O cardeal dom Sebastião Leme já demonstrava preocupação com esse cenário em um documento da década de 1930. Essa informação, até onde sei, permanece inédita, e eu a localizei em junho durante minhas pesquisas nos Arquivos Apostólicos do Vaticano.
Em dezembro de 1930, Leme enviou um relatório à Santa Sé alertando para o avanço das igrejas evangélicas e propondo uma reação em diversas frentes. Entre as medidas que considerava urgentes estavam a multiplicação de paróquias, a criação de novas dioceses e o aumento no número de sacerdotes.
Quase cem anos depois do relatório do cardeal Leme, as estatísticas do Anuário Pontifício de 2025 o deixariam entusiasmado. Não somente nunca houve tantos padres, paróquias, dioceses e diáconos no Brasil, como esses números cresceram nas últimas décadas.
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Há mais de dez anos, eu e o antropólogo Carlos Steil produzimos uma série estatística que cruzava os dados de religião do Censo de 2010 com os registros internos da Igreja Católica. Tanto naquele momento quanto na replicação do exercício com os dados mais recentes do IBGE e da Igreja, um padrão se confirmou: entre todos os indicadores internos da Igreja, o único que diminui sistematicamente —além do numero de fiéis— é o número de religiosas.
Considero que este seja um aspecto fundamental para compreender o declínio do catolicismo no Brasil. Entre 1990 e 2025, o percentual de religiosas caiu quase 40% no país, passando de mais de 37 mil para pouco mais de 23 mil.