Inovando na biotecnologia farmacêutica

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Fazer ciência, desenvolvimento tecnológico e inovação na área da tecnologia e biotecnologia farmacêuticas para promoção da saúde pública e do desenvolvimento territorial brasileiro é o que a farmacêutica Monica Felts de La Roca Soares, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), considera sua grande missão.

Ela atua no SUS, visando o fortalecimento da industrialização brasileira. Sua visão corrobora do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS), uma política pública nacional que vincula inovação, ciências sociais, saúde pública e desenvolvimento industrial, como base tecnológica, para viabilizar o acesso à saúde, fator essencial para um Sistema Único de Saúde (SUS) soberano e sustentável.

Monica Felts nasceu em São Paulo (SP), em 1983. Embora levasse uma vida urbana, tinha contato com fazenda de animais, gostava de natureza. Seus pais sempre trabalharam: o pai é médico e a mãe, artista plástica. Seu único irmão, mais velho, formou-se em publicidade.

Seu interesse pela ciência foi natural. Na escola, gostava das aulas de ciências e, depois, de biologia.  No momento da escolha de carreira, Mônica contou que foi aconselhada por um teste vocacional muito bom. “Eu tinha interesse em fazer agronomia e o processo de acompanhamento profissional e orientação vocacional me orientou a escolher o curso de farmácia”, relatou. Entrou então para o curso de farmácia industrial na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Sua atuação no movimento estudantil nesse período foi fundamental para que ela conhecesse alunos e pesquisadores de todos os lugares do Brasil.

Após a graduação, iniciou a sua carreira no setor de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) do mercado da indústria farmacêutica paulista, com foco no desenvolvimento de medicamentos, especializando-se no estudo dos modelos de liberação controlada dos insumos farmacêuticos ativos e sua estabilidade.

Visando aprofundar seus conhecimentos, foi fazer o mestrado e doutorado em ciências farmacêuticas na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), desenvolvendo pesquisas na área de nanotecnologia aplicada à saúde, com foco nos polímeros carreadores dos IFAs, aproximando a farmácia da área de ciências de materiais.  Sua experiência na pós-graduação foi decisiva para que definisse sua carreira como pesquisadora e professora universitária.

Ainda no doutorado, Mônica teve a sua primeira aprovação em um concurso público de docente do magistério superior, na Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Piauí (UFPI), aos 24 anos. E, com 27 anos, foi aprovada em seu segundo concurso para docência superior, agora na Faculdade de Farmácia da UFPE, retornando para a sua instituição de formação científica.

Influenciada pelo seu orientador, o professor Pedro José Rolim Neto (UFPE) – na época, diretor técnico industrial do Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco (Lafepe) e integrante da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Oficiais do Brasil (Alfob) -, Mônica passou a atuar no desenvolvimento de medicamentos para doenças negligenciadas e demais desafios tecnológicos de interesse do SUS. Em sua trajetória, a pesquisadora já transferiu diversas tecnologias da academia para a indústria por meio de acordos de cooperação técnica firmados.

A Acadêmica conduziu pesquisas para substituir polímeros sintéticos importados por biopolímeros vegetais brasileiros, com foco em produtos oriundos do bioma da caatinga, predominante no território nordestino. Mônica explicou que os biopolímeros são polímeros produzidos por seres vivos, oriundos de fontes renováveis, e incluem os polissacarídeos, que são carboidratos formados a partir da polimerização de vários outros açúcares menores.

Dentre os diversos biopolímeros estudados por Mônica Felts destacou-se o exsudato do caule e galhos do cajueiro (Anacardium occidentale L.), do qual foi obtida a goma do cajueiro, um biopolímero genuinamente brasileiro, biodegradável e biocompatível. “O exsudato do cajueiro é rico em polissacarídeos, produzidos pelas células epiteliais do cajueiro quando o córtex é agredido. A goma do cajueiro é o resultado do processamento e purificação do exsudato, processo que inclui etapas de moagem, solubilização, filtração, decantação e secagem”, explicou a cientista.

Do seu laboratório surgiu a startup Gumlife Brasil, administrada por alunas egressas da Pós-Graduação da UFPE, da qual hoje Mônica é mentora. A Gumlife é uma empresa brasileira que vende a goma do cajueiro natural e modificada com rastreabilidade de cadeia orgânica, obtido a partir de práticas sustentáveis e que visa o beneficiamento de agricultores e cooperativas familiares locais.

Em tempos de crise ambiental mundial, Monica Felts é defensora do empreendedorismo social de base tecnológica. A cientista articula ciência, território, sociobiodiversidade, inovação e sustentabilidade, propondo a bioeconomia como estratégia para o desenvolvimento socioeconômico dos biomas brasileiros e da industrialização brasileira na área de insumos e produtos para saúde, fundamental para a soberania nacional.

Felts é docente dos programas de pós-graduação em Ciências Farmacêuticas e de Inovação Terapêutica, ambos da UFPE. É pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Complexo Econômico Industrial de Saúde (INCT iCEIS) e foi uma das fundadoras da Rede de Bioeconomia “Impacta Caatinga” e do “Centro de Bionegócios e Estudos da Caatinga” (CBC-UFPE).

Em 2024, recebeu o título de Cidadã do Recife na Câmara dos Vereadores, entregue pela vereadora Cida Pedrosa, devido ao seu trabalho na UFPE, que se estende ao desenvolvimento de tecnologias e inovações aplicadas à saúde humana, contribuindo, significativamente, para o fortalecimento do CEIS em Pernambuco.

No mesmo ano, Mônica Felts foi cedida pela UFPE para assumir o cargo de diretora de Ciência e Tecnologia (C&T) da Secretaria de C, T e Inovação e do CEIS do Ministério da Saúde, retornando à sua função de professora da UFPE em maio de 2025. Aos 42 anos, com duas filhas, ela foi eleita como membra afiliada da Academia Brasileira de Ciências (ABC) para o período 2025-2029.

Mônica considera a sua afiliação à ABC como uma grande oportunidade de transformar o Brasil de forma ainda mais profunda. “Com o apoio da ABC, as ações podem ganhar dimensões ampliadas”, disse a pesquisadora. Seus planos incluem atuar para o fortalecimento da ABC e contribuir no engajamento dos jovens na ciência. “Eu gostaria de mostrar o poder transformador da ciência nas vidas das pessoas”, apontou.

Apaixonada pelas artes, Mônica sempre associa arte à difusão de suas pesquisas, pois acredita que é preciso encantar a sociedade por meio da beleza e do conhecimento, do pensar acadêmico e de se reencontrar como um ser pensante. “Graças a este conhecimento é que o homem se torna agente do seu pensar, da sua produção, de superação de desigualdades e de propagação do bem-estar. Em outras palavras, se torna livre”, concluiu a Acadêmica.

(Elisa Oswaldo-Cruz para ABC0