Ciência para o bem-estar de pacientes e cientistas

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A farmacêutica Cristiane Luchese, professora da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), teve uma motivação muito pessoal para escolher sua área de atuação. A irmã caçula, Franciane, foi uma criança especial, diagnosticada com microcefalia em decorrência de uma infecção por citomegalovírus durante a gestação. Ela viveu por 12 anos dependendo de cuidados integrais da família. “Eu sempre dizia que iria descobrir a cura para ela, essa vivência foi um dos primeiros motores pelo meu interesse em ciência”, lembra a pesquisadora.

Na escola, Cristiane era boa aluna de Ciências e fascinava-se por aprender os processos da vida. A curiosidade e o gosto pelos estudos a acompanharam desde cedo, e a menina gostava de fazer experiências, misturar coisas e ver o resultado. Seu principal modelo profissional era a madrinha, que era farmacêutica e a levava para conhecer seu trabalho. “Dessa forma, a Farmácia se apresentou como um caminho natural, unindo meu desejo de cuidar das pessoas ao interesse pela ciência”.

Em 2001, ingressou no curso de Farmácia da Universidade Franciscana de Santa Maria. Embora a instituição fosse voltada principalmente ao ensino e oferecesse poucas oportunidades de pesquisa na época, isso não impediu Cristiane de seguir seu interesse científico. “Logo nos primeiros semestres me uni a algumas colegas e conseguimos montar um projeto de pesquisa que recebeu bolsa de apoio. Foi uma experiência marcante, porque mostrou que, com iniciativa, era possível fazer ciência mesmo em condições restritas. Eu me envolvia em todas as atividades de pesquisa e extensão que apareciam”, conta.

Ao terminar o curso, Cristiane entrou em uma zona de incerteza, já que tinha o sonho de fazer pesquisa ao invés de seguir diretamente para o mercado de trabalho. Mas esse caminho parecia distante. Foi então que ela se deparou com um edital para mestrado na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e resolveu tentar. “Nesse momento, um verdadeiro anjo apareceu na minha vida: a professora Cristina Wayne Nogueira. Ela me acolheu no laboratório como voluntária, confiou em mim e, mesmo sem me conhecer, me incentivou a acreditar que seria possível entrar na pós-graduação. Ela abriu a porta para a carreira que construí e é até hoje minha maior inspiração”, afirma.

Cristiane cursou mestrado e doutorado em Ciências: Bioquímica Toxicológica na UFSM, estudando os efeitos pulmonares da fumaça de cigarro e outros agentes externos em ratos de laboratório. Em 2009, após obter o título de doutora, ingressou como professora da Universidade Franciscana e, em 2013, passou no concurso para professora da UFPel, mudando de cidade e começando a trilhar seu caminho na instituição em que está até hoje.

Na UFPel, é professora na graduação em Farmácia e na pós-graduação em Bioquímica e Bioprospecção. Coordena o Laboratório de Pesquisa em Neurociência Cognitiva e Comportamental (LaNeC) e integra o Grupo de Pesquisa em Neurobiotecnologia (GPN). Nesse período seu foco mudou, saindo das doenças pulmonares para as neurológicas.

“Hoje estudo moléculas que podem proteger o cérebro de doenças como Alzheimer e depressão. Testamos compostos naturais e sintéticos, e também usamos nanotecnologia para melhorar medicamentos já existentes. O objetivo é entender como essas substâncias podem ajudar a preservar a memória e a saúde mental, oferecendo novas alternativas para tratamento”, explica.

A possibilidade de transformar curiosidade em melhoria da qualidade de vida das pessoas é algo que a encanta na ciência. Processos microscópios, como as interações moleculares, podem fazer toda a diferença na vida de alguém, e é para isso que Cristiane dedica sua pesquisa.

Falando de saúde mental, a Acadêmica valoriza o equilíbrio entre o pessoal e o profissional, dedicando tempo aos filhos, ao bem-estar, à atividade física e ao artesanato. “Acredito que a ciência que transforma é aquela feita com equilíbrio entre o laboratório e a vida, entre resultados e pessoas. Minha missão é inspirar os jovens a seguirem esse caminho”, afirma.

(Marcos Torres para ABC | Foto: Luis Ventura)