
Desde pequena, Luciana já demonstrava curiosidade e inclinação para os estudos, atributos de um bom cientista. Filha de pais estudantes das humanidades, a menina sempre demonstrou predileção pelas ciências exatas e da natureza, se destacando em biologia, química, física e matemática. Também adorava colocar esses conhecimentos em prática nas feiras de ciências e resolvendo as atividades que seus mestres propunham. “Considero que meus professores daquela época foram os meus grandes incentivadores”, conta.
Escolher a carreira não foi fácil. Aluna do Colégio Militar de Porto Alegre, sua cidade natal, Luciana se viu tendo que decidir entre biologia e engenharia, duas áreas que a interessavam muito. De início resolveu prestar vestibular para a Engenharia Química no Instituto Militar de Engenharias (IME), uma das instituições mais concorridas do Brasil, mas acabou sendo reprovada. Decidiu então por tentar o curso de Ciências Biológicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e passou. “Hoje agradeço por ter sido reprovada no IME, pois na UFRGS consegui integrar todos os meus interesses de Exatas e Biológicas”, avalia.
No quarto período de faculdade, Luciana ingressou na Iniciação Científica estudando a genética de populações indígenas, com a Professora Sidia Callegari Jacques. Foi, também, quando conheceu a orientadora que a acompanharia até a pós-graduação, a professora Mara Hutz. “Tive o privilégio de ser orientada pela professora Hutz, uma pesquisadora renomada na área de genética humana. Ela foi fundamental para mim, oferecendo orientação, apoio e incentivo à excelência e inovação”, conta.
Durante o mestrado e o doutorado, ambos na UFRGS, Luciana estudou a relação entre fatores genéticos e o cérebro, investigando como algumas pessoas são mais suscetíveis a transtornos psiquiátricos. Seu trabalho nessa época foi muito influenciado pelo Acadêmico Francisco Salzano, histórico geneticista brasileiro que nos deixou em 2018. “Ter contato diário e frequentar suas aulas foram uma honra muito grande, ele foi um dos maiores geneticistas do mundo”, lembra.
Como parte do doutorado, ela teve a oportunidade de passar um período no National Institute on Drug Abuse (NIDA) dos EUA, instituição vinculada ao National Institute of Health (NIH). Lá ela foi orientada pela professora Amina Sarah Woods. “Os projetos realizados naquela época enriqueceram meu conhecimento e me proporcionaram colaborações que tenho até hoje”, avalia.
No ano de 2014, Luciana obteve o título de doutora e ingressou como professora na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Atualmente ela coordena o Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia e a Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2004.
A cidade de Pelotas é famosa por suas coortes de nascimentos, estudos de longa duração que acompanham um grupo de pessoas nascidas na mesma época para obter dados valiosos sobre a evolução da saúde ao longo da vida. “Me dedico a estudar fatores biológicos que possam predizer ou ser consequência de transtornos psiquiátricos e problemas de sono dentro das coortes. As minhas pesquisas abrangem temas como a relação entre genética e maus tratos infantis, e a relação entre sono, obesidade, marcadores bioquímicos e saúde mental”.
As coortes de nascimento possibilitam identificar padrões de difícil detecção, já que ocorrem ao longo de décadas. Essa possibilidade de traduzir conhecimento em bem-estar e qualidade de vida é algo que encanta a pesquisadora. “Os dados das Coortes de Pelotas moldaram importantes políticas de saúde pública em contextos locais, nacionais e internacionais. É muito gratificante ver o carinho e a consideração que os participantes têm pela iniciativa”, conta orgulhosa.
Na ABC, Luciana pretende atuar para promover a pesquisa brasileira e incentivar os jovens cientistas, principalmente as mulheres. Ela acredita numa ciência acessível e compreensível como forma de valorizar a área perante a população. “Gostaria de destacar a importância da diversidade e da presença feminina na academia. Eliminar barreiras que afetam as carreiras de mulheres é um dos meus principais interesses. Busco promover ambientes inclusivos, de apoio e valorização. A presença de mulheres enriquece a produção científica, trazendo perspectivas essenciais para o avanço do conhecimento”.