
Desde pequena, Jade sempre gostou de estudar, tendo ciências como matéria favorita. Adorava brincar de escolinha, dizia que queria ser professora. Seu pai trabalhava como operário de máquinas, e a mãe, inicialmente dona de casa, começou a trabalhar como empregada doméstica, diarista e como cozinheira, conforme Jade foi crescendo. Ela tem um irmão 11 anos mais velho, que se formou em contabilidade.
“Minha mãe sempre me incentivou a estudar, pois teve acesso à escola apenas até a quarta série do ensino fundamental, enquanto alguns de seus irmãos tiveram a oportunidade de continuar os estudos”, relatou a cientista. Entre esses tios que puderam estudar está o padrinho de Jade, que seguiu a carreira acadêmica, assim como outros tios que se tornaram professores universitários. “Eles foram grandes exemplos para mim”, observou Jade de Oliveira. Graças a eles, desde muito cedo ela sabia que queria seguir a carreira acadêmica.
Aos 17 anos, Jade se mudou para Florianópolis para estudar e morou na capital por cerca de 12 anos. Cursou a graduação em farmácia e análises clínicas pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Nesse período, a disciplina de bioquímica era aguardada com muita expectativa e apreensão pelos alunos, devido ao seu alto nível de dificuldade. Sabendo disso, Jade decidiu se antecipar e, antes mesmo do início do semestre, começou a estudar pelo livro Princípios de Bioquímica, de Lehninger. Depois de cursar a disciplina, ficou claro para Jade que essa era a área na qual ela queria se aprofundar.
Em seguida, Jade fez o mestrado e o doutorado em bioquímica, na mesma universidade. Fez ainda um estágio de pós-doutorado em neurociências. Ela conta que seu sonho de se tornar professora universitária e cientista foi um grande impulso ao longo dessa jornada. Além disso, o apoio da mãe, do padrinho e do namorado, hoje marido, foram fundamentais para enfrentar os desafios desse caminho, muitas vezes exigente. “Também sou grata aos colegas que contribuíram para minha trajetória, especialmente às professoras que foram grandes inspirações. Minha mentora, Andreza Fabro de Bem, teve um papel essencial na minha formação, assim como outras professoras notáveis, como Claudia Pinto Figueiredo (UFRJ), Josiane Budni (Unesc), Manuella Kaster (UFSC) e Patrícia Brocardo (UFSC). Por fim, o apoio financeiro e os incentivos da universidade, assim como das agências de fomento, foram decisivos para que eu pudesse seguir com dedicação e perseverança”, apontou de Oliveira.
Atualmente, Jade de Oliveira é professora do Departamento de Bioquímica, docente permanente e coordenadora substituta do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas/Bioquímica e coordenadora do Laboratório de Investigação em Desordens Metabólicas e Doenças Neurodegenerativas (LABIMN) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em 2023, recebeu o Prêmio “Para Mulheres na Ciência”, pela parceria L’Oréal-Unesco-ABC.
Ela busca entender como doenças como obesidade e colesterol alto no sangue podem afetar o cérebro e contribuir para problemas como demência e depressão. “Nós estudamos principalmente o papel da inflamação no cérebro, com foco nas células da glia — especialmente a microglia — e na barreira hematoencefálica, que podem estar envolvidas na conexão entre doenças metabólicas e distúrbios neurológicos. Mais recentemente, também começamos a investigar se mudanças na microbiota intestinal podem ter um papel nesse processo”, explicou.
Sua motivação é contribuir na compreensão dos mecanismos bioquímicos e moleculares envolvidos em doenças tão impactantes como são as doenças metabólicas e as desordens que afetam o cérebro. “Além disso, me motiva saber que as descobertas que estamos fazendo ajudarão a desenvolver estratégias de tratamento e prevenção dessas doenças e melhorarão a qualidade de vida da população. Por fim, uma grande motivação para mim é a orientação dos alunos, é saber que posso estar contribuindo com a formação de novos cientistas e mudando suas vidas”, declarou a Acadêmica.
A eleição para a Academia Brasileira de Ciências foi uma imensa felicidade e uma honra para Jade de Oliveira. “É a realização de um sonho. É gratificante ver meu trabalho reconhecido, assim como a história que estou construindo junto com meus alunos e colaboradores. Fazer ciência é algo transformador”, empolgou-se a bioquímica.
Além do laboratório, Jade de Oliveira adora viajar e conhecer novos lugares, além de ser apaixonada por séries e livros. “No entanto, minhas maiores paixões são, sem dúvida, meu trabalho e minha família, especialmente meu filhinho Matteo, de três anos. Hoje, meu estilo de vida é uma combinação intensa de ciência e maternidade, duas áreas que me definem e me inspiram todos os dias”, concluiu.