Morre aos 85 anos no Rio o matemático Jacob Palis

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*Publicado originalmente no jornal O Globo

Morreu nesta quarta-feira (7), aos 85 anos, o matemático Jacob Palis, figura que ajudou a colocar o Brasil no mapa mundial de pesquisa na área e transformou o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) em uma potência da ciência.

O professor e pesquisador estava internado com problemas de saúde desde março, e após um agravamento da situação nos últimos dias, não resistiu a sua situação de debilidade. A família não divulgou causa específica da morte.

Palis foi um dos maiores especialistas do mundo na área conhecida como “sistemas dinâmicos”, um ramo da matemática que estuda a evolução de estruturas ao longo do tempo e busca entender seu comportamento complexo, por vezes caótico.

Além de diretor do instituto, Palis foi presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da União Matemática Internacional (IMU), além de doutor honoris causa de nove universidades no Brasil e no mundo.

A ABC realizava sua reunião magna nesta tarde no Rio, durante a qual foi pedido um minuto de silêncio em homenagem a Palis. Segundo a biomédica Helena Nader, atual presidente da ABC, Pallis teve importância também em engajar a comunidade científica brasileira na luta pela liberdade acadêmica no país.

— Hoje eu perdi um grande amigo — afirmou a cientista em depoimento ao GLOBO. — Jacob Palis vai fazer muita falta para o Brasil por tudo o que ele fez pela educação, pela ciência, pela tecnologia e pela democracia. Ele foi um batalhador na Constituição, batalhou pelo direito à educação e pelo direito ao pensar livre. O que eu aprendi com ele vai estar comigo para o resto da minha vida.

Os colegas de instituto também lamentaram a morte de Palis, lembrando a importância que ele teve para o desenvolvimento da matemática no Brasil.

— Jacob é, simplesmente, um gigante da nossa ciência — afirma Marcelo Viana, atual diretor do Impa. — A sua visão estratégica, a sua liderança e a sua contribuição científica, revolucionaram a face da matemática e da ciência praticadas no Brasil e na América Latina, influenciando instituições e inspirando jovens cujas vidas ele impactou profundamente e entre os quais eu tenho a honra de me incluir.

Prodígio dos números

Natural de Uberaba (MG), Palis chegou ao Rio aos 16 anos, no final da década de 1950, e se destacou intelectualmente desde cedo. Foi o primeiro colocado no vestibular da UFRJ (a então Universidade do Brasil) e ganhou prêmio de melhor estudante de graduação da instituição ao se formar em 1962.

Depois disso, partiu para a pós-graduação na Universidade da Califórnia em Berkeley, onde estudou com Stephen Smale, superstar da matemática na época, que ganhou a Medalha Fields enquanto Palis concluía o doutorado sob sua supervisão.

Voltando ao Brasil em 1968, passou a desenvolver conjecturas próprias e fez contribuições pioneiras fundamentais para a “teoria das bifurcações”, um ramo de pesquisa que estuda como as soluções de um sistema mudam de fase (ou sejam, mudam em qualidade, não só em quantidade), à medida que alguns parâmetros são modificados.

Abstrações à parte, suas colaborações internacionais com outros matemáticos o ajudaram a criar bases de uma cultura científica cosmopolitana no Brasil. Em 1971, ele organizou um simpósio internacional sobre sistemas dinâmicos que atraiu ao Impa nomes acadêmicos de peso que ajudaram na construção da matemática brasileira.

De 1993 a 2003, período em que comandou o Impa, Palis ajudou a transformar o instituto em uma organização social, modelo de entidade que permite mais autonomia e flexibilidade, o que ajudou muito em seu crescimento e sua internacionalização.

Jacob Palis deixa os filhos Rebeca, Carlos Emanuel e Laura, a esposa Suely Lima, um grande legado para a matemática mundial e um exemplo de vida dedicada à ciência”, afirmou o Impa nesta tarde, na nota em que comunicou a morte do matemático.

Nas salas de aula e pesquisa, Jacob deixa seus herdeiros acadêmicos: são 42 pesquisadores com título de doutor que, subsequentemente, orientaram outros 141 doutores em matemática mais jovens.

Leia a matéria original aqui

 

(Rafael Garcia para O Globo, 7/5/2025)