
O biólogo Luiz Eduardo Baggio Savio, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC) eleito para o período 2025-2029, é daqueles cientistas nos quais o gosto pela descoberta e pelo conhecimento se manifestou desde cedo. O interesse pela natureza ao seu redor o inspirava a fazer suas “fabulosas descobertas” que compartilhava com os adultos e com os amiguinhos entre as brincadeiras.
Nascido em Porto Alegre, mas criado em Bom Jesus, na Serra Gaúcha, Luiz Eduardo teve na mãe, Lenira Maria Baggio, sua principal inspiração para escolher a carreira. Bióloga e professora exemplar, ela sempre acreditou no poder transformador da educação e estimulou os filhos a seguirem esse caminho. “Ela sempre lutou pela educação dos filhos e nos mostrou que essa era a chave para evolução pessoal e profissional, para construir um futuro mais justo, pleno e repleto de possibilidades”, lembrou.
Outros grandes incentivadores foram seus avós maternos, João Luiz e Onira. Apesar de não ter curso superior, João Luiz sempre elogiou o potencial do neto. “Este guri sapeca vai ao mundo!”, ele dizia e suas palavras reverberam com Luiz Eduardo até hoje. Seus irmãos, Carla e Luiz Vicente, assim como seus padrinhos, Luiz Antonio e Rozilaine, tiveram papel especial, sempre presentes ao seu lado. Além deles, suas tia-avós Elisa e Maria Irene — ambas cientistas — também foram fontes de inspiração e incentivo ao longo de sua trajetória.
O Acadêmico estudou a vida inteira em escola pública e, de início, a matemática era o que mais despertava sua curiosidade, alcançando o 3º lugar numa olimpíada de matemática organizada pela Universidade de Caxias do Sul. No Ensino Médio, começou a criar gosto pela biologia e pela química, sobretudo graças às aulas práticas, e teve certeza de que queria ser cientista e professor.
E foi assim que, em 2006, Luiz Eduardo ingressou no curso de Ciências Biológicas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), trilhando os primeiros passos na carreira. Logo no primeiro semestre ele experimentou um estágio voluntário em biotecnologia. Entretanto, após cursar as disciplinas de Fisiologia e Bioquímica, buscou iniciação científica no departamento de Bioquímica de outra instituição, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Sob orientação da professora Carla Denise Bonan, no laboratório do professor Sarkis, teve o primeiro contato com a área em que atualmente trabalha: a sinalização purinérgica. “Participar de um grupo de excelência em uma atmosfera estimulante foi fundamental. Nesse período, passei a dominar técnicas de análise bioquímica, molecular e comportamental em roedores. Eu estava finalmente me tornando um pesquisador!”, lembra com carinho.
Além da pesquisa, o Acadêmico também realizou estágios de extensão em escolas e, em 2009, se formou com honras em Licenciatura em Ciências Biológicas. No ano seguinte ingressou no mestrado em Bioquímica da UFRGS, sob orientação da Acadêmica Angela Wyse e coorientação de Carla Bonan, no Laboratório de Neuroproteção e Doenças Metabólicas. O desafio era desenvolver um modelo experimental para estudar erros inatos no metabolismo de aminoácidos do peixe-zebra, uma espécie-modelo bastante consolidada hoje, mas que, na época, estava em ascensão. “Dessa vez não trabalhei com apenas um, mas dois grupos de excelência, ampliando meu escopo de atuação para diferentes áreas, como doenças neurológicas, metabólicas e inflamatórias”, comenta.
Durante um evento do qual participou no Clube Brasileiro de Purinas, no Rio de Janeiro, Luiz Eduardo conheceu o professor Robson Coutinho Silva, que o inspirou a buscar novos ares para além do Rio Grande do Sul. Robson seria seu orientador no doutorado no Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde mergulharia na área da Imunologia, com foco nos receptores purinérgicos. Nesse período, também teve a oportunidade de realizar um estágio sanduíche na Escola de Medicina de Harvard, sob supervisão do professor Simon Robson, um líder global na área. “Tive a oportunidade de ministrar minha primeira palestra internacional, um momento marcante, e até hoje guardo com carinho a mensagem do professor Simon Robson: “Estou muito orgulhoso de você”.
Luiz Eduardo titulou-se doutor em 2016 e ainda fez dois anos de pós-doutorado até ser aprovado como professor adjunto do Instituto de Biofísica da UFRJ. Hoje sua pesquisa foca na fisiologia integrativa, ou seja, busca entender como os diferentes sistemas do nosso corpo interagem, ao invés de focá-los separadamente. Sua ênfase está nas doenças inflamatórias e infecciosas que afetam o sistema nervoso central, como a covid-19 e a zika. “Investigo o papel das alarminas, moléculas que, quando liberadas, atuam como sinais de perigo, como o ATP extracelular, promovendo a ativação do sistema imunológico. Além disso, buscamos identificar alvos terapêuticos que possam amenizar danos agudos e reverter sequelas de longo prazo, com o objetivo de desenvolver novas estratégias para o tratamento, recuperação e melhoria da qualidade de vida dos pacientes”, explicou.
Sua principal motivação é poder transformar a vida dos brasileiros. O Acadêmico enxerga seu impacto não apenas na pesquisa, mas também na educação das novas gerações. “Acredito que a ciência tem o poder de transformar realidades e criar oportunidades, especialmente para jovens que enfrentam barreiras para desenvolver seu potencial. Quero oferecer-lhes as ferramentas e o apoio necessário para seguirem seus sonhos, independente da origem. Trabalho inclusivo e oportunidades iguais são essenciais”, diz.