Professora de química orgânica da Universidade Federal de Goiás e nova membra afiliada da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Sumbal Saba é exemplo de porque a ciência brasileira deve se internacionalizar. Paquistanesa da cidade de Peshawar, Sumbal é a mais velha dos quatro filhos de Yasmeen Ali Shakir e Shakirullah Ali. Os pais gostariam que ela acompanhasse os passos da mãe e fizesse medicina, mas o gosto pelo estudo e pela exploração do desconhecido fizeram a menina sonhar com outra carreira.
No colégio a pequena Sumbal adquiriu o gosto pela química, mas não entendia para que serviria todo aquele conhecimento sobre átomos e moléculas. A resposta veio de uma professora, que lhe disse “desde a agulha até o céu, tudo é feito de química”. Essa universalidade dos elementos fez com que a Acadêmica decidisse o caminho a seguir.
Sumbal Saba cursou graduação na Universidade de Peshawar, onde faria mestrado e também uma especialização em educação. Foi lá que ela adquiriu gosto pela química orgânica, área na qual se especializou e passou a ensinar. “Todos os sistemas vivos no universo são baseados na química orgânica. É como a natureza é sintetizada, através de um número ilimitado de maravilhosos compostos orgânicos. Portanto, decidi seguir esta área e me tornar uma cientista capaz de sintetizar compostos orgânicos para beneficiar a sociedade”, conta.
A capacidade de criar tecnologias em benefício aos seres humanos é outra coisa que atrai Sumbal Saba na ciência. “Alguns anos atrás, o mundo não estava tão avançado como hoje. Estou no Brasil e posso conversar com minha mãe no Paquistão a qualquer horário. Este é um dos milagres da ciência”, resume.
A chegada ao Brasil se deu em 2012, para cursar doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sob orientação do professor Antonio Luiz Braga. A oportunidade veio graças a uma bolsa concedida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em parceria com a Academia Mundial de Ciências (TWAS). A mudança não veio sem dificuldades, Sumbal Saba chegou ao país sem saber português e teve contato com uma cultura completamente nova, mas, graças ao apoio da família, do marido, que já estava no Brasil e de seus novos colegas de trabalho, conseguiu superar esses novos desafios.
“Gostaria de agradecer a todos os meus professores pelas importantes contribuições para o que sou hoje. Além disso, minha gratidão especial à minha família, especialmente, minha mãe e meu marido, bem como ao meu orientador de doutrorado, por me ajudarem não apenas na educação e pesquisa, mas também para que eu me tornasse um humano melhor, desconsiderando questões de raça, fé e cultura”, agradece Saba.
Em 2020, a professora foi contratada para lecionar no Instituto de Química da UFG, onde fixou suas raízes. Lá ela fundou o Grupo de Síntese Sustentável e Organocalcogênio (LabSO), onde orienta alunos no desenvolvimento de novos compostos com aplicação farmacêutica contra doenças como câncer e Alzheimer.
“A ciência, apesar da complexidade do mundo natural e físico, consegue explicar muito do que acontece no mundo, tornando-o um lugar bastante lógico para se viver. A nossa capacidade de tratar doenças e salvar vidas deve-se em grande parte à ciência e à sua melhor amiga, a tecnologia. Como química, digo que podemos encontrar solução para a maioria dos problemas de saúde, sociais e ambientais através de nossos métodos sintéticos sustentáveis”, afirma a pesquisadora.
Além de pesquisadora, Sumbal é mãe da pequena Laiba, de apenas dois anos. Agora na ABC, ela pretende usar esse espaço para defender oportunidades iguais para mulheres na ciência. “Conheço bem os problemas que enfrentamos no dia a dia, na nossa vida pessoal e profissional. Pretendo utilizar esta plataforma para incentivar mais mulheres na ciência, especialmente as jovens e mães”.