ABC organiza encontro “Democracia, Ciência e Soberania”

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No dia 6 de outubro, a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) promoveram o evento “Democracia, Ciência e Soberania”, na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O encontro marcou o Dia da Luta pela Democracia, 5 de outubro, aniversário de 27 anos da Constituição de 1988.

A presidente da ABC, Helena Bonciani Nader, participou da mesa-redonda “Democracia em risco? Ciência, Autoritarismo e Soberania”, ao lado do advogado Fernando Guimarães Rodrigues, idealizador e coordenador do movimento Direitos Já! Fórum pela Democracia; do psicanalista e professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), Christian Dunker; e do professor de Direito Internacional da Unifesp, Daniel Campos de Carvalho.

Em sua fala, Nader disse que não é possível mais ignorar os ventos antidemocráticos que sopram no mundo todo, através de movimentos que cultuam a violência, a ignorância e atuam para subjugar as instituições da democracia. “O autoritarismo se fortalece justamente quando a sociedade internacional vacila diante de arbitrariedades, e ela está calada.”

A presidente da ABC criticou o que entende como falta de mobilização de instituições científicas da sociedade civil americana, afirmando que, no Brasil, é preciso aprender com esse momento. “A ciência é um pilar fundamental da resistência. Quando ela é atacada, a própria soberania nacional está em risco, e essa é inegociável”, declarou.

Christian Dunker, Helena Nader, Fernando Guimarães e Daniel de Carvalho

Guimarães Rodrigues criticou a incapacidade do Estado brasileiro de aprofundar a democracia. “Falar em ‘democracia’ com a elite tem um significado, mas para a periferia o que chega é a violência. A face do Estado ainda é uma polícia que carrega os vícios da ditadura. (…) Como falar em democracia em regiões controladas pelo crime organizado?”.

Ele também defendeu uma regulamentação das mídias digitais baseadas no algoritmo, isto é, os mecanismos que recomendam conteúdo, e atualmente o fazem sem que os usuários tenham capacidade de escolha. “Sem isso é impossível falar de democracia. Sem isso somos um rebanho movido pelos interesses do mercado de mídia.”

Christian Dunker, por sua vez, pediu maior participação dos cientistas no debate público, lembrando que os estímulos institucionais ainda vão na direção de manter os pesquisadores fechados nos muros das universidades. Ele lembrou que, por todo o seu avanço nas últimas décadas, o sistema de pesquisa brasileiro ainda carrega marcas de sua construção durante um período de retração democrática, no início da ditadura militar. “É preciso fazer a ciência falar dos dois lados – do lado da produção de conhecimento e do lado da conversa pública.”

Campos de Carvalho trouxe a discussão para o cenário internacional, lembrando que pela primeira vez em décadas mais da metade dos países do mundo são autocracias. Ele atribui esse fenômeno a um ciclo vicioso onde a população, ao perder a confiança nos mecanismos democráticos e nos organismos internacionais, elege populistas autoritários que acabam trabalhando para aprofundar a desconfiança nessas instituições. “É papel do conhecimento científico estudar esses movimentos antidemocráticos e contribuir para evitar que eles prevaleçam”, concluiu.

Assista ao evento na íntegra:

(Marcos Torres para ABC, 07/10/2025)