“A ciência fura muros de preconceito e intolerância”

Compartilhar
Compartilhar
Compartilhar
Compartilhar

Leia matéria publicada no site do CNPq, em 30 de setembro:

O professor emérito do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq Luiz Davidovich foi contemplado com o Prêmio TWAS Apex 2025, da Academia Mundial de Ciências. O prêmio foi concedido durante a 17ª Conferência Geral da The World Academy os Sciences for the Advancement of Science in Developing Countries (TWAS), que acontece até 02 de outubro, no Rio de Janeiro.

“Esse prêmio ressalta não apenas a relevância contemporânea dessa área do conhecimento, mas também a necessidade urgente de que os avanços científicos sejam amplamente compartilhados em benefício da humanidade, superando barreiras de protecionismo recentemente adotadas por países desenvolvidos e que ameaçam a cooperação internacional”, afirma Davidovich.

Criado em 2005, o Prêmio é considerado uma das mais prestigiosas distinções para cientistas do mundo em desenvolvimento. Nesta 20ª edição, teve como foco a ciência e a tecnologia quânticas, integrando as celebrações do Ano Internacional da Ciência e da Tecnologia Quânticas, declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2025, para comemorar o centenário da teoria quântica e suas aplicações. Como premiação, além de medalha e certificado, o professor recebeu a quantia em dinheiro no valor de US$ 100 mil.

Honrado com a distinção, Davidovich considera a TWAS uma entidade de importância por agregar cientistas de todo o mundo, com ênfase em países e regiões em desenvolvimento, que representam 85% do total de seus membros. “Essa entidade promove a cooperação entre esses cientistas, as conversas entre esses cientistas, muitas vezes de países que têm problemas, que estão em guerra. A ciência fura esses muros de preconceito e intolerância, erigidos por litígios e guerras”, ressalta.

Esta é a segunda vez que Davidovich é premiado pela TWAS. Em 2001, ele foi agraciado com o Prêmio TWAS de Física. Especialista em óptica e informação quânticas, o professor atua em especial em temas relacionados à descoerência, emaranhamento quântico, dispositivos para computação quântica, reconstrução de estados quânticos, além de teoria do laser e metrologia quântica. O professor é membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e membro estrangeiro da National Academy of Sciences, dos Estados Unidos. Em 2009, ele foi agraciado com o Prêmio Almirante Álvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia, concedido pelo CNPq a pesquisadores/as que tenham se destacado pela realização de obra científica ou tecnológica de reconhecido valor para o progresso da sua área.

“Seguir o caminho da ciência foi, sem dúvida, uma decisão fundamental em minha vida”,  diz Davidovich. Ele lembra que, antes do ensino médio, já se divertia em casa com pequenos laboratórios de eletromagnetismo e química, além de ter feito um curso por correspondência de rádio e televisão. Passou para as faculdades de engenharia e de física, mas escolheu a segunda logo no início do curso.

Davidovich foi agraciado devido a suas contribuições para avanços teóricos e experimentais em óptica e informação quântica, bem como sua atuação como liderança mundial na área | Foto: Divulgação TWAS/ABC

“Na vida de físico, experimentei uma emoção única: a da descoberta. Resolver um problema que insiste em ocupar a mente dia e noite, compreender e acompanhar revelações que desvendam as sutilezas do universo, nada se compara a essa experiência. A ciência transforma a vida de quem se dedica a ela, dá sentido ao trabalho e à própria existência. Mas vai além: molda o cotidiano, redefine as relações sociais, impacta a economia e influencia o protagonismo das nações”, salienta.

Davidovich, que é referência mundial em pesquisas voltadas ao impacto do ambiente em sistemas quânticos explica que, na física, muitas vezes se supõe que os sistemas estão isolados do ambiente. Isso, porém, nunca acontece de fato. “Todo sistema interage com o meio ao seu redor, o que gera ruídos e interfere em seu funcionamento. Nos sistemas quânticos, essa sensibilidade ao ambiente é ainda maior. Foi esse o tema do meu doutorado, quando estudei como um átomo se comporta em contato com o meio externo. Desde então, sigo investigando essa questão, que se tornou ainda mais importante com o avanço das novas tecnologias quânticas”, diz.

Além de colaborar com o grupo do cientista e Prêmio Nobel de Física em 2012, Serge Haroche, na École Normale Supérieure, em Paris, que realizava experimentos sofisticados, explorando a interação de átomos com campos eletromagnéticos confinados em cavidades, Davidovich desenvolveu uma colaboração com o bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Paulo Henrique Souto Ribeiro e o professor do Instituto de Física da UFRJ, Stephen Walborn. Eles exploraram de forma experimental como o emaranhamento quântico, uma correlação profunda entre partículas que vai além das previsões da física clássica, se comporta sob a ação do ambiente.

“Esse fenômeno é essencial não apenas para os computadores quânticos, mas também para sensores quânticos capazes de medir parâmetros físicos com uma precisão inédita, muito superior à dos métodos convencionais”, explica Davidovich. Com os professores do Instituto de Física da UFRJ Nicim Zagury e Ruynet Lima de Matos Filho, estudantes do grupo e parceiros na França e nos Estados Unidos, Davidovich propôs diversas aplicações da física quântica em sensores que interagem com o ambiente, buscando explorar ao máximo o potencial dessa ciência em contextos práticos.

(Site do CNPq | Fotos: Divulgação TWAS-ABC/André Noboa)