendo sido voz decisiva na criação de instituições fundamentais, como o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), entre outras. No cenário internacional, desempenhou papel crucial na criação e consolidação de diversas entidades científicas e mantém até hoje posição de destaque em redes como a Academia Mundial de Ciências (TWAS), Parceria InterAcademias (IAP), Conselho Internacional de Ciência (ISC), Aliança de Organizações Científicas Internacionais (ANSO) e Rede Interamericana de Academias de Ciências (IANAS). Nessas instâncias, promove o diálogo científico global e fortalece a inserção do Brasil em iniciativas multilaterais.