Leia artigo de opinião de João Guilherme Sabino Ometto, engenheiro, empresáio e membro da Academia Nacional de Agricultura (ANA), publicado no Estadão em 9/7:
O reconhecimento internacional à grande pesquisadora brasileira Mariangela Hungria, com o Prêmio Mundial de Alimentação, considerado o “Nobel” da agricultura, concedido em maio pela Fundação World Food Prize, dos Estados Unidos, é motivo de orgulho para a comunidade acadêmica e todo o nosso país. Sua notável trajetória ilustra com nitidez o poder transformador da ciência quando se alia ao compromisso com o desenvolvimento sustentável.
Engenheira agronômica pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), mestra, doutora e pós-doutora por reconhecidas instituições nacionais e internacionais, pesquisadora da Embrapa Soja, com mais de quatro décadas dedicadas à microbiologia do solo, e integrante da diretoria da Academia Brasileira de Ciências, Mariangela destaca-se pelos estudos bem-sucedidos sobre o uso de insumos biológicos em substituição aos químicos. Com certeza, seu trabalho foi uma contribuição fundamental para elevar a produtividade no campo e reduzir custos e impactos ambientais da agricultura brasileira.
As descobertas de nossa brilhante cientista impulsionaram uma nova mentalidade para a agricultura do século 21. Também é emblemático que uma mulher seja a primeira brasileira a receber o Prêmio Mundial de Alimentação, reforçando a relevância da igualdade de gênero, que ainda precisa avançar no contexto da sociedade. O trabalho da pesquisadora é inspirador e muito significativo, pois teve impactos positivos concretos. Seus estudos resultaram na criação de dezenas de tratamentos biológicos para sementes, elevando a produtividade de culturas agrícolas estratégicas e reduzindo a dependência de fertilizantes químicos.
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Da mesma forma, as universidades públicas, que sofreram perdas expressivas de recursos para pesquisa nos últimos anos, precisam de urgente reforço orçamentário. É nelas que se formam os pesquisadores, que se geram os dados, que se validam as descobertas e se experimentam as soluções.
O justo prêmio concedido a Mariangela, além de consagrar o mérito de uma cientista brilhante, constitui-se em alerta e inspiração. É preciso investir de modo contínuo em gente, educação, laboratórios, intercâmbio internacional e pesquisa. Também são imprescindíveis a liberdade do pensamento no âmbito da academia e o respeito aos cientistas.
O reconhecimento ao trabalho da dra. Mariangela Hungria tem imenso significado, pois coloca o Brasil no centro do mapa mundial da inovação agrícola e reafirma que nossa ciência é relevante, eficiente e transformadora. Que sua merecida conquista seja também um chamado à sociedade e ao poder público, no sentido de que é preciso dar à pesquisa e à academia o seu real valor. Somente assim teremos, além de prêmios, um país mais justo, mais próspero e, sobretudo, mais preparado para os desafios referentes à segurança alimentar, à agenda do clima e ao desenvolvimento sustentado.