ABC na SBPC: acesse as matérias feitas pela equipe da ABC

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O Teatro da Praça de Recife, em Pernambuco, foi palco da abertura da 77ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), na noite de domingo, 13 de julho de 2025. Integraram a mesa Mauricélia Montenegro, secretária de CT&I do Estado de Pernambuco; Helena Nader, presidente da ABC; Luiz Antonio Elias, presidente da Finep; Acadêmica Denise Carvalho, presidente da Capes; Victor Marques, vice-prefeito da cidade do Recife (substituído no meio da solenidade pelo deputado Pedro Campos); Maria José Sena, reitora da UFRPE; Priscila Branco, vice-governadora do Estado de Pernambuco; Renato Janine, presidente da SBPC; Luciana Santos, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação; Acadêmico Ricardo Galvão, presidente do CNPq; Maria Fernanda Avelar, diretora presidente da Facepe; e Wolney Queiroz, ministro da Previdência Social.

Com excelentes apresentações musicais, de dança regional e discursos de autoridades, o tom e a letra da solenidade foram definidos logo de início, com a leitura de uma carta pelo presidente da SBPC e Acadêmico Renato Janine Ribeiro.

Abrindo a última Reunião Anual de seus quatro anos como presidente da SBPC, com o belo tema “Progresso é Ciência em todos os Territórios”, Janine relatou que pretendia adotar um tom mais pessoal, mas que os últimos acontecimentos o levaram a falar com mais solenidade, devidamente autorizado pela Diretoria e pelo Conselho da Sociedade. Também por isso, em vez de falar por último, optou por falar primeiro, para trazer a todos, desde o início, o posicionamento da SBPC.

O filósofo relembrou que nos períodos mais sombrios da ditadura militar, a reunião anual da SBPC era o principal espaço de respiração da sociedade brasileira. Embora o país estivesse asfixiado pelo jugo da opressão e da repressão, a SBPC, a OAB [Ordem dos Advogados do Brasil] e a CNBB [Confederação Nacional dos Bispos do Brasil] eram o centro do que veio a se chamar sociedade civil. Hoje, de acordo com o Janine, essas entidades não têm o mesmo peso, dado que surgiram e se desenvolveram entidades de toda ordem que defendem, a seus distintos modos, a democracia, o Estado de Direito, a soberania nacional e popular.

A história da SBPC, portanto, exige que a instituição se posicione sobre as ameaças que atualmente pairam sobre o Brasil e, mais que ele, sobre o mundo. “Evidentemente nos referimos às últimas notícias de Washington, com o presidente Donald Trump decidindo aplicar a nossas exportações para os Estados Unidos tarifas absurdamente elevadas, numa chantagem raras vezes vista nas últimas décadas e sem precedentes no século XXI – até mesmo exigindo que nossa Justiça absolva e solte autores de um crime detestável: um golpe contra o regime democrático, que incluía o assassinato do presidente e vice eleitos, bem como do presidente do Tribunal Superior Eleitoral. A SBPC reuniu anteontem sua diretoria e ontem seu Conselho, que por unanimidade decidiram manifestar seu repúdio mais veemente a tal ameaça à soberania nacional, assim como ao Estado de Direito.”

O Acadêmico apontou que a democracia, no Brasil, é relativamente recente, mas fez suas provas nos últimos anos, dado que foi capaz de barrar as tentativas golpistas do governo passado e está procedendo ao julgamento dos criminosos. Além disso, entre os anos 1990 e os 2010, conseguiu melhorar significativamente a condição econômica dos mais pobres, dos historicamente discriminados e perseguidos. “Nada disso foi fácil. Mas, na comparação com os Estados Unidos, saímo-nos bem. O equilíbrio dos poderes, invenção da Constituição norte-americana, funcionou melhor nos tempos recentes aqui do que lá. Assim a defesa da democracia, da soberania é o primeiro ponto que a SBPC, aqui, afirma, na minha voz”.

Ele repudiou a taxação sobre as exportações brasileiras que a seu ver, foi decretada sob alegações mentirosas, pois na balança econômica com os Estados Unidos é fato comprovado e conhecido que o Brasil compra mais do que vende. “Ora, mentiras não sustentam relações consistentes”, afirmou Janine.

“Queremos manter as Américas como um espaço de paz. Nosso espaço comum não conhece conflitos bélicos há bastante tempo, e o Brasil não entra em guerra com seus vizinhos há mais de um século e meio. Mas, se não queremos guerras com armas brancas ou de fogo, também não admitimos guerras híbridas. Não aceitamos imposições que violem nossa dignidade, a vontade livremente expressa por nosso povo em eleições livres, a segurança garantida pelo Estado de Direito”, declarou com firmeza, sob aplausos, o presidente da SBPC.

O ódio não é inevitável, nas relações humanas ou entre países, de acordo com o filósofo, que destacou que sobre todos os conflitos deve prevalecer a cooperação internacional. “Pois não há equilíbrio ou amizade quando reina a injustiça. A violência não funda nada de sólido. Ela não substitui os laços baseados no respeito mútuo. Assim, um país digno, um povo altivo, quando vê sua soberania nacional ameaçada, se une. As divergências se calam, ante o valor superior da defesa de sua independência.”

Como presidente da maior sociedade científica, a maior da América Latina, uma das maiores do planeta, Janine afirmou que é dever da comunidade acadêmica e científica brasileira defender o país com a sua melhor contribuição: a ciência. “É ela que hoje mais desenvolve a produção, seja de bens, seja de serviços; é ela também que delineia as melhores estratégias de combate à fome, à miséria, à injustiça. E é por isso que entendemos ser vital o Governo brasileiro reconhecer o papel da ciência, assim como da tecnologia e inovação, para defender nossa soberania enquanto nação e enquanto povo, assegurando os recursos que financiem os avanços na pesquisa que sejam cruciais para vencermos as ameaças que hoje pairam sobre nós.”

Janine alertou o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), assim como os três poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário, para a necessidade de tratar a ciência como o que ela é hoje em dia: o insumo mais poderoso para vencer ameaças à produção e, além dela, à soberania nacional e a soberania popular, que são indissolúveis. E com isso declarou aberta a 77ª Reunião Anual da SBPC, “sob o signo da ciência, da democracia, do amor ao Brasil.”

O presidente da  Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Vinicius Soares, falou a seguir. Apresentou concordância com o que havia sido colocado por Janine e reiterou que é preciso uma grande unidade para a formação de uma frente social ampla para enfrentar a pressão internacional e, internamente, para mudar a correlação de forças dentro do Congresso Nacional, principal campo de batalha política atualmente e que tem imposto derrotas duras ao povo brasileiro, especialmente na questão orçamentária. “Somente a luta política permitirá mudar esse cenário de destruição dos nossos sonhos. Precisamos lutar com perspectiva para aprovar um orçamento para 2026 que comporte nossos sonhos, de uma ciência presente em todos os territórios, como propõe o tema desta reunião. Mas isso só será possível com a mudança da política econômica atual, a retirada da educação e da ciência do arcabouço fiscal e a utilização do Fundo Social do Pré-sal para esses setores”, ressaltou.

Ao ser convidada para falar, a presidente da ABC, Helena Nader, declarou sua total concordância com as palavras anteriores, de Renato Janine e Vinicius Soares. “A SBPC e a ABC são parceiras. Precisamos sair às ruas para dizer: Brasil é soberano! Vamos à luta!”

Em seguida, após as homenagens da ABC, foi entregue pela ministra Luciana Santos e pelo presidente do CNPq, Ricardo Galvão, o 45º Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica ao Acadêmico Luis Carlos Bassalo Crispino, professor de física da Universidade Federal do Pará (UFPA), na categoria Pesquisador e Escritor. Nessa área, ele já havia recebido o Prêmio Ernest Hamburger – Edição 2020, oferecido pela Sociedade Brasileira de Física, e o Prêmio CLIO de História – Edição 2007, Academia Paulistana da História, por suas pesquisas em história da ciência e da tecnologia na Amazônia.

Luciana Santos, Ricardo Galvão, a filha do premiado, Luis Carlos Crispino, seu filho menor, Renato Janine e o apresentador

Em seu discurso de agradecimento, Crispino frisou que recebia aquele prêmio por rum percurso que construiu com a ajuda de muita gente – seus reitores, colegas, ex-alunos, atuais alunos, sua família e sua esposa Ângela, representados nas pessoas de seus dois filhos, junto com ele no palco.  “As pessoas precisam saber da importância da ciência, porque é isso que vai nos ajudar a combater o negacionismo”, apontou.

A ministra de CT&I, Luciana Santos, encerrou o evento comemorou a futura parceria com a presidente eleita da SBPC, Francilene Garcia, “outra mulher nordestina arretada” à frente de uma entidade científica brasileira. E reforçou o discurso de Renato Janine em prol da soberania brasileira, citando a letra de um frevo de rua pernambucano que diz que “nós somos madeira de lei que cupim não rói”. “Não tentem nos subjugar. O Brasil é dos brasileiros. Vamos unir o Brasil!”

 

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(Elisa Oswaldo-Cruz para ABC | Fotos GCOM ABC | Foto da capa: Jardel Rodrigues/SBPC)