“A Evolução é Fato”: Lançamento na 77ª SPBC!

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No dia 17 de julho, a 77ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) dedicou uma mesa-redonda ao livro “A Evolução é Fato”, da Academia Brasileira de Ciências (ABC). O livro é fruto do trabalho de 28 cientistas que compilaram histórias e descobertas que não deixam dúvidas sobre a Evolução Biológica ser um fato científico e a pedra basal na qual se sustenta toda a biologia.

A mesa-redonda foi coordenada pelo Acadêmico Samuel Goldenberg, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e contou com quatro palestras de cientistas que contribuíram com capítulos pro livro. O Acadêmico Carlos Frederico Menck, coordenador do trabalho e professor da Universidade de São Paulo (USP), fez um panorama geral da publicação; a Acadêmica Marie-Anne Van Sluys, também da USP, abordou a evolução das plantas e da fotossíntese; Marina Bento Soares, pesquisadora do Museu Nacional, falou sobre a evolução no registro fóssil; e o Acadêmico Fabrício Rodrigues dos Santos, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),  abordou a evolução do ser humano.

“O que nós decidimos foi por mostrar que a evolução é demonstrada por evidências científicas, incluindo algumas com participação brasileira. Conforme escreveu a presidente da ABC, Helena Nader, no prefácio: ‘A evolução é um alicerce para entender a biologia, desde a ecologia e a genética até a medicina e a saúde pública. A ABC afirma que o criacionismo e o design inteligente não têm lugar na explicação da origem da vida no mundo em que vivemos’”, iniciou Menck.

Marina Bento Soares (Museu Nacional), Samuel Goldenberg (Fiocruz), Fabrício Soares (UFMG), Marie-Anne Van Sluys (USP), Carlos Menck (USP) | Foto: Jardel Rodrigues/ SBPC

Uma viagem desde os primórdios da Terra

O livro começa com o surgimento do próprio planeta Terra, há 4,5 bilhões de anos, como uma bola de fogo inabitável. Só após um grande resfriamento, que levou a formação dos primeiros oceanos, é que a vida se tornou possível. As primeiras evidências dela no registro fóssil começam a aparecer há cerca de 3,8 bilhões de anos.

A origem da vida

Mas como exatamente a vida surgiu? Para começar a responder essa pergunta, precisamos olhar para as três moléculas fundamentais da vida: o DNA, o RNA e as proteínas. As três são cadeias de carbono compostas por pequenos “blocos” que se repetem. No caso do DNA e do RNA, são os nucleotídeos, e no caso das proteínas, os aminoácidos. Na maioria dos seres vivos atuais, a informação hereditária – aquela capaz de ser transmitida na reprodução – é armazenada no DNA, mas essa molécula sozinha não é capaz de formar um organismo. Para isso, a informação contida no DNA é transcrita em RNA e depois traduzida em proteínas, essas sim, capazes de realizar as funções do nosso corpo.

Isso só é possível graças ao que chamamos de código genético, cuja descoberta foi um marco na história da biologia. Resumidamente, cada sequência de três nucleotídeos sempre corresponderá a um mesmo aminoácido, permitindo que seja possível olhar para uma molécula de DNA ou RNA e saber exatamente qual proteína ela irá produzir. Esse código é compartilhado por todos os seres vivos e é a prova de que todos somos descendentes de um único ancestral comum. “A Evolução está escrita nos nossos genes”, sumarizou Carlos Menck.

A fotossíntese e o surgimento de uma atmosfera com oxigênio

Uma vez estabelecida as primeiras formas de vida, ela logo se encapsularia e começaria a desenvolver as primeiras atividades metabólicas, surgindo as primeiras células sem núcleo – procariontes – não muito diferentes das bactérias que conhecemos hoje. Durante cerca de dois bilhões de anos esses organismos habitaram os oceanos primordiais e evoluíram.

Nesse período, um dos mais notáveis desenvolvimentos foi o surgimento da fotossíntese, pela qual algumas bactérias, chamadas cianobactérias, passaram a utilizar a luz solar para produzir energia, liberando oxigênio no processo. “A fotossíntese é esse processo em que as plantas capturam o gás carbônico, usam a luz do sol como energia, e como resultado temos açúcar e oxigênio. Esse processo evolutivo gerou uma transformação na atmosfera”, explicou Marie-Anne Van Sluys.

Conforme esse novo gás se acumulava na atmosfera, muitas bactérias não adaptadas acabaram extintas, mas algumas tinham o necessário para usar o oxigênio para gerar energia, nas primeiras formas de respiração aeróbica.

Então, por volta de 1,9 bilhões de anos atrás, surgiu um novo tipo de célula dividida em “compartimentos”, entre os quais um núcleo para o DNA. Eram as primeiras células eucarióticas. Com isso, essas células se tornaram capazes de regular a expressão dos seus genes, fazendo explodir a diversidade possível de organismos. Os eucariotos deram origem a formas de vida extremamente variáveis e complexas, o que é uma matéria-prima muito rica para a seleção natural.

Uma das primeiras inovações dos eucariotos foi a absorção de bactérias fotossintetizantes e aeróbicas, as ancestrais dos plasmídeos e das mitocôndrias, respectivamente. Essas bactérias se tornaram organelas celulares e ficaram responsáveis por realizar essas mesmas funções dentro dos seus novos hospedeiros. “Essa teoria, chamada de Endossimbiose, foi proposta inicialmente pela bióloga Lynn Margulis, mas no início pouca gente acreditou. Até que quando finalmente sequenciaram o DNA das mitocôndrias e plasmídeos, viram que eram, de fato, bactérias”, explicou Menck.

Outra inovação foi a pluricelularidade, cujas primeiras evidências aparecem há cerca de 1,4 bilhões de anos atrás. Pela primeira vez, um único organismo passou a ser formado por mais de uma célula trabalhando em conjunto. A partir daí, o cenário estava preparado para uma verdadeira revolução da vida na Terra.

A Explosão do Cambriano e as “Big Five”

Desde que a vida surge, há 3,8 bilhões de anos, até cerca de 500 milhões de anos atrás, o registro fóssil é dominado por evidências microscópicas de vida unicelular. Esse cenário muda no período imediatamente anterior ao que chamamos de Cambriano, quando uma profusão de fósseis pluricelulares começou a aparecer.

Muitos desses organismos são diferentes de tudo o que conhecemos hoje em dia, mostrando que houve uma fase de intensa “experimentação evolutiva” antes de que os grandes grupos – filos – de animais e plantas se estabelecessem. Períodos de intensa expansão da biodiversidade intercalaram com grandes eventos de extinção em massa, cinco ao todo, quando mais de 75% da biodiversidade foi perdida em intervalos “curto” de tempo, em um ou dois milhões de anos. Existem muitas razões para esses grandes eventos de extinção, como períodos de intenso vulcanismo, mudanças climáticas e impactos de asteroides.

Aos sobreviventes dessas extinções coube continuar a trajetória evolutiva, ocupando nichos ecológicos deixados pelos que se extinguiram. Há cerca de 250 milhões de anos, no Triássico, surge a linhagem dos mamíferos. “Mamíferos sobrevivem a três grandes eventos de extinções em massa, as extinções do final do Permiano, do Triássico e do Cretáceo, essa última responsável por extinguir os dinossauros não-avianos”, explicou Marina Bento Soares.

Chegamos ao Ser Humano

Cerca de 5 milhões de anos atrás, um grupo de primatas divergiu de seu ancestral comum com os chimpanzés, passou a andar em dois pés e, após deixar um vasto número de espécies-primas para trás, se tornou o Homo sapiens, o ser humano moderno. “Foi nesse momento que começou a desinformação sobre a Evolução”, brincou Fabrício dos Santos. “Isso porque foi quando mexeu conosco, com a origem que dávamos como certo pela religião”, refletiu.

Apesar de ser apenas um sopro na história da vida, a evolução humana é o ponto mais sensível do debate. Mesmo Charles Darwin não teve coragem de abordá-la em seu clássico A Origem das Espécies, vindo a fazê-lo apenas em seu livro posterior, A Descendência do Homem, pelo qual foi hostilizado. O próprio Alfred Russel Wallace, que divide com Darwin o mérito de ter primeiro descrito a seleção natural, morreu sem aceitar as inferências óbvias que a teoria trazia para a nossa própria espécie.

Mas a conclusão é inescapável. Seja nos traços que compartilhamos com os outros primatas, seja no fato de compartilharmos 98,5% de DNA com os chimpanzés, as evidências científicas não deixam dúvidas. O ser humano é um animal como outro qualquer, produto de um processo de evolução por seleção natural que vem ocorrendo há 4 bilhões de anos.

Assista à mesa-redonda completa:

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