
Jadson conta que sua infância foi uma fase excelente da vida, mas não foi fácil. A família de classe média baixa teve momentos de escassez financeira, mas seus pais nunca deixaram faltar nada em casa. A educação dos três filhos sempre foi prioridade para José e Rosângela, que investiam com dificuldade em escolas particulares. Entretanto, o investimento deu resultados positivos: os três irmãos ingressaram na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Jefferson, dois anos mais velho, graduou-se em economia; Jadson graduou-se em ciências biológicas e a irmã mais nova, Julyane, cursou farmácia.
Quando menino, Jadson gostava de jogar futebol na rua com amigos, andar de bicicleta, jogar vídeo game, bola de gude, polícia e ladrão, pega-esconde, jogos de tabuleiro, entre outros. Também foi escoteiro dos sete aos 15 anos de idade, onde teve grande contato com a natureza e aprendeu a respeitá-la. Foi nesse cenário que também aprendeu valores como o respeito ao próximo, honra à pátria, cidadania e o serviço ao próximo, além da justiça, verdade e cordialidade. Ele relata que sempre foi observador, além de ter sido uma criança que gostava realmente de estudar e que tinha facilidade em aprender. Essas questões foram determinantes para seu desenvolvimento na área científica: “À medida que crescia, me tornava sistemático e metódico em muitas coisas. A busca da evidência e da verdade se tornou algo natural”, afirma.
Na escola, gostava mais de ciências no ensino fundamental e no ensino médio, preferia biologia, química e física. Tinha vontade de seguir carreira na medicina e esteve convicto disso por bastante tempo. No entanto, ao assistir um documentário sobre uma cirurgia muito delicada, percebeu que ter nas mãos a saúde e bem-estar de vidas humanas era uma responsabilidade com que não saberia lidar. Tentou um meio termo, a biomedicina, mas não foi aprovado no vestibular. “Depois desse baque, tive a oportunidade de repensar minha escolha e tentar abrir um leque maior de possibilidades, num curso mais abrangente como o de Ciências Biológicas”, rememorou.
Durante a graduação, iniciada em 2005, Oliveira conciliou o bacharelado na UFRN com o curso técnico de Controle Ambiental pelo atual Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), na época (CEFET-RN). “Foi uma realização maravilhosa, porém muito intensa, com estudo de manhã e à tarde. Não foi fácil, muitas vezes indo direto de uma instituição para a outra. Mas o esforço valeu a pena e sou muito grato por tudo”, diz.
Foi bolsista de iniciação científica (IC) PIBIC de 2006 a 2009 no Laboratório de Fungos do Centro de Biociências (UFRN), onde desenvolveu pesquisa com taxonomia – atividade científica de descrever e dar nome aos seres – de Marasmius, um gênero de cogumelos, na Mata Atlântica em Natal (RN). Seu orientador foi o professor Iuri Baseia e o trabalho resultou na sua monografia. Publicou seu primeiro artigo científico em 2008. Em 2009, Oliveira recebeu uma proposta irrecusável: fazer o mestrado no Instituto de Botânica (IBt), São Paulo, com a Dra. Marina Capelari, uma das maiores especialistas brasileiras em taxonomia e sistemática de Agaricales, um grupo de cogumelos. O curso era no programa de pós-graduação em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente, na área de concentração de plantas avasculares e fungos. O projeto de mestrado teve bolsa concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). E lá se foi o rapaz nordestino para a maior cidade do país.
Daí em diante, Jadson Oliveira foi em frente. Em 2011, teve a oportunidade de transformar seu mestrado em doutorado direto, expandindo as áreas de coleta. Em 2013, realizou um estágio com o Dr. Jean-Marc Moncalvo no Royal Ontario Museum (ROM), em Toronto, Canadá, com bolsa da Fapesp para doutorado sanduíche no exterior e duração de cinco meses, para ampliação e aprimoramento de análises filogenéticas moleculares de Marasmius com sequenciamento de quatro regiões gênicas. Recebeu em 2014 o diploma de doutor do Instituto de Botânica com registro na Universidade de São Paulo (USP), com a tese “Morfologia e relações filogenéticas de Marasmius (Marasmiaceae) de áreas de Mata Atlântica do estado de São Paulo, Brasil”. Em 2015, foi bolsista de pós-doutorado no exterior (PDE) pelo CNPq por um ano, novamente no ROM, na área de filogenômica com uso de Exome Target Sequencing em Agaricales sob a supervisão do Moncalvo. Retornou ao Brasil em 2016, iniciando outro pós-doutorado no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), onde atua até hoje como docente colaborador no programa de pós-graduação em Ciências Biológicas (Botânica) como bolsista do Programa Nacional de Pós-Doutorado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (PNPD/Capes), desenvolvendo pesquisa em taxonomia, sistemática e filogenia de macrofungos da Amazônia, orientando ICs e alunos de pós-graduação.
As pesquisas de Oliveira se dão na área da biodiversidade que, na sua opinião, deveria ser uma área de pesquisa prioritária num país como o Brasil, “devido à rica diversidade biológica, com grande riqueza ecológica, genética, cultural e econômica”. O cientista explica que trabalha com o levantamento ou coleta, identificação e classificação de macrofungos, os populares cogumelos, e preservação das coleções em herbário. “É um estudo descritivo e investigativo, que tem interface com várias linhas de pesquisa”, explicou. Deu exemplos de interação com ecologia de ambientes naturais, biotecnologia com bioprospecção de compostos com propriedade antibiótica, antifúngica e antitumoral, além de outras propriedades úteis para a medicina, farmacologia, agronomia, biorremediação (tratamento de problemas ambientais com uso de organismos vivos), culinária e gastronomia (com os cogumelos comestíveis), e a comunicação com povos tradicionais promovendo o conhecimento atribuído e creditado ao seu povo de origem.
Em 2021, Oliveira atua no grupo de pesquisa Cogumelos da Amazônia, coordenado pela professora Noemia Kazue Ishikawa (ex-afiliada da ABC no período de 2010 a 2014) e equipe que, além da pesquisa, busca estimular a popularização da ciência com os fungos para o público em geral.
Ele revela que é fascinado pela carreira acadêmica e pelo método científico. “A ciência é um instrumento de apropriação de conhecimento ao desvendar o mundo que vivemos. Ela se fundamenta na verdade por trás dos fenômenos, a descrição do que existe, a explicação das funções e dos mecanismos da vida, das engrenagens dimensionais entre energia, matéria e espaço”, afirma.
Oliveira confessa que se tornar membro afiliado da ABC é um dos marcos mais importantes da sua vida profissional, pois é um sinal de confirmação de seu trabalho e realização profissional nas ciências biológicas e na atuação na Amazônia. “Minha pretensão é contribuir com ciência de qualidade e defender a pesquisa científica no Brasil no contexto social e político. Ser uma voz da biodiversidade, servindo às populações e às comunidades de todos os ecossistemas, sejam eles naturais ou urbanos. Uma voz em defesa da conservação e preservação de ambientes, equilibrados por práticas mais eficientes e sustentáveis, com vistas à perpetuação e ao progresso sadio”, expressa.
Para além da ciência, seus hobbies são muitos, como correr, andar de skate, tocar guitarra e violão, compor. Gosta muito de ler e tem descoberto seu interesse por escrever também. É cristão e gosta muito de ler sobre o assunto. “Deus é meu maior suporte. Em segundo lugar minha família, amigos e igreja”, conta.