Na manhã de 14 de agosto, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) promoveu um evento científico na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no Salão dos Conselhos, para diplomar e assistir as apresentações das pesquisas dos novos membros afiliados da ABC – Regional Sul, eleitos para o período 2018-2022. São eles a astrofísica da UFRGS Ana Chies, o químico da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Daniel Borges, as biólogas Gislaine Réus, da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), e Manuella Kaster, da UFSC, e o biotecnólogo Tiago Collares, da Universidade Federal de Pelotas (UFPe)l.

Na mesa de abertura estavam o presidente da ABC, Luiz Davidovich; o vice-presidente da Regional Sul, João Batista Calixto; o reitor da UFRGS, Rui Vicente Oppermann; o pró-reitor de Pesquisa, Luís da Cunha Lamb; o presidente da Embrapii e Acadêmico Jorge Guimarães.

Luís da Cunha Lamb, Rui Vicente Oppermann, Luiz Davidovich, João Batista Calixto e Jorge Guimarães

Na plateia estavam os Acadêmicos João Antônio Pêgas Henriques e Mara Helena Hutz. Também prestigiou o encontro o reitor da UFPel, Pedro Rodrigues Curi Hallal, que foi membro afiliado da ABC entre 2008 e 2012.

O presidente da ABC abriu a cerimônia cumprimentando os presentes e seus companheiros de mesa, destacando a atuação heroica de Jorge Guimarães à frente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) por 11 anos e desde 2015 como diretor-presidente a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).

Ele explicou aos novos membros que a ABC elabora estudos científicos com recomendações para diversas áreas da sociedade. Destacou o livreto “Subsídios para a Reforma da Educação Superior”, que influenciou a criação de novas universidades com perfil diferenciado na Bahia e em São Paulo, assim como o documento “Amazônia: Desafio Brasileiro para o Século XXI”, que contribuiu com propostas inovadoras para o desenvolvimento sustentável da região, que agora estão incluídas até no discurso de políticos.

Política suicida: corte em CTI impede crescimento do PIB

As perspectivas para o país, na visão de Davidovich, podem ser muito positivas se houver vontade política de superar a crise usando ciência e tecnologia. “O desmatamento pode ser evitado pelo uso sustentável da biodiversidade. Um país que detém 20 % da biodiversidade do mundo em seus vários biomas tem, obviamente, grande vocação para uma bioeconomia sustentável apontou o presidente da ABC. Só que, para tanto, é preciso construir uma nova estrutura econômica. “Ora, para reduzir a razão entre a dívida pública e o PIB existem duas formas: reduzindo gastos ou aumentando o PIB. A opção do governo é perversa quando corta gastos indiscriminadamente, porque cortar em ciência, tecnologia, inovação e educação impede o crescimento do país, ou seja, impede o crescimento do PIB”, arrematou.

Diante da situação catastrófica do país em relação ao financiamento de ciência e tecnologia, Davidovich declarou sua alegria em estar ali, numa atividade prazerosa que envolve ciência de qualidade e mérito científico. “Aqui está a esperança: jovens pesquisadores de excelência, líderes de pesquisa nas suas áreas, aqueles que garantirão o futuro da ciência e, portanto, do desenvolvimento no Brasil”.

O pró-reitor Lamb agradeceu a grande honra de receber a cerimônia na UFRGS. “Dentre os 100 artigos brasileiros mais citados internacionalmente, nove são da UFRGS. Isso demonstra o valor que nossa universidade sempre deu à pesquisa de ponta”, ressaltou. Lamb parabenizou os novos membros afiliados da ABC. “Estes jovens provam que, apesar de tudo, é possível fazer ciência de altíssima qualidade no Brasil”.

Jorge Guimarães agradeceu o convite para integrar a mesa de uma cerimônia que destaca “os jovens nos quais depositamos toda a esperança de sair dessa situação crítica e avançar em ciência, tecnologia e inovação nesse país.” Ele apontou a importância de que a Emenda Constitucional (EC) 95 seja derrubada, no que tange ao corte de recursos para ciência, tecnologia, inovação (CT&I) e educação. “Temos que comprometer os candidatos a cargos políticos com a exclusão de CTI e educação desta Emenda, de modo a garantir o futuro do país”, alertou.

Estado tem que se fazer presente investindo no futuro sustentável do país

O reitor Opperman salientou a aproximação estratégica e histórica que promoveu quando estava na diretoria da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), com a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). “Estas entidades se fazem representar em todos os espaços da política nacional. Essa posição ativa em todos as instâncias reflete a liderança da ABC e do seu presidente Luiz Davidovich. Há um consenso de que a palavra da ABC, SBPC e Andifes, entre outras, representa a voz da comunidade científica brasileira”, afirmou.

Sobre a situação orçamentária crítica da ciência no país e da sua universidade, especificamente, Opperman ponderou que nem valia a pena falar. “Hoje o mais fundamental é o reconhecimento do valor de jovens pesquisadores que são e serão líderes da ciência brasileira. Isso é o que vai ser útil para enfrentar o grande desafio de superar essa crise e avançar. “Temos destaques no país de ciência de qualidade internacional e de avanços tecnológicos de ponta. Está aí a Embrapii que integra academia e empresa e incentiva o desenvolvimento da inovação e a aplicação da inteligência brasileira”, apontou o reitor.

Segundo ele, muitos candidatos se comprometeram com a revogação da Emenda Constitucional (EC) 95. “Mas isso é a ponta do iceberg do modelo neoliberal de desenvolvimento desse governo que está aí e na pauta dos candidatos, que envolve a desconstrução do Estado hegemônico. Então a revogação da EC 95 sozinha não garante que o Estado esteja forte e presente, investindo no desenvolvimento sustentável do país”, alertou. Opperman acrescentou que a ocasião caracterizava bem os excelentes resultados do investimento em educação superior de qualidade nas últimas décadas: “Este é o produto – a excelência científica desses jovens diplomados aqui hoje.”

Jovens cientistas garantem a continuidade da luta pela ciência brasileira

Responsável pelo processo eleitoral que define os agraciados com o título de membro afiliado da ABC, João Batista Calixto dirigiu-se aos novos membros: “Vocês foram escolhidos entre mais de 30 candidatos por 55 membros titulares da região Sul. Então vocês cinco certamente têm grande mérito e vamos ver a qualidade das pesquisas nas suas apresentações. Isso dá um alento, ver jovens pesquisadores na ponta do conhecimento, em várias áreas, em todo o país. Essas são as cerimônias mais felizes da academia. Parabéns.”

Davidovich dirigiu-se então aos jovens Acadêmicos. “Eu costumo dizer que a ABC é um centro de pensamento do país, é um lugar interessante para isso, porque reúne cientistas excelentes de todas as áreas e de todo o país. Temos várias publicações de alto nível elaboradas por estes cientistas, disponíveis gratuitamente no site da ABC. Eu os convoco a participar das reuniões, dos grupos de estudo da ABC e contribuir com propostas transformadoras da situação atual do país.”

Ele entregou as mais novas publicações da ABC sobre Ensino Superior e Ensino Médio ao reitor e ao pró-reitor da UFRGS, dando então sequência ao evento, com a palestra do Acadêmico Diogo Onofre Gomes de Souza, intitulada “A neurociência no processo de avaliação em sala de aula”.

Após a palestra, os novos membros afiliados apresentaram suas pesquisas e receberam seus diplomas. A nova afiliada Gislaine Réus, de Santa Catarina, não pode comparecer por questões de saúde.

Daniel Borges (UFSC), Manuella Kaster (UFSC), Ana Chies (UFRGS) e Tiago Collares (UFPel)


Conheça os novos membros nas matérias abaixo.

 

Analisando galáxias e divulgando a ciência
A astrofísica da UFRGS Ana Chies dedica-se ao estudo da formação e evolução das galáxias.

Analisando os elementos químicos e entendendo os porquês
O químico Daniel Borges desenvolve na UFSC métodos aplicáveis na classificação de resíduos sólidos, na investigação de poluentes atmosféricos e na análise de alimentos, dentre outros.

Agregando o olhar da neurobiologia sobre a depressão
A bióloga da Unesc Gislaine Réus busca novas estratégias para o tratamento da depressão.

Aplicando a bioquímica no diagnóstico dos transtornos psiquiátricos
A bióloga da UFSC Manuella Kaster busca novas formas de diagnosticar e tratar a depressão e outros transtornos psiquiátricos.

Da multidisciplinaridade aos desafios de impacto científico
Biólogo, veterinário e biotecnólogo, Tiago Collares trabalha na UFPel com sistemas de triagem celular in vitro que podem auxiliar no combate ao câncer.