Novos fármacos para doenças negligenciadas

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Rafaela Salgado Ferreira nasceu no ano de 1983, em Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais. Seu pai era bancário e a mãe, embora formada em pedagogia, optou por parar de trabalhar fora quando nasceram os filhos. Teve uma infância feliz, pois tanto sua família materna quanto a paterna eram muito grandes: a menina e seu irmão mais novo tinham 18 tios e tias no total. Assim, brincava com muitos primos e primas, de bonecas, andando de bicicleta e de patins.

Rafaela gostava de estudar e tinha facilidade principalmente para matemática e ciências. Não teve por perto nenhum cientista como exemplo: é a primeira da família a obter um título de doutorado. Seu interesse pela ciência surgiu no ensino médio, quando estudava no colégio técnico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Coltec.

Ainda no primeiro ano do ensino médio, se inscreveu e foi selecionada para participar do Programa de Vocação Científica (Provoc) da Fiocruz, o que lhe permitiu ingressar como estudante de Iniciação Científica Júnior em um laboratório no Centro de Pesquisas René Rachou, da Fiocruz/MG. Do primeiro ao terceiro ano, Rafaela estagiou no Laboratório de Helmintoses Intestinais, sob orientação do professor Cristiano Lara Massara. “Ele foi um exemplo de pesquisador para mim e esta oportunidade me trouxe a convicção de que eu gostaria de ser cientista”, ressaltou a Acadêmica.“Comecei o Provoc super empolgada e durante o programa decidi que queria ser cientista. Já ingressei na faculdade com planejamento de seguir para a pós-graduação e ser cientista”, recordou Rafaela Ferreira.

Em 2001, Rafaela Ferreira ingressou na Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Fez iniciação científica durante toda a faculdade, em três laboratórios: no Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG; em um laboratório da Universidade do Texas, em Austin, nos EUA, durante um semestre, em intercâmbio de graduação; e no Laboratório de Química de Produtos Naturais da Fiocruz/MG. Nos projetos realizados, conta ter adquirido experiência principalmente em purificação de proteínas, síntese orgânica e modelagem molecular. Ao longo da graduação, a orientação da professora Renata Barbosa em um dos seus projetos de iniciação científica também foi muito importante para consolidar seu interesse pela ciência.

Após a graduação, Rafaela ingressou diretamente no doutorado na Universidade da Califórnia em San Francisco, nos EUA, sendo orientada pelos professores Brian Shoichet e James McKerrow. Rafaela Ferreira afirma que ambos são grandes referências para ela. “Meu período de doutorado foi extremamente importante para meu amadurecimento científico e formação técnica para as linhas de pesquisas de coordeno atualmente”, relatou a Acadêmica.

Desde 2011, Rafaela Ferreira é professora do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG e coordenadora do Laboratório de Modelagem Molecular e Planejamento de Fármacos, no qual emprega técnicas computacionais e experimentais para desenvolvimento de novos ligantes para alvos terapêuticos.

“Trabalho com o planejamento de novos fármacos, principalmente para doenças negligenciadas, como a Doença de Chagas, que carecem de bons tratamentos atualmente. O processo de desenvolver medicamentos é muito caro e complexo, com um custo estimado de bilhões de dólares para cada novo fármaco. Diversas abordagens computacionais podem ser empregadas para auxiliar neste processo. No meu grupo, combinamos metodologias computacionais e experimentais para orientar a descoberta de novos compostos bioativos e sua otimização como candidatos a fármacos”, explicou Rafaela Ferreira.

Nos últimos anos, a Acadêmica teve seu trabalho reconhecido através dos prêmios L’Oréal-Unesco-ABC Para Mulheres na Ciência 2017, Categoria Química;  L’Oréal-Unesco For Women in Science International Rising Talent 2018, Prêmio SBQ-ACS Mulheres Brasileiras na Química 2021, Categoria Líder Emergente, oferecido pela Sociedade Brasileira de Química e pela American Chemical Society; e Prêmio Early Career Researcher Award 2022, pela Divisão de Química Medicinal da SBQ e Comissão Organizadora do 10th BrazMedChem.

Seguindo este rumo de sucesso, Rafaela Ferreira diz que receber o título de membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC) é uma grande honra, pois significa o reconhecimento do trabalho desenvolvido ao longo da sua carreira e dos estudantes que já orientou. “Pretendo interagir com outros membros e atuar na discussão de questões importantes para o desenvolvimento da ciência no Brasil. Atualmente, enfrentamos grandes desafios relacionados ao reconhecimento de nossa carreira, à aquisição de financiamentos e à atração de jovens talentos para a ciência, por exemplo. Pretendo participar de reflexões e discussões para elaborarmos propostas de enfrentamento a estes desafios”, comprometeu-se a Acadêmica.

Além da ciência, que a encanta pelo método para chegar a descobertas que podem levar a soluções de problemas enfrentados pela sociedade, Rafaela Ferreira adora viajar, conhecer novos lugares e culturas, ler e dançar. E tem um filho de seis anos, Gabriel, com quem procura interagir ao máximo. “Valorizo muito minha família. Atingir o equilíbrio entre a dedicação para a ciência e as atividades pessoais é bastante desafiador, mas acredito que seja essencial para mantermos uma boa saúde e nos sentirmos realizados e felizes”, concluiu a cientista.

(Elisa Oswaldo-Cruz para ABC)