Leia matéria de Ana Dubeux para o Correio Braziliense, publicada em 20 de outubro:
Referência mundial nos debates sobre o Cerrado, [a vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências para a região Minas Gerais e Centro-Oeste], Mercedes Bustamante, considera absolutamente necessário superar o “deficit de consciência” em relação ao bioma em particular, e à crise climática em geral.
Na avaliação da especialista, a savana brasileira, longe de ter a mesma visibilidade global da floresta tropical amazônica, precisa urgentemente de uma atenção maior nos debates que se aproximam da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém. “O Cerrado é fundamental para a estabilidade ambiental do Brasil e da América do Sul, e sua proteção deve ser uma prioridade na COP30. Estamos falando da savana tropical mais biodiversa, berço de oito das 12 regiões hidrográficas brasileiras“.
Nesta entrevista ao Correio, a integrante da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e ex-presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) desmonta o falso dilema entre desenvolvimento e sustentabilidade — “a conservação também faz parte da produção, especialmente no caso da agricultura” — e afirma que ainda há tempo para evitar uma catástrofe global, apesar de sinais alarmantes, como o expressivo branqueamento de corais nos oceanos. Confira os principais trechos da entrevista.
Às vésperas da COP30, o Brasil ainda enfrenta um deficit de consciência sobre os impactos das mudanças climáticas? O debate não deveria envolver toda a sociedade, e não apenas os especialistas?
Embora a conscientização sobre as mudanças climáticas tenha de fato crescido, e a população brasileira majoritariamente reconheça a importância da proteção ambiental, ainda existe um deficit a ser superado, especialmente quando se trata de envolver toda a sociedade e dar a devida atenção a biomas críticos como o Cerrado.
Como superar esse deficit de consciência? Na época da covid, houve um engajamento dos meios de comunicação para enfrentar o problema. Guardadas as devidas proporções e singularidades, seria necessário um esforço semelhante de comunicação para conscientizar todos os setores da sociedade?
A percepção de que é necessário um esforço massivo de comunicação, similar ao visto durante a pandemia, está alinhada com as evidências atuais. A Agenda de Ação da COP30 tem como um de seus pilares mobilizar ações não apenas de governos, mas de toda a sociedade civil, empresas, investidores, cidades e estados. Isso indica um reconhecimento oficial de que o desafio climático não pode ser resolvido apenas por especialistas em salas de negociação. Estudos mostram que o engajamento com causas ambientais nas edes sociais aumentou nos últimos cinco anos, bem como o volume de notícias sobre o tema. Isso demonstra que a comunicação é uma ferramenta poderosa para educar, conscientizar e engajar comunidades, especialistas e líderes de opinião.
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