Yuri Gomes Lima nasceu em Fortaleza, no estado do Ceará, no ano de 1985, de onde só saí para fazer doutorado no Rio de Janeiro, em 2007, com 22 anos.
O pai é engenheiro e a mãe foi funcionária do Banco do Brasil, os dois sempre trabalharam fora. Yuri é o filho do meio, com um irmão quatro anos mais velho e uma irmã mais nova. Ele conta que teve uma infância repleta de diversão. Não gostava de ficar parado, jogava futebol e inventava coisas quando não tinha nada para fazer.
No colégio, gostava mais de matemática e começou a participar de olimpíadas de matemática no 9o ano. Por meio das olimpíadas, aproximou-se da matemática tanto do ponto de vista olímpico quanto profissional. Por conta disso, teve o privilégio, em suas palavras, de realizar cursos de verão na Universidade Federal do Ceará (UFC) e no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) durante o ensino médio, onde aprendeu um pouco sobre matemática em nível universitário. Ao longo desse processo, teve como professores Onofre Campos, Antônio Caminha e o Acadêmico Carlos Gustavo Moreira Tamm.
Embora tenha tido esse contato precoce com a matemática universitária, a carreira acadêmica ainda era muito distante da sua realidade. Na hora da escolha do curso, no vestibular, decidiu-se pela computação e foi aprovado tanto na UFC como no Instituto Militar de Engenharia (IME). Mudou-se para o Rio de Janeiro para cursar o IME e no mês seguinte iniciou, concomitantemente, o mestrado em matemática no IMPA. Porém, um mês depois decidiu sair do IME e retornar a Fortaleza para fazer graduação em matemática.
Yuri considera que essa decisão foi um divisor de águas em sua vida. A escolha pela pesquisa já estava feita. Realizou iniciação científica (IC) com alguns professores, inclusive obtendo menção honrosa na 1ª Jornada de IC em 2004, em trabalho em colaboração com o amigo e hoje também matemático Davi Máximo, professor da Universidade da Pensilvânia, nos EUA.
A UFC possibilitou uma aceleração no seu percurso acadêmico: ao entrar na graduação, já começou a cursar disciplinas de mestrado. Adicionalmente, a coordenação do curso autorizou quebras de pré-requisitos para que ele pudesse realizar mais disciplinas por semestre, algumas delas à noite. Na prática, durante dois anos de graduação ele tinha aulas todos os dias em pelo menos dois períodos. Yuri reconhece que foi um período muito intenso, em que aprendeu bastante. “Ao fim de quatro anos, eu já havia cursado todos os créditos necessários para obter o bacharelado e o mestrado em matemática. Minha graduação oficial foi na metade de 2006, e defendi o mestrado no início de 2008, quando já cursava o segundo ano de doutorado no IMPA”, relatou.
“A matemática é uma ciência muito peculiar, que se aproxima da arte em muitos aspectos, dentre elas a busca da beleza. Ela é surpreendente pois, a partir de uma lista de premissas básicas iniciais, permite obter conclusões profundas e não previstas. Isso é o que mais me encanta”, diz o Acadêmico.
Doutor em matemática pelo (IMPA, Yuri Lima fez estágios de pós-doutorado pela Universidade de Paris- Sul (Paris Sud), na França, pela Universidade Maryland (UMD) nos Estados Unidos, no Instituto Weizmann de Ciência (WIS), em Israel e no IMPA. Atualmente ele é professor adjunto da Universidade Federal do Ceará (UFC). Suas pesquisas têm ênfase em sistemas dinâmicos, teoria ergódica, combinatória e probabilidade.
Ele conhece bem a dificuldade de explicar matemática pura de modo mais compreensível pelo público em geral. Então, para descrever sua pesquisa, desenvolveu um exemplo. “Imagina que você joga uma moeda para o alto. Sabemos que a moeda pode cair com o lado ‘cara’ ou o lado ‘coroa’ para cima, certo? Mas nunca podemos ter certeza absoluta de qual lado vai cair em uma jogada específica, porque há sempre uma chance de 50% para cada lado.
Agora, se você jogar essa moeda muitas vezes, por exemplo, 100 vezes, você pode prever que, na média, vai cair ‘cara’ aproximadamente 50 vezes e ‘coroa’ aproximadamente outras 50 vezes.
O matemático Yuri Gomes Lima estuda contextos como esse, mas em sistemas mais complicados, motivados pelo comportamento do clima, de grupos de pessoas, ou até mesmo de como certas populações mudam com o tempo.
“Não dá para dizer com 100% de certeza o que vai acontecer em um momento específico, se vai chover amanhã ou não. Mas, com as ferramentas certas, sua área permite estimar quantos dias, em média, vai chover durante o mês.
Então, mesmo que a gente não possa ter certeza sobre um evento específico, como a chuva de amanhã, podemos usar a matemática para entender a probabilidade de algo acontecer e para prever padrões ao longo do tempo”, esclareceu. Esse tipo de estudo, de acordo com Yuri, ajuda em muitas áreas, permitindo entender como as doenças se espalham e até mesmo como as pessoas se comportam em sociedade.
O título de membro afiliado da ABC, para Yuri, é uma conquista que ressalta seriedade do trabalho desenvolvido pelo Departamento de Matemática da UFC, em especial a Pós-Graduação em Matemática (PGMAT). “Indica que estamos no caminho correto, com o fortalecimento do grupo como líder de excelência nacional e internacional. Esperamos continuar atraindo pesquisadores de grande qualidade para ajudar no desenvolvimento do grupo e, consequentemente, da UFC”, avalia.
E depois de tanta matemática, só mesmo muita música e muito vento, para praticar kitesurfe nos mares cearenses…