A humanidade está diante de um dos maiores desafios de sua história: sobreviver às consequências das mudanças climáticas, agravadas pela exploração excessiva dos recursos naturais, pela produção desenfreada de resíduos e pelo desmatamento em larga escala. De acordo com a ciência, seis das nove fronteiras planetárias já foram ultrapassadas — um sinal claro de que a Terra deixou de ser um espaço seguro para a vida como conhecemos.

Em artigo publicado em 2024 na revista Angewandte Chemie International Edition, uma das mais prestigiadas na área de química, o Acadêmico Jairton Dupont e o professor Pedro Lozano, da Universidade de Murcia, na Espanha, chamam a atenção para três fatores fundamentais que agravam esse cenário: os recursos atômicos limitados do planeta, sua natureza altamente oxidativa e a imensa complexidade de sua química. Esses elementos, embora naturais, impõem limites físicos e químicos ao desenvolvimento humano — e exigem uma mudança urgente na forma como produzimos e consumimos.
A proposta dos autores é clara: é preciso promover uma transformação global baseada em práticas sustentáveis e alinhadas aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. A ciência e a tecnologia já permitiram avanços notáveis — como o aumento da expectativa de vida e melhorias na qualidade de vida —, mas agora o caminho passa por processos químicos menos agressivos ao meio ambiente e por uma reconfiguração profunda da economia.
Entre as soluções apontadas estão a incorporação de reações químicas mais equilibradas, como a química redox envolvendo metano (CH₄) e dióxido de carbono (CO₂), a substituição do modelo econômico linear (baseado em combustíveis fósseis) por uma bioeconomia circular e a recuperação de florestas e terras degradadas. A chamada “química verde” também ganha destaque como ferramenta-chave para um futuro sustentável.
Embora as leis da termodinâmica e da cinética determinem os limites da química terrestre, os autores alertam que ciência sozinha não basta. Enfrentar a crise climática exige decisões políticas, econômicas e sociais coordenadas, que levem em conta a finitude dos recursos naturais e a natureza oxidativa do planeta.
A boa notícia é que ainda há tempo para agir — e a combinação entre conhecimento científico e ação coletiva pode ser decisiva para garantir um futuro viável para as próximas gerações.