Flavia Figueira Aburjaile nasceu em Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais, no ano de 1989. Teve uma infância boa, junto à família e amigos. Gostava de brincar de professora, colocando as bonecas sentadas, com papel e lápis na mão. Outra paixão eram os jogos e o microscópio. Como desde pequena manifestou seu interesse em ciência, foi estimulada com brinquedos de ‘pequenos cientistas’, com reações químicas e tudo mais. Quando tinha oportunidade, fazia parte de atividades na Feira de Ciências do colégio.
Seus pais são engenheiros de telecomunicações. “Eles se conheceram na faculdade, casaram e abriram uma empresa”, contou a Acadêmica. O pai sempre trabalhou fora, a mãe também, durante um tempo. Quando tiveram um casal de gêmeos, seis anos depois de Flavia, a mãe passou a se dedicar à casa e às crianças. “Meus irmãos hoje são formados, ele em educação física e ela em direito”.
Estimulada pelos pais e professores, que identificaram sua curiosidade desde cedo, Flávia contou que sabia que iria trabalhar em alguma atividade nas áreas das ciências biológicas ou da saúde. A decisão ficou mais fácil ao descobrir que cursando biomedicina teria portas abertas depois para uma carreira de cientista, com possibilidade de atuação em diversos campos.
Ao entrar na Universidade Fumec, mantida pela Fundação Mineira de Educação e Cultura, Flávia começou a procurar oportunidades de iniciação científica (IC), indo em diversos laboratórios. No segundo período, recebeu uma resposta positiva do Laboratório de Microbiologia. A partir daí, fez estágios em diferentes instituições (Fiocruz, UFMG e Universidade de Provence, na França). “Isso me fez conhecer diferentes grupos, identificar novos olhares e possibilidades na pesquisa”, contou Flávia. A graduação ainda foi finalizada com um sanduiche de seis meses na França, que teve grande influência na sua carreira ao longo dos anos, além de ter sido uma experiência pessoal e profissional muito rica.
Quando finalizou a graduação, Flávia Aburjaile fez o mestrado em biomedicina na UFMG, orientada pela professora Ana Maria Benko Iseppon, com coorientação do Acadêmico Vasco Ariston de Carvalho Azevedo. Seu tema foi a análise do transcriptoma de videira (Vitis spp.) sob estresse biótico de Xanthomonas citri no Nordeste brasileiro.
Interessada em seguir na área de bioinformática, entrou para o doutorado na UFMG, orientada por Vasco Azevedo. Um ano depois, houve a possibilidade de fazê-lo em cotutela, coorientada pelo professor Yves Le Loir, no Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica (INRA, na sigla em francês), e a Acadêmica ficou um ano e meio em Paris, na França, para este propósito. “Foi uma experiência fantástica. Até hoje tenho parcerias e envio meus alunos para projetos de pesquisa com mobilidade acadêmica”, disse a cientista. Para completar, lá conheceu outro mineiro fazendo doutorado — e foi um encontro de almas. Flavia e xxx estão casados há 12 anos e ela o considera o seu grande incentivador.
Hoje, Flávia Aburjaile coordena o Laboratório de Bioinformática Integrativa na Escola de Veterinária da UFMG, sendo a primeira professora de bioinformática da escola, onde implementou esta área de pesquisa. Atua nos Programas de Pós-graduação de Ciência Animal e no Programa Interunidades de Bioinformática da UFMG, do qual é subcoordenadora. “Atuo principalmente na área de genômica, desvendando o código genético de bactérias. As bactérias probióticas possuem um grande potencial na indústria, enquanto outras, como as bactérias do grupo ESKAPEE, que são multirresistentes, estão entre as prioridades de monitoramento da Organização Mundial de Saúde (OMS) em relação à resistência”, explicou a cientista. Além de investigar estes grupos, a pesquisa do grupo de Aburjaile visa a aplicabilidade deste código para promover a saúde e o bem-estar humano, animal e ambiental, com estudos de abordagem integrada, a chamada saúde única.
Sua dedicação à ciência vem sendo reconhecida nos últimos anos. Em 2023, foi premiada no programa “Para Mulheres na Ciência” da L’Óréal-Unesco-ABC, na categoria Ciências da Vida. Ter sido eleita como membra afiliada da ABC dois anos depois foi uma grande honra para a pesquisadora. “Ter a oportunidade de fazer parte deste grupo seleto de jovens pesquisadores que estão em momento de ascensão na carreira e que querem contribuir para transformações na ciência é um dos momentos mais importantes na minha carreira.”
Novas descobertas encantam Flávia Aburjaile. “O impacto da bioinformática e a revolução que ela pode promover vieram à tona na pandemia, com a agilidade de sequenciamento e identificação de variantes por meio destas tecnologias. Ver a evolução da bioinformática e como ela pode ser a chave de futuras descobertas me emociona”, declarou a Acadêmica. E para além da ciência, seu prazer é o mesmo: viajar, caminhar e descobrir novos lugares e horizontes.