Ciência com raízes na floresta: uma conversa com Adalberto Val

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Leia entrevista adaptada do vice-presidente da ABC para a Região Norte, Adalberto Val, para o site Brasil Amazônia Agora, publicada em 31 de julho:

Aos 69 anos, Adalberto Val é mais do que um cientista premiado. É símbolo de uma Amazônia que pensa, inova e transforma. Pesquisador do INPA, membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da The World Academy of Sciences (TWAS), ele também é cofundador do portal Brasil Amazônia Agora. Nesta entrevista exclusiva, Val compartilha a trajetória que o levou do fascínio pelos peixes amazônicos a se tornar uma das vozes mais lúcidas da ciência latino-americana, engajada na defesa da floresta viva, da soberania do conhecimento e do protagonismo dos povos da Amazônia.

Uma curiosidade que virou missão de vida

A história começa com o encantamento juvenil pela fisiologia dos peixes amazônicos — seres que desafiam a lógica biológica ao sobreviverem em ambientes extremos: águas com baixo oxigênio, pH instável, calor, escassez. Mas o que era fascínio virou chamado. Hoje, movido pela urgência de proteger a biodiversidade frente às pressões ambientais e sociais, Val transforma ciência em instrumento de soberania e justiça ambiental. A floresta, para ele, não é apenas um bioma: é um território de inteligência, resistência e criação.

Do INPA ao INCT-Adapta: ciência que nasce e floresce na Amazônia

À frente do INPA, Val enfrentou tempos de escassez e oportunidades. Foi nesse contexto que semeou o INCT-Adapta, um instituto de pesquisa que estuda como organismos amazônicos respondem às mudanças ambientais e climáticas. O projeto articula pesquisa de excelência, formação de doutores e diálogo com a sociedade — tudo com base no território. O grande desafio? Consolidar uma ciência amazônica feita na e pela Amazônia.

AmIT: inovação com DNA amazônico

Idealizado por Val, o Amazon Institute of Technology (AmIT) nasce com uma ambição clara: converter o conhecimento científico da floresta em soluções para quem vive nela. Em sinergia com o Adapta, o AmIT propõe uma bioeconomia crítica e inclusiva, com tecnologias apropriadas, co-construídas com as comunidades e não apenas voltadas ao mercado global. A floresta em pé é o centro — viva, pulsante e produtiva — com gente que pensa e cria a partir dela.

Formação de talentos com os pés no chão da Amazônia

O futuro da ciência amazônica não está apenas nos laboratórios. Está nos rios, nas aldeias, nas periferias urbanas. Por isso, Val defende uma formação transdisciplinar, que una biologia, engenharia, economia, ciência social e tecnologias digitais, com escuta ativa e respeito aos saberes locais. Para ele, ciência boa é a que resolve problemas reais e gera pertencimento.

Infraestrutura para a ciência da floresta

 Para tornar o AmIT uma referência pan-amazônica, é preciso criar condições: laboratórios flutuantes, redes de internet de alta velocidade, equipamentos de ponta, mobilidade entre centros de pesquisa, formação continuada. O futuro da pesquisa exige presença no território e investimento estratégico.

Parcerias e novos pactos pela ciência

Val acredita em um modelo de governança baseado em alianças entre governo, setor privado responsável, agências multilaterais e a sociedade civil. BNDES, BID, FAO, Unesco e cooperação sul-sul estão no radar. Mas o ponto central permanece: a ciência deve ter fins sociais — cuidar da vida, do território, das pessoas.

Mercados justos e valorização da produção local

Peixes, mel, óleos e fibras amazônicos só ganharão mercado com rastreabilidade, certificação, qualidade e inovação. Mas não basta exportar: é preciso reter valor e redistribuí-lo para quem cuida da floresta. Val defende uma bioeconomia com justiça e com rosto amazônico.

Embalagens do futuro: naturais, biodegradáveis, comestíveis

Inspirado na abundância da floresta, o AmIT investe em soluções baseadas em polímeros naturais, muitos derivados de resíduos agroflorestais. A ideia é transformar problema em solução e lixo em riqueza. Parcerias com centros de biotecnologia e empresas da economia circular aceleram essa jornada.

Um legado de raízes profundas e frutos generosos

Mais do que prêmios, o que emociona Val é ver jovens cientistas amazônicos tomando as rédeas do próprio futuro. Seu legado será uma ciência com raízes na floresta e olhos no mundo. Uma ciência a serviço da dignidade, da justiça climática e da vida. Um Brasil que respeita e aprende com a Amazônia.

Acesse aqui a matéria original na íntegra, no site do Brasil Amazônia Agora

(Brasil Amazônia Agora, 31/7)