No dia 13 de novembro foi realizado em Recife o evento Simpósio e Diplomação dos Membros Afiliados da ABC Regional Nordeste & Espírito Santo 2018-2022, no auditório do Departamento de Física da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
A sessão de abertura foi conduzida pelo vice-presidente Regional NE-ES da ABC, Cid Bartolomeu de Araújo, acompanhado pela diretora da Pró-Reitoria de Pesquisa da UFPE, Teresa Ludermir. Ela cumprimentou os novos afiliados, parabenizando-os por terem se destacado por suas realizações científicas. São eles André Lima Férrer de Almeida (Ciências da Engenharia / UFC), Eduardo Costa Girão (Ciências Físicas / UFPI), Ernani de Sousa Ribeiro Júnior (Ciências Matemáticas / UFC), Luis Gustavo Carvalho Pacheco ( Ciências Biomédicas / UFBA) e Thiago George Cabral Silva (Ciências da Saúde / UFES).
O vice-presidente Regional contou um pouco da história da ABC, ressaltando sua missão de promoção da qualidade científica e do avanço da ciência brasileira. Apresentou as categorias de membros existentes, esclarecendo que os titulares são vitalícios e não imortais, como na Academia Brasileira de Letras. Relatou que a categoria de membros afiliados foi criada em 2007, tendo o primeiro grupo de eleitos sido empossado para o período 2008-2012. “Destes 303 jovens cientistas que já passaram pelo mandato de cinco aos, seis já foram eleitos como membros titulares: Ado Jório de Vasconcelos (2014), Fernando Codá dos Santos Cavalcanti Marques (2014), Eduardo Vasconcelos Oliveira Teixeira (2015), Henrique Bursztyn (2017), Antônio Gomes de Souza Filho (2018) e Alicia Kowaltowski (2018).
Cid Araújo reforçou a importância da participação dos membros afiliados nos eventos da ABC e observou que esse título é uma oportunidade única para que estes jovens cientistas tenham um contato mais próximo com a agenda da política científica do país. “A ABC tem uma participação ativa junto ao Congresso e junto ao segmento empresarial”, apontou.
O vice-presidente ressaltou ainda a qualidade das publicações elaboradas por grupos de estudos formados por Acadêmicos e convidados. “Todos os resultados são transformados em livros, que estão disponíveis gratuitamente no site da ABC”. Araújo deu especial destaque ao Projeto de Ciência para o Brasil, livro de 400 páginas elaborado por 180 pesquisadores com avaliações e recomendações para formuladores de políticas públicas e outros segmentos da sociedade.
Por fim, salientou o caminho que os novos membros têm pela frente para contribuir com a ABC e para aproveitar bem este período de afiliação. “A ABC é um ambiente essencialmente multidisciplinar e, por isso e pela qualidade de seus membros, é uma grande oportunidade que vocês devem explorar ao máximo. Sejam bem-vindos.”
A ciência da desinformação
O Acadêmico Virgílio Augusto Fernandes Almeida, do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Centro Berkman Klein para Internet e Sociedade da Universidade de Harvard, foi convidado a proferir a Conferência Magna.
O tema foram estudos sobre notícias falsas e sua veiculação. Virgilio apresentou um editorial da Science intitulado “Imagine um mundo sem fatos”, no qual é apontada a importância da avaliação e geração de evidências. O foco era a ciência, mas vale para a informação de modo geral. Ele explicou que num mundo pós-fatos, o papel da ciência se acentua. “Fatos são afirmações que tem probabilidade muito alta de serem verificadas sempre que observações adicionais apropriadas são feitas”, definiu, acrescentando que “desinformação” é um termo que está sendo usado para referir-se à disseminação de informação explicitamente falsa ou confusa.
As eleições brasileiras ganharam repercussão internacional por terem se tornado um exemplo de caso em que a desinformação pelas mídias sociais ter sido utilizada para influenciar comportamentos no mundo real. Um estudo feito por seu grupo de pesquisa com 100.000 imagens amplamente veiculadas pelo WhatsApp no período eleitoral apontou que mais da metade delas continha informação deturpada ou definitivamente falsa.
A desordem de informação é classificada em três categorias: a “misinformação” a “desinformação” e “má-informação”. A primeira se refere a erros não intencionais em captura de imagens, dados, estatísticas ou traduções, assim como sátiras levadas a sério. A segunda envolve conteúdos audiovisuais fabricados ou deliberadamente manipulados, com a intenção de criar rumores ou teorias da conspiração. A última trata de publicações de informação privada, em nível pessoal ou corporativo, como “pornografia de vingança”, por exemplo. Inclui mudança deliberada de contexto, data ou hora de um conteúdo genuíno. “As duas últimas têm a intenção de causar danos a alguém”, explicou Almeida.
Ele explicou que as notícias que vemos no Facebook e Twitter ou os resultados que obtemos no Google são determinados por algoritmos com ecossistemas complexos, que tornam a internet, de modo geral, um meio facilitador do compartilhamento e redirecionamento de informação falsa com muita rapidez e enorme abrangência. O curioso é que, embora os robôs destinados a este fim realmente existam e tenham papel consistente neste processo, a maior parte da disseminação de notícias falsas é feita mesmo por pessoas E o pior meio é o Whats App, porque ele garante a privacidade, o que impossibilita que as notícias falsas sejam desmascaradas. “Na Índia, por exemplo, que é o maior mercado mundial de WhatsApp, com 200 milhões de usuários – o que corresponde a toda a população do Brasil – 30 mortes no último ano foram relacionadas a rumores falsos que circularam pelo aplicativo de mensagens. A solução dada foi a suspensão da internet em algumas localidades por certo período”, informou Almeida.
E a extensão dos problemas causados por notícias falsas só se amplia: informação errada relativa a votos, alimentos e medicamentos, estímulo a linchamentos, oposição à realidade das mudanças climáticas e à vacinação estão se acentuando e tornando nossa sociedade altamente polarizada. E é uma questão de difícil solução. Almeida explica que os pontos principais que agravam a questão envolvem a apuração da verdade, que nem sempre é simples; a confiabilidade dos conteúdos, dado que o Facebook e o Twitter, diferentemente de veículos profissionais de mídia, não produzem seus conteúdos; conteúdos secretos, como no WhatsApp e no próprio serviço de mensagens do Facebook, podem atingir largos públicos; a velocidade de disseminação atropela a verificação dos fatos; a repetição de informações falsas causam danos irreversíveis, pois as fazem parecer verdades; e os modelos de negócio que priorizam a quantidade de usuários em detrimento da qualidade das notícias.
Almeida apresentou gráficos surpreendentes, que mostram que as notícias falsas circulam mais rápido e atingem mais pessoas do que informações verdadeiras. “Isto porque notícias falsas geralmente são negativas e causam espanto, o que torna quem as veicula um ‘líder’ a ser seguido. Além disso, perfis e conteúdos falsos vêm sendo ‘profissionalizados’, para cada vez mais terem aparência de realidade”, afirmou.
As políticas para enfrentar este mal contemporâneo, então, deveriam focar no estímulo à mudança de comportamento dos usuários das mídias sociais. Se todos são “jornalistas”, então devem passar a checar os fatos, da mesma forma que fazem – ou deveriam fazer – os profissionais do ramo. Para além disso, segundo Virgílio Almeida, serão necessárias décadas de avanços na inteligência artificial e na automação para a detecção ágil e correta de notícias falsas.
Corremos grave risco, portanto, de uma epidemia incontrolável de notícias falsas e uma consequente morte da verdade. “O enfrentamento desta questão vai requerer muita pesquisa interdisciplinar e foco nas patologias subjacentes que a disseminação de notícias falsas está revelando”, concluiu.
Os novos membros
Em seguida, apresentaram suas pesquisas os cinco novos membros afiliados da ABC. As palestras foram seguidas da cerimônia de diplomação, que contou com a participação do Pró-reitor de Pesquisa da UFPE, Ernani Rodrigues de Carvalho Neto, para a entrega dos diplomas, assim como do Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da UFC e Acadêmico Antonio Gomes de Souza Filho.
O ex-afiliado da ABC Edilson Lucena Falcão Filho, da UFPE (foto à esquerda), saudou os novos membros. Ele parabenizou os novos membros, que ali estavam por merecimento. “Esse é o cerne da ABC”, acentuou.
Para Edilson, os cinco anos que passou afiliado à ABC – 2012 a 2017 – foram muito ricos e deixaram saudade. “A ABC propicia um ambiente multidisciplinar único. Só na Academia vocês terão essa oportunidade de interação, espaço para discutir políticas de ciência, tecnologia e inovação. E isso é muito importante, porque nosso país não é para amadores”, pontuou.
Ele contou que sua afiliação à ABC lhe abriu portas e rendeu diversos projetos. “Me aproximei da Global Young Academy e de outras instituições parceiras da ABC”, relatou. E para concluir, fez um apelo: “Perseverem. Não há tempestade que dure para sempre.”
Em nome dos diplomados, proferiu os agradecimentos Thiago Cabral – primeiro membro da Academia, entre afiliados e titulares, oriundo de uma universidade do Espírito Santo.
Conheça os jovens cientistas de excelência diplomados na ocasião:
Transmitindo os sinais para a matemática
Engenheiro e professor da UFC, o novo afiliado da ABC André de Almeida utiliza a álgebra tensorial para representar dados, informação e o sistema de telecomunicações.
Na largada para a criação de novas tecnologias a partir da natureza
Novo membro afiliado da Regional Nordeste e Espírito Santo, o físico Eduardo Girão trabalha na investigação das propriedades de novos materiais utilizando simulações computacionais.
Investigando o espaço-tempo, buracos negros e espaços de Einstein
Pesquisador e professor da UFC, o matemático Ernani Ribeiro Júnior investiga os fenômenos geométricos utilizando ferramentas da matemática analítica e geométrica.
Estudando o conteúdo genético e suas características
Novo membro afiliado da ABC da Regional Nordeste e Espírito Santo, o biólogo Luis Gustavo Carvalho Pacheco atua nas áreas de genômica funcional, expressão gênica e biologia sintética.
Esperança para doenças genéticas do olho humano até então irreversíveis
O novo afiliado da Regional Nordeste e Espírito Santo da ABC Thiago Cabral é médico, doutor em oftalmologia e se dedica à investigação de doenças genéticas da retina.
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