Ciência de base junto aos povos ribeirinhos

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Layon Oreste

É difícil imaginar uma carreira que tenha mais a ver com o cientista Layon Oreste Demarchi do que a pesquisa em ecologia e botânica. O novo afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC) tem na natureza não apenas seu objeto de pesquisa, mas parte da sua vida, suas memórias da infância e seus hobbys. Hoje atuando no Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (Inpa), ele mantém contato próximo com comunidades ribeirinhas e busca entender mais sobre suas práticas e cultivares. “Faço o que chamamos de ciência de base, que não necessariamente tem uma aplicação direta, mas serve de base para outras pesquisas e para políticas públicas”, explica. 

Gaúcho de Encantado, Layon teve uma infância livre como toda criança do campo. O contato com o rio Taquari fez despertar nele o gosto pelo meio ambiente. “Na minha infância nada conseguia ser mais interessante que o rio”, conta. Aos dez anos, a família mudou-se para Indaiatuba, em São Paulo, mas a vida seguiu no ritmo das cidades pequenas.  

Os pais também o influenciaram em seu gosto pela natureza, cada um a sua maneira. O pai caminhoneiro permitiu que o menino, ao acompanhar suas viagens durante as férias, pudesse conhecer e se encantar com um pouquinho de cada bioma brasileiro. Já da mãe Layon herdou o “dedo verde”, o dom para o cultivo de plantas que recebeu desde pequeno. Hoje, quando não está no trabalho, o Acadêmico dedica seu tempo ao cultivo de plantas ornamentais e à criação de peixes e abelhas. Mesmo nas horas vagas o interesse pelos ecossistemas se faz presente. 

Com tudo isso, a escolha pelo curso de Ecologia na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Rio Claro, veio naturalmente. “Foi devido a grade de disciplinas diversificada e interessante, que se baseia nos antigos cursos de História Natural. Essa integração de várias vertentes do conhecimento foi essencial”, explica. 

Na faculdade, o contato com uma diversidade de saberes e pessoas moldou seu crescimento e os trabalhos que desenvolve. No terceiro ano, ingressou no grupo de agroecologia Girassol, que despertou seu interesse pela extensão. Seu trabalho de conclusão buscou descrever a composição e a interrelação da flora em matas estacionais semideciduais ribeirinhas de Indaiatuba. Não se assuste, trata-se apenas de regiões de floresta com variações bastante demarcadas entre as estações, com a perda de folhagem durante a seca. 

Após se formar, o Acadêmico tomou uma grande decisão de vida. Mudou-se para Manaus e ingressou no mestrado no Inpa, sob orientação da professora Maria Teresa Fernandez Piedade. Começou a estudar o ecossistema e o cultivo de plantas de campinarana, um tipo de vegetação característico da Amazônia que cresce sobre solos arenosos e de baixa fertilidade. Nesse trabalho, o pesquisador fez inventários neste ecossistema e estudou como variações de nutrientes do solo influenciavam a vegetação. Também passou a acompanhar os moradores da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Tupé, aprendendo e sistematizando um conhecimento agroflorestal que é passado de geração em geração. As pesquisas focadas no ecossistema de campinarana o acompanharia até o fim do doutorado. 

No doutorado passou a estudar a fenologia e o padrão de endemismo da flora das campinaranas da RDS Uatumã além de se dedicar também a taxonomia, sempre com apoio do grupo MAUA. “Faço parte de um grupo de pesquisa diverso, colaborativo e com forte atuação em campo, e posso contar com orientadores que me ajudaram a me formar como profissional e como pessoa, sendo essenciais durante este período. E, além de tudo, estudar a floresta Amazônica é um desafio prazeroso e estimulante, me encanta estar diretamente em contato com o meio natural e as populações tradicionais que nos auxiliam”, descreve. 

Agora na ABC, Layon Demarchi almeja continuar os estudos em campinaranas com enfoques diversos, focando também na divulgação científica e na importância das instituições públicas de pesquisa. “A possibilidade de que nossas pesquisas sejam usadas para embasar a formulação de políticas de conservação é um motivador constante para continuar o trabalho”, finaliza. 

(Marcos Torres para ABC, 06/08/2025 | Foto: Rick Zênite Foto)