Brasileiro citado no Nobel: “Não sabemos ainda quais problemas o computador quântico poderá resolver”

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Leia matéria de Philippe Watanabe para a Folha de SP, publicada em 7/10:

O Nobel de Física apresentado nesta terça-feira (7) mais uma vez acabou nas mãos de cientistas que nasceram no Reino Unido, nos Estados Unidos e na França. Mas a documentação do prêmio traz um afago ao Brasil: a citação ao trabalho pesquisador brasileiro Amir Caldeira, professor de física da Unicamp e membro da ABC (Academia Brasileira de Ciências).

O Nobel cita, especificamente, a pesquisa de doutorado de Caldeira, do começo da década de 1980, na qual o pesquisador olhava para o tunelamento quântico. “Juntamente com seu aluno de doutorado Amir Caldeira, [Anthony] Leggett investigou como as taxas de tunelamento seriam afetadas por um acoplamento fraco remanescente a um ambiente dissipativo”, consta na documentação do prêmio.

O britânico Anthony Leggett, 87, ganhou o Nobel de Física de 2003.

Caldeira não se sente muito confortável com as ideias, muito frequentemente aplicadas à ciência, de imediatismo e utilitarismo. “Essas duas coisas me deixam meio nervoso”, afirma.

Segundo o pesquisador, a cobrança de aplicação prática para qualquer coisa que se faça atualmente é algo desproporcional e superdimensionado.

O cientista da Unicamp se diz cansado de ouvir algumas coisas. “O pessoal hoje já chega falando: ‘física para quê? Acabou essa física que vocês aprendiam; Acabou isso tudo, hoje em dia é você ter startup e é empreendedorismo’.”

“Você ainda tem que saber o problema, tem que entender o problema, os conceitos. Você tem que entender como é que a coisa funciona, porque senão você não vai gerar nada, você não vai gerar conhecimento novo”, afirma Caldeira.

O cientista diz que, especialmente em física, é importante separar pesquisa básica e desenvolvimento —esse último trabalhando com tecnologias, técnicas etc já conhecidos. “Mas não adianta você dizer que todo mundo vai ter que trabalhar só em coisa aplicada, porque não presta mais trabalhar em coisa fundamental.”

O ponto de Caldeira é que, muitas vezes, o desenvolvimento científico segue caminhos inesperados. Portanto, por mais que se olhe e se fale muito dos computadores quânticos e dos chamados qubits, não se sabe realmente para onde o tema vai caminhar.

“De repente o pessoal vai vislumbrar uma aplicação muito melhor para essas coisas. Ou talvez os qubits que estejam sendo testados agora não venham a ser realmente os melhores candidatos. Não sei. Essa coisa tem um desenvolvimento, de vez em quando, meio inesperado.”

O laser é usado como uma analogia pelo pesquisador da Unicamp. “Ninguém jamais imaginou, quando o laser foi desenvolvido, que estaria desenvolvendo um negócio que ia fazer operação de catarata, ou que ia ser usado na impressora”, afirma Caldeira.

Outro exemplo dado por Caldeira é a relação entre o GPS e a teoria da relatividade geral. “Quem imaginaria o Einstein falando em 1915 na relatividade geral da curvatura do espaço-tempo…’que inutilidade, né? Essa coisa só tem sentido perto de buraco negro.’ É, mas se você não levar em conta correções da relatividade geral, o seu GPS não vai ter a precisão que tem”, afirma o pesquisador da Unicamp.

“O desenvolvimento científico tem uma dinâmica própria. Claro que há áreas onde a pesquisa é muito mais direcionada. Agora a física, e principalmente essa física que está tangenciando os maiores desafios, ela tem uma dinâmica própria. Não adianta a gente querer botar o carro à frente dos bois.”

(…)

Leia a matéria completa no site da Folha de SP

(Philippe Watanabe para Folha de SP, 7/10 | Foto: IFGW/Unicamp)