Ecologia para todos os momentos

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Simone Reis

A bióloga Simone Matias de Almeida Reis, nova afiliada da Academia Brasileira de Ciências, é daquelas que não larga a natureza nem no tempo de lazer. Ela conta que quando não está lendo livros acadêmicos sobre ecologia, lê obras como “A Vida Secreta das Árvores”, que aproxima as plantas dos outros seres vivos “conscientes”, ou “O Segredo de Jeanne Baret”, que conta a história de uma camponesa que precisou se disfarçar para atuar como botânica. “Ou seja, eu continuo lendo sobre ecologia”, conta bem-humorada. 

Sua própria história é uma que muitos brasileiros vão se identificar, a da menina que se tornou a primeira da família a fazer faculdade e a seguir a carreira científica. Nascida em Tangará da Serra, no Mato Grosso, Simone passou boa parte de sua infância na zona rural, no sítio dos avós. “Não tinha luz elétrica, muito menos água encanada, nem tão pouco casa de alvenaria, mas tinha muita alegria”, lembra. 

Ela conta que o caminho para a escola era de brincadeiras nos cipós e milharais, e chegando lá o que mais gostava era da hora do recreio. Mas em sala de aula era atenta, e seus gostos ainda não refletiam totalmente a carreira que viria a escolher, gostava mesmo era dos números. A mãe de Simone precisava se desdobrar, ajudava na roça, mas também trabalhou em hospital, farmácia e foi professora na escola da filha, para quem lecionou na primeira série. A rotina era intensa e a vida continuou difícil depois que o pai da menina faleceu, quando Simone tinha apenas nove anos e sua mãe precisou se desdobrar para cuidar de dois filhos pequenos. 

Quando chegou a hora da faculdade, parecia óbvio escolher a matemática. E foi assim que Simone chegou a Universidade do Estado do Mato Grosso (UNEMAT), campus de Barra do Bugres, a uma hora de Nova Olímpia. Mas infelizmente – ou felizmente – ela acabou se desiludindo. “Era algo que eu gostava na escola, mas na faculdade eu via tudo tão abstrato, que muitas vezes não via sentido, e acabei desistindo”. 

Isso se deu em 2006, no mesmo ano que a futura Acadêmica ingressaria no curso de Ciências Biológicas, e então encontraria o seu caminho. “Quando entrei no curso fiquei encantada com tudo, podia tocar, sentir, era incrível. Não sei se eu que escolhi a carreira ou ela me escolheu, as coisas apenas foram acontecendo. Talvez o fato de eu ter morado em meio a natureza tenha incentivado. Além do incentivo do meu marido, que era namorado na época, e me fez seguir em frente”. 

Na faculdade ela logo conheceria a professora Beatriz Schwantes Marimon, a Bia, que logo viraria sua referência. Nessa época nenhuma das duas sabia, mas Bia orientaria Simone no doutorado. “A paixão dela pela ciência sempre me motivou a ser pesquisadora. E seus incentivos, acreditando em mim quando nem eu acreditava, me fizeram chegar aonde estou hoje”, lembra com carinho. 

Outros mestres de quem lembra com carinho são o professor Ben Hur, de ecologia, que primeiro a ensinou sobre ecossistemas tanto na teoria quanto no campo; e o professor Eddie Lenza, de botânica, que lhe ensinou sobre todas as partes das flores e foi seu orientador no TCC e mestrado. Durante a graduação, Simone precisou trabalhar para se manter e acabou não ingressando num laboratório. Outro desafio foi se tornar mãe, dois anos antes de se formar, mas conseguiu seguir em frente graças ao apoio das amigas da graduação e do esposo. Seu trabalho de conclusão abordou a importância das árvores mortas na manutenção do ecossistema florestal no Parque Estadual do Araguaia. 

Ao se formar, continuou na UNEMAT para o mestrado em Ecologia e Conservação. Junto ao professor Eddie, estudou a influência de diferentes tipos de distúrbios sobre a vegetação arbórea na zona de transição entre o Cerrado e a Amazônia. O trabalho gerou a publicação de três artigos e inaugurou sua carreira como pesquisadora. 

Simone fez doutorado em Biodiversidade e Biotecnologia, agora com a professora Beatriz. Seu foco de pesquisa continuou sendo a dinâmica florestal das áreas de transição, mas agora fazendo análises mais complexas e ao longo de uma região maior. Também foi o período em que fez doutorado sanduíche, passando um ano na Universidade de Leeds, Inglaterra, sob supervisão do professor Oliver L. Phillips. 

“Foi um ano incrível, fui com a minha família, meu esposo que também estava cursando o doutorado e com minha filha que já estava com sete anos na época. Além do aprendizado sobre outras culturas, aprendi muito estando em uma instituição internacional, sobre como tudo funcionava, melhorei minha escrita científica. Foi um ano muito rico de aprendizado e que levo para a vida”, conta sobre a experiência. 

Após se tornar doutora, Simone fez três anos de pós-doutorado pela Universidade de Oxford em parceria com a UNEMAT, instituição brasileira onde passou a maior parte do pós-doutorado. Em 2022 assumiu o concurso público como professora na Universidade Federal do Acre (UFAC), onde está até hoje. Atualmente, suas pesquisas se dedicam a entender como as florestas estão respondendo às mudanças climáticas. 

“Quero compreender se algumas espécies de árvores, como por exemplo, a castanheira (), possui maior taxa de mortalidade em anos de secas mais intensas. É importante compreender quais são as espécies que morrem mais e quais são mais resistentes, para podermos, por exemplo, indicar quais espécies são melhores para o reflorestamento, já que eventos de seca só tendem a se tornar mais comuns”, explica a pesquisadora. 

Nas horas vagas, além de suas leituras sobre ecologia, Simone adora música e é fã de Roberto Carlos e Martinho da Vila. Sempre que possível gosta de voltar ao sítio dos avós, lá onde tudo começou, e se encantar com a paisagem. “Sou apaixonada por aquele lugar”, finaliza. 

(Marcos Torres para ABC, 06/08/2025 | Foto: Rick Zênite Foto)