
Por exemplo, um dos seus projetos atuais envolve aplicar conceitos da probabilidade na análise de séries temporais de recursos hídricos, como o volume de água disponível num reservatório. Conseguir prever essa disponibilidade é fundamental para projetar a produção de energia por hidrelétricas, ou antever a necessidade de usar termoelétricas. Outro projeto, que olha para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, acompanha a evolução de indicadores, por exemplo a proporção de crianças frequentando a escola, para ver como cada país está progredindo rumo às metas.
A interdisciplinaridade se manifestou desde cedo, Renata cresceu rodeada por livros em uma família que sempre prezou pela leitura. Adorava enciclopédias e passava horas imersa em livros e, na escola, tinha facilidade em quase todas as matérias, muitas vezes ajudando os colegas a aprenderem também. “Estudávamos em uma escola pública, e esses momentos de colaboração criaram laços de amizade que perduram até hoje”, conta.
Filha única, Renata teve na mãe o apoio fundamental para focar nos estudos. Maria Cristina precisou se desdobrar para manter a casa depois que o marido, André, faleceu precocemente. Felizmente, contavam com o suporte da família, de tios e avós que moravam perto, o que fez com que Renata crescesse muito próxima às primas, Ana Paula e Fernanda, que considera irmãs. “Ana Paula, cinco anos mais velha, fez curso técnico e faculdade, e foi quem despertou meu interesse pela universidade. Já Fernanda, seis anos mais nova, também precisou se mudar de Uruguaiana para Santa Maria, para a faculdade, e moramos juntas vários anos. Crescer com elas e contar com esse apoio foi fundamental para mim.”
Refletindo sua interdisciplinaridade, Renata escolheu a área da ciência que melhor transita entre as Exatas e Humanidades, cursando Ciências Econômicas na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Os anos de graduação foram bem aproveitados, participando de projetos, estágios, extensão, monitorias e empresa júnior. Essa diversidade de experiências foi fundamental e, ao participar da Escola de Séries Temporais e Econometria, teve a certeza de que gostaria de atuar nas áreas de probabilidade e estatística. “Para alinhar essa nova linha de pesquisa com a graduação quase concluída, optei por cursar disciplinas complementares no curso de Estatística”, lembra.
Nessa época, Renata conheceu o professor Fábio Bayer, que a orientaria no mestrado em Engenharia de Produção, também na UFSM. “O professor Fábio é um pesquisador de renome nacional e internacional e desempenha um papel fundamental na formação de novos profissionais. Com o tempo, fui compreendendo a importância de ter um mentor que não só orienta pesquisas, mas também investe na formação de seus alunos como cientistas. Ele cria um ambiente enriquecedor para a interação e a troca de ideias, ajudando a construir uma visão crítica essencial para o avanço científico.”
Renata obteve o título de mestre em 2015, mesmo ano em que decidiu por uma mudança radical na vida. Ela pediu licença não-remunerada no banco em que trabalhava e embarcou para Recife para cursar doutorado em Estatística na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Percebi que era hora de direcionar meus estudos para a Estatística, mas não haviam programas de pós-graduação em Estatística na região Sul. Foi na UFPE que solidifiquei as bases necessárias para atuar nas ciências matemáticas e desenvolvi minha paixão por pesquisa na área.”
O doutorado foi feito sob orientação do professor Gauss Cordeiro, outra grande fonte de inspiração científica. “Ele possui uma atuação excepcional na comunidade científica e contribuiu significativamente para o surgimento e a solidificação da área de Probabilidade e Estatística no Brasil. Ouvi-lo contar sobre a história da Estatística no país é sempre muito motivador. O Professor Gauss não é apenas um grande mentor, mas também uma pessoa extremamente gentil, preocupada com o bem-estar dos estudantes. Testemunhei diversas vezes como ele ajudava colegas, mesmo aqueles que não eram seus orientandos, a resolver problemas burocráticos na universidade e até a obter medicamentos na rede pública de saúde.”
Renata concluiu o doutorado em tempo recorde, apenas dois anos e dois meses, e em 2017 entrou como professora adjunta em sua alma mater, a UFSM. Ela ainda cursou dois pós-doutorados, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e na Universidade de Pavia, na Itália. “Tenho me esforçado ao máximo para fazer contribuições à ciência e, ao mesmo tempo, me envolver em projetos de iniciação científica e iniciativas que visam mostrar aos meus alunos e alunas que, mesmo que o trabalho de pesquisador não seja a sua opção de carreira, é importante ter essa vivência. A iniciação científica é essencial para desenvolver habilidades de pensamento independente e para entender melhor o papel da pesquisa em nossa formação como indivíduos e na sociedade”, afirma.
Agora na ABC, a nova Acadêmica quer promover a inclusão e a diversidade na matemática, campo onde a desigualdade de gênero ainda é grande. “É crucial que as meninas vejam mulheres pesquisadoras ocupando posições de destaque para se sentirem representadas e entenderem que têm um lugar na Matemática”, conclui.